O INFINITO DO MUNDO SUPERIOR
Conferência improvisada
Bonfin, 3 de Setembro de 1968
A questão da personalidade e da individualidade é um problema para toda a vida, e não só para toda a vida mas para numerosas reencarnações.
Poucas pessoas sabem o que são a personalidade e a individualidade, a sua natureza inferior e a sua natureza superior, e ignoram que estão situadas entre ambas, que andam de uma para outra e que precisamente quando se julgam bem inspiradas, no fundo estão a ser aconselhadas, atraídas e convencidas pela sua personalidade, que as arrasta para as maiores infelicidades.
A individualidade, a natureza divina, a maravilhosa natureza que existe no homem, tenta frequentemente preveni-lo dos resultados, das consequências dos seus actos e dos acidentes que o ameaçam, mas raramente ele a escuta, e muitas vezes ainda lhe diz: «Cala-te, tu nada sabes, nada vês e não compreendes coisa nenhuma!»
Eis por que o primeiro trabalho consiste em a pessoa conseguir observar-se continuamente: perante cada ideia, cada desejo, cada decisão, cada tarefa, estar sempre a rever, a observar, a analisar, para conhecer a sua natureza; sim, saber sempre a natureza, a qualidade daquilo que vem, dessas propostas, desses conselhos, dessas sugestões.
Infelizmente, muito poucos estão habituados a fazer esse esforço; os outros deixam-se arrastar, sucumbem, trilham os carris da personalidade e, em seguida são assaltados pelo remorso, pelo desgosto e pelas desilusões.
Se pudésseis penetrar no coração dos humanos ou receber as suas confissões, ficaríeis assombrados!
Eu fico muitas vezes horrorizado com tudo o que me vêm contar, e daí concluo que os humanos não têm a noção justa acerca deles próprios, acerca das duas naturezas que neles se manifestam; eles não as distinguem.
Quando as pessoas têm desejos inferiores, pensam que se os satisfizerem serão elas próprias a tirar proveito do caso.
De modo nenhum!
É para os outros que estão a trabalhar, mas só se apercebem disso no fim, quando se sentem empobrecidas, enfraquecidas, vazias.
Com efeito, existem creaturas, entidades invisíveis que o homem não conhece e que estão constantemente a alimentar-se à sua custa.
No dia em que ele se aperceber disso, compreenderá que durante toda a sua vida esteve a trabalhar para os outros e não para ele próprio, quer dizer, para essa parte dele próprio que deve continuamente enriquecer-se, crescer, expandir-se.
E quem serão esses «outros»?
Isso demoraria muito a explicar-vos: existem tantas entidades que têm interesse em beber, em se alimentar, em se enriquecer à nossa conta!
Gerações inteiras trabalharam para as satisfazer e agora ficámos com uma herança, arrastamos connosco muitas dessas forças, dessas creaturas que, sem o sabermos, se aproveitam do nosso trabalho enquanto nós pensamos que estamos a trabalhar para nós.
Se um dia pudéssemos ter essa revelação, essa luz, essa consciência, negar-nos-íamos a trabalhar para elas...
Existem também, em contrapartida, outras creaturas do mundo invisível para as quais podemos trabalhar sem deixarmos de ser nós próprios a ganhar, porque cada um dos nossos esforços para as contentar e satisfazer faz aumentar o nosso património, a nossa riqueza, a nossa força.
Aqueles que se observam convenientemente, podem constatá-lo de imediato: eles experimentam toda a espécie de desejos, que satisfazem, e dão-se conta que em relação a alguns desses desejos não são eles que beneficiam, porque não ficam nem mais lúcidos, nem mais sossegados, nem mais fortes, nem mais seguros, antes pelo contrário; o que prova bem que outros houve que beneficiaram em vez deles.
E se nós fôssemos clrividentes, o que é que não veríamos!
São milhões e milhões aqueles para quem nós trabalhamos, e que nos tiram as nossas forças e as nossas energias...
Uma vez, como já vos contei, estive com um escritor que se julgava muito inteligente, muito capaz, porque escrevia alguns romances.
Eu expliquei-lhe esta questão dos dois aspectos da natureza humana, e quando ele ouviu dizer que no mundo invisível existem creaturas que nos exploram, que se servem de nós, exactamente como nós exploramos os animais, ficou furioso, indignado: «Como?! Fazerem-nos semelhante coisa! Ficam com a nossa pele, a nossa gordura e tudo?»
Olhei para ele, pensando que para um escritot ele não era suficientemente perspicaz para compreender que aquilo que nós fazemos com os animais, podem os outros fazê-lo connosco.
Os homens fazem os animais trabalhar, arrancam-lhes as peles e vendem a sua carne sem nunca se preocuparem em saber se aquilo que estão a fazer é injusto e cruel.
Se perguntássemos a opinião aos animais, eles exprimiriam certamente o quanto os homens são impiedosos.
Mas os humanos acham que é normal.
Então, porque não existirão outros seres que agem connosco da mesma maneira?
É lógico!
Eles utilizam-nos: dão-nos um pouco de alimento e depois impelem-nos a trabalhar nos seus campos, nos seus projectos, e no fim, esquartejam-nos e transformam-nos em presuntos e em chouriços com os quais se regalam.
Continua
A CHAVE ESSENCIAL
para resolver os problemas da existência
Obras completas - Volume II
Edições Prosveta
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