O pensamento atravessa as paredes e os objectos sem deixar marcas, e para que ele aja sobre a matéria há que construir pontes, ou seja, uma série de intermediários.
Fazei-o passar por esses intermediários e vereis como ele é capaz de abalar o Universo.
É esse o sentido da frase de Arquimedes: «Dêem-me uma alavanca e eu levantarei a terra!»
A alavanca é o intermediário.
É sempre necessário um intermediário, e o pensamento só se torna poderoso e só age quando passa por intermediários que lhe permitam descer até à matéria.
Vós tendes ideias e elas são magníficas, divinas até, mas será que tendes verdadeiramente, resultados?...
Não?
Isso prova que deveis continuar a trabalhar para fazer descer essas ideias até ao plano físico.
Pois é, aqui é que está o busílis, é preciso fazê-las descer.
Vós dizeis: «Eu tenho ideias».
Bravo, está muito bem, mas essas ideias deixar-vos-ão morrer de fome e de sede se não souberdes concretizá-las em acções.
Não basta ter ideias.
Muitas pessoas têm ideias, mas vivem de tal maneira que não existe nenhuma comunicação entre as suas ideias e os seus actos.
É necessário um intermediário, uma ponte; e esse intermediário é o sentimento.
Através do sentimento, as ideias ganham carne e osso e vêm agir sobre a matéria.
O sentimento é pois, a alavanca capaz de agir sobre a matéria.
O pensamento, demasiado longínquo, demasiado subtil, passa sem poder tocar nem fazer vibrar.
Ele só pode tocar as nossas «antenas», os nossos aparelhos mais subtis, que estão situados muito alto, no domínio do espírito.
Para atingir a matéria, o espírito tem de passar através da alma, quer dizer, através do intelecto e do coração.
Eu posso explicar-vos isto, por analogia, com a ajuda de um fenómeno que todos vós conheceis: a acção do sol sobre o ar, a água e a terra.
O sol aquece o ar e o vapor de água que constituem a atmosfera; o ar quente tende a elevar-se, criando zonas de baixa pressão, enquanto o ar frio se comprime, se acumula contra o solo, criando zonas de alta pressão.
Então circulam ventos das altas para as baixas pressões.
Quando a diferença de pressão se acentua, os ventos tornam-se muito violentos, podendo até produzir-se tornados e furacões devastadores.
Além disso, sob o efeito do calor do sol, a água dos oceanos, dos mares, dos lagos e dos rios evapora-se e sobe.
Quando o ar atinge um estado de saturação, o vapor de água transforma-se em chuva ou em neve, e os aguaceiros e as torrentes agem sobre a terra modelando o relevo.
Estes fenómenos atmosféricos produzem-se todos os dias em toda a superfície da terra.
E a sua causa é o sol.
Em nós, o sol corresponde ao espírito, o ar ao pensamento, a água ao sentimento e a terra ao corpo físico.
Quando o espírito age sobre o pensamento, este, por sua vez, arrasta o sentimento, o qual se lança sobre o corpo físico para o fazer correr, gesticular, falar.
Logo, o corpo físico move-se sob o efeito do sentimento, o sentimento é desperto pelo pensamento e o pensamento nasce sob a influência do espírito...
Este mecanismo produz-se todos os dias perante os nossos olhos: sob a influência do ar, a água modela a terra, dá-lhe forma, esculpe-a.
Certos locais atulham-se por aluvião, outros desfazem-se e são levados pelo mar, e assim por diante...
Da mesma forma, pelo espírito, pelo seu pensamento, o homem pode agir sobre o corpo físico, mas só se puser o ar e a água entre os dois.
O ar representa aqui o sistema nervoso e a água representa o sangue.
O sistema nervoso regula a circulação do sangue no organismo e o sangue deposita certos elementos e retira outros, moldando assim o corpo físico.
Podemos estudar este assunto de maneira mais detalhada, mas hoje eu indico-vos apenas algumas grandes linhas.
O que me interessa é a ideia geral, e dela podemos tirar a seguinte conclusão: se o ser humano soubesse interpretar e aplicar, na sua vida interior, este processo natural, da acção do sol sobre a terra por intermédio do ar e da água, poderia operar grandes transformações em si e à sua volta.
É nisto que consiste o poder do pensamento!
Continua
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