Brochura Nº. 2 (Continuação - 3)
Conferência improvisada
E então, onde é que está o homem?
Em toda a parte...
Direis vós: «Até mesmo no corpo.»
Sim, até mesmo no corpo.
Se ele se identifica com o corpo, tal como o homem vulgar que se identifica sempre ao seu ventre, ao seu estômago, ao seu sexo, o homem é o corpo.
É evidente que, na realidade, o corpo não é o homem, é o seu instrumento, a sua vestimenta.
Podeis ter as pernas cortadas, os braços cortados e outras coisas cortadas que continuais a existir e sentis que não sois nem as pernas, nem os braços nem todo o resto.
E será que o homem também está na alma?
Sim, com certeza, e em maior parte, mas não completamente.
O homem não é nem o corpo nem a alma; ele é espírito e a sua verdadeira morada é o espírito.
E o que é que ele faz com a sua alma?
Manifesta-se através dela.
A alma é para o homem, como que um corpo superior, um outro corpo mais luminoso, que um dia, se desagregará também, e então o homem viverá no seu espírito.
Quando se diz que a alma do homem é imortal, na realidade está a falar-se da sua alma superior, quer dizer, do seu espírito; mas a sua alma inferior esboroar-se-á porque é mortal.
Sim, a alma vulgar do homem é mortal, mas a sua alma espiritual, que é o seu espírito, é imortal, e é lá que um dia ele viverá.
Portanto, o homem deve aprender a não se confundir com tudo o que não é ele.
Por intermédio das suas meditações, dos seus estudos, das suas observações, das suas análises, ele deve trabalhar no sentido de procurar encontrar-se.
Porquê?
Porque quando se está perdido, quando se anda ao acaso, não se tem força, nem poder, nem consciência, nem saber.
Pouco a pouco os humanos foram descendo de nível, dispersaram-se, perderam-se nas brumas da matéria, e já não conseguem reencontrar-se, já não se reconhecem.
É por esta razão que, nas Iniciações antigas, a tarefa mais importante que se dava ao discípulo era a de se reencontrar, de se conhecer.
No frontão do templo de Delfos estava inscrito: «Conhece-te a ti mesmo»; mas poucos pensadores compreenderam este preceito.
Julga-se que conhecer-se significa conhecer o seu carácter, as suas fraquezas, as suas qualidades.
Não, é algo mais.
Se fosse somente isto, jamais o teriam inscrito num templo!
Conhecer-se dessa forma é demasiado fácil.
O verdadeiro conhecimento iniciático é a fusão, é fundir-se através de um acto de amor, tal como se diz na Bíblia quando se refere que Adão conheceu Eva ou que Abraão conheceu Sara.
O verdadeiro conhecimento é a fusão.
Ao dizer: «Conhece-te a ti mesmo», os Iniciados queriam dizer: «Vós não sois aquilo que pensais.
Conhecer-se é identificar-se, fundir-se consigo próprio, esse Eu superior que está lá no Alto, na região do espírito.
Abandonai tudo aquilo que não passa de envelopes, de ouropéis, de ilusões, e ide cada vez mais alto até que vos torneis espírito.»
Conhecer-se, é isto.
Eis um aspecto do símbolo da serpente que morde a própria cauda; aliás, uma ínfima parte.
O resto não vo-lo revelarei.
Continua
Sem comentários:
Enviar um comentário