quarta-feira, 20 de maio de 2015

PERSONALIDADE E INDIVIDUALIDADE (Cont. IV)

OS  LIMITES  DO  MUNDO  INFERIOR,
O  INFINITO  DO  MUNDO  SUPERIOR

                                  Conferência improvisada

...
Como vedes, há ainda muitas coisas a dizer a propósito da personalidade.
O ponto mais importante, convém saber, é que a personalidade está muito estreitamente ligada ao mundo subterrâneo: está próxima dele, convive e entra muito frequentemente em contacto com ele.
E neste mundo subterrâneo, bem entendido, existem sres magníficos que lá habitam, excelentes operários, e até devas, mas na sua maioria são creaturas pouco evoluídas, obscuras e egoístas, e como a personalidade está em contacto com elas, as pessoas que seguem os seus conselhos e satisfazem os seus caprichos recebem as más influências destas creaturas.
Aí está porque não se deve seguir a personalidade: porque o que ela nos sugere nunca é nobre, desinteressado, generoso; ela é sempre calculista, puxa sempre para o seu lado.
Todos os que adoptam a filosofia ditada pela personalidade, não podem enaltecer-se, não podem libertar-se para se lançarem no espaço infinito: são como prisioneiros carregados de pesos e de grilhões.
Sim, muito simplesmente porque eles tomaram a personalidade como guia.
Não conhecem outro.
E, no entanto, existe um outro guia dentro deles.
Enquanto o homem seguir os conselhos da personalidade - tomar para si, receber sempre, sem nunca dar -, ele carrega-se de grilhões, e mesmo se um dia os grandes Mestres, os maiores Iniciados, se apresentarem para o convidar a segui-los, ele dirá: «Não posso, não posso, estou demasiado preso, agarrado, enredado!» e não os seguirá, permanecerá escravo até ao dia em que desaparecerá da circulação para se tornar em adubo químico.

Devo agora, acrescentar que nós não devemos anular a personalidade sob pretexto de nos libertarmos.
Ela existe para nos dar as matérias necessárias ao nosso trabalho sobre a Terra; ela é, se preferis, uma velha avó muito rica, e nós podemos usufruir dos seus tesouros, mas sem seguir os seus conselhos nem tomá-la como guia.
Deveis pô-la a trabalhar: como operária ela fará grandes coisas, porque é ela que possui a chave dos armários, da dispensa, etc. ...
Não devemos matá-la, devemos dominá-la, torná-la obediente.
O homem ignora que está sob um regime de escravatura, imagina que é ele quem manda; não, está enganado, é a personalidade que manda e ele é seu escravo.
Mas como ele não é ainda capaz de fazer esta análise, continua a enterrar-se cada vez mais e acha-se limitado e acorrentado.
Quantas vezes não constatei eu tudo isto!
Até o estudei sobre a minha pessoa...
Sim, donde pensais vós que eu extraio todos estes conhecimentos a não ser de mim próprio, graças ao hábito que possuo de decifrar, de analisar, de observar até ao mínimo pormenor aquilo que se passa em mim?...
Mas, para se aprender alguma coisa não vale a pena ir fazer, como toda a gente, experiências bastante arrojadas em certos domínios, porque arriscamo-nos a perder-nos e a descobrir as regiões subterrâneas, o Inferno.
A juventude não pensa senão em empreender as experiências mais custosas e menos belas, quando existem outras tão magníficas!
Mas onde estão os candidatos para estas experiências?

Aquilo que é negativo, pernicioso, viciante, impúdico, toda a gente está de acordo em o ir verificar.
Mas se ao menos o verificassem de longe, tocando-o ao de leve e contentando-se com este pouco para extrair as suas conclusões, eu compreenderia...
Mas não, levam a experiência a fundo e não uma única vez, mas dez, cem vezes, sem pensar que nada mais lhes restará para o dia em que quiserem tentar outras experiências.
Pois, admiti que alguém, após ter entrado em toda a espécie de folias, se decide a tentar experiências celestes, admiti que esse alguém quer conhecer a imensidão, o esplendor, a beleza, a luz...
Pois bem, nada a fazer; ele já não terá nem condições, nem meios, nem possibilidades, porque foi tudo gasto, está tudo estragado, já não há forças e a pessoa deve preparar-se para partir para o outro lado.
Uma vez que tudo tenha sido esbanjado, meus queridos irmãos e irmãs, não se poderão fazer experiências divinas.
Imaginar que é possível, equivale a não conhecer nada de psicologia, de biologia, da vida.
Está-se na falência, na bancarrota, e ainda se imagina que se pode ir fazer experiências celestes com a mesma frescura, a mesma intensidade, a mesma força, a mesma flexibilidade!
Está-se completamente sujo, podre e pensa-se ir percorrer os céus?
Mas que ignorância!
Nunca ninguém o conseguiu e somente aqueles que apenas tocaram ao de leve esse mundo subterrâneo e que não se enterraram completamente, só esses, sim, é que podem restabelecer a corrente, voltar a subir a encosta e reparar os seus erros.
Mas àqueles que querem ir até ao fundo das experiências mais grosseiras, eu costumo dizer: «Ide, se quiserdes! Tenho curiosidade em ver o que é que fareis depois.»
Nada!
Eles nada poderão fazer; para eles estará tudo acabado, tudo perdido.

Continua


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