Portanto, todos os estados de consciência imperfeitos que atravessais - as apreensões, os medos, etc. -, apesar de dizerem respeito ao futuro, na realidade pertencem ao passado, pois o passado é precisamente a desordem, o vício, a doença e a animalidade.
O futuro, pelo contrário, é o melhoramento, o aperfeiçoamento, pois todos nós caminhamos para a perfeição.
Enquanto projectardes a imperfeição de ontem nos dias que estão para vir continuareis a reproduzir, a repetir, o velho passado, e o vosso futuro não será mais do que os restos desse passado que projectastes para a frente.
É certo que é uma projecção no futuro, mas de tudo o que é vicioso e carunchoso.
Ao passo que se projectardes tudo o que é belo, luminoso e perfeito, estareis já a viver o verdadeiro futuro que vos espera.
Esse futuro é já uma realidade, dado que vós o viveis.
Sentir no presente coisas que ainda não se realizaram prova que elas são já reais numa outra forma, não no plano físico, mas no plano do pensamento, o que já é formidável.
Eis, pois, o que deveis aprender a fazer; exercitai-vos nesse sentido e vereis que já não podereis viver a mesma vida que no passado, será impossível.
É uma bênção para vós conhecer estas verdades, pois daqui em diante, ricos e munidos dia a dia de novos conhecimentos, podereis formar para vós um futuro que será totalmente diferente do passado.
Isto é certo, matemático e absoluto, como o são as grandes leis universais.
Só vos resta lançar-vos neste trabalho espiritual.
A primeira tarefa é começar a vigiar os vossos pensamentos.
O que quer que façais, lançai uma olhadela para o vosso foro interior a fim de saberdes o que faz o pensamento, por onde é que ele anda.
Estar sempre vigilante, lúcido, consciente...
Quantas vezes perguntei eu a diferentes pessoas: «Em que está a pensar?»
E elas não sabiam responder, nunca tinham prestado atenção a isso.
É extraordinário!
Estão todo o dia a pensar e nem sequer sabem em que é que pensam!
Nestas condições, como quereis vós que elas sejam capazes de dominar as forças instintivas, de as orientar, de as concentrar e de as utilizar?
É absolutamente impossível.
Se deixardes entrar em vós seja o que for, inconscientemente e sem nenhum controlo, um dia essas forças acabarão por dominar-vos.
Para vos tornardes senhores delas tendes de começar por controlar a situação, ou seja, por estar sempre conscientes dos pensamentos e dos sentimentos que vos atravessam.
Eis a maior qualidade de um discípulo: estar sempre consciente e saber, em qualquer momento, a natureza das correntes que o atravessam; assim que lhe surge um pensamento ou um sentimento negativo, ele detém-no e substitui-o ou transforma-o.
É este o primeiro trabalho: dominar, orientar e controlar tudo o que se passa em nós.
Fixai bem isto, porque é absoluto.
A verdadeira Ciência Iniciática começa por isto: nunca deixar que se produza um acontecimento interior, um fenómeno psíquico ou uma emoção sem se dar conta disso.
A maioria das pessoas só toma consciência da sua vida interior quando passa por tragédias ou catástrofes.
Nessas alturas sim, as pessoas sentem que nelas se passa algo terrível.
Mas quando os acontecimentos são menos marcantes, não têm consciência deles; e assim deixam acumular dentro de si elementos negativos, que pouco a pouco as vão destruindo, e quando se apercebem disso já é demasiado tarde para remediar a situação.
Portanto, como vedes, a vossa primeira tarefa é estar lúcidos e vigiar o que se passa dentro de vós e, mal apareça um elemento negativo, fazer o possível por lhe dar remédio: é deste modo que podereis adquirir os verdadeiros poderes.
A base de todos os poderes reside na capacidade de auto-observação.
E isso não impede a actividade, o trabalho, a criação.
Algumas pessoas imaginam que se começarem a observar-se e a analisar-se não farão mais nada.
Não, acontece precisamente o contrário, e a análise deve tornar-se um hábito.
Aqueles que imaginam que a sua vida psíquica se organizará por si mesma, sem que eles façam qualquer esforço de análise e de lucidez, terão uma desilusão.
É inútil esperar grandes realizações espirituais se não se tem as qualidades elementares para começar o trabalho.
Continua
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