segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A FESTA DO NATAL



Continuação  -  4

O nascimento de Jesus deve ser compreendido nos três mundos, isto é, como um fenómeno histórico, como um fenómeno psíquico, místico, e, finalmente, como um fenómeno cósmico.
Hoje, é sobretudo o fenómeno místico que me interessa abordar.
São Lucas era o mais instruído dos evangelistas, o mais erudito, e ele começa o seu Evangelho dizendo: «...Decidi, após ter-me informado cuidadosamente de tudo desde as origens, escrever também eu para ti, a exposição que se segue.»
Portanto, ele não tinha sido testemunha dos acontecimentos como os outros, mas empreendeu pesquisas, e no seu relato do nascimento de Jesus reteve apenas as imagens dos acontecimentos que se repetem na alma de cada ser humano.
É sobre essas imagens que agora vamos debruçar-nos.
Para que o Menino Jesus nasça é preciso que haja um pai e uma mãe.
O pai, José, é o intelecto, o espírito do homem.
A mãe, Maria, é o coração, a alma.
Quando o coração e a alma estão purificados, a criança nasce; mas ela não nasce do intelecto e do espírito, nasce da Alma Universal, que não é senão o Espírito Santo sob a forma de fogo, de amor divino... uma chama pura que vem fecundar a alma e o coração do ser humano.
A alma e o coração representam o princípio feminino, receptivo, ao passo que o intelecto e o espírito representam o princípio masculino que prepara as condições para que o Espírito Santo, isto é, a Alma Universal, que é fogo, tome posse da alma de Maria.
É nesta altura que nasce o Menino Cristo.
Mas como o nascimento é um fenómeno que deve produzir-se nos três mundos, é preciso que o Menino nasça também no plano físico.
Como vedes, é uma questão mais complexa do que aquilo que vós imaginais.
Quando Maria e José quiseram procurar abrigo numa hospedaria, já não havia lugar para eles; isto é, os humanos que estão ocupados com comidas, bebidas e divertimentos, nunca têm lugar para o Iniciado que recebeu o Menino.
Esse Menino divino, que já foi concebido nele como uma luz, pode ser um ideal, uma ideia que ele alimenta, que preza muito, mas para onde é que há-de ir com este Menino?
Ninguém lhe abre a porta, ninguém o compreende.
Este estábulo com a manjedoura, é um símbolo e, em primeiro lugar, é o símbolo da pobreza, da dificuldade das condições exteriores.
Sim, ao homem em quem o Espírito habita acontecerá sempre isto: os humanos não terão nenhum apreço por ele, não o receberão.
Mas, graças à luz que ele projectará acima da manjedoura, haverá outros que o verão de longe e que virão visitá-lo.
Esta luz representada pela estrela de cinco pontas, é uma realidade absoluta.
Ela brilha por cima de todos os Iniciados cujo princípio feminino, isto é, a alma e o coração, deu à luz o Menino Jesus concebido pelo Espírito Santo.
E, nessa altura, o intelecto, José, em vez de ficar com ciúmes e de repudiar Maria como um homem grosseiro, gritando: «Essa criança que trouxeste ao mundo não é minha!... Desaparece!», deve inclinar-se e dizer: «Foi Deus que aflorou o coração e a alma de Maria; eu não conseguiria fazê-lo.»
Portanto, o intelecto não deve revoltar-se e ficar colérico, mas compreender correctamente, dizendo: «Há aqui qualquer coisa que me ultrapassa», e proteger Maria.
Repudiar Maria é repudiar metade do nosso ser e tornar-se como aquelas pessoas puramente intelectuais e racionalistas que baniram de si mesmas o lado afectivo, receptivo, todas as qualidades de doçura, de humildade, de bondade.
Muitos repudiaram Maria por ela gostar de receber o Espírito Santo.
É necessário que compreendais que Maria e José são símbolos da vida interior: aqueles que repudiaram Maria secaram-se a si mesmos e mais não têm do que o intelecto, que divide, que critica, que está sempre descontente.
Mas, como vedes, José, pelo contrário, respeitou e protegeu Maria.
Ele disse: «Oh! Ela está grávida; eu quero protegê-la porque ela necessita do meu auxílio.»


Continua

MESTRE  OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

em  "O Natal e a Páscoa na tradição iniciática"

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