Agora, não me compreendais mal: não é porque acabais de saber que o vosso marido ou a vossa mulher não é certamente a vossa alma gémea que podeis sentir-vos justificados para o ou a deixar.
Pelo contrário, deveis é pensar que sois como dois associados que têm um trabalho a fazer em conjunto e que é necessário que vos entendais até ao dia em que a morte vos separe.
Do ponto de vista filosófico, pode dizer-se que a nossa alma gémea é nós próprios, o outro polo de nós próprios.
Se nós estamos em baixo, o outro polo está em cima e comunica com o Céu, com os Anjos, com Deus, vive na perfeição e na plenitude.
Por isso, em todas as Iniciações se ensinava os discípulos a unirem-se a esse outro polo.
Na Índia, o Jnani-yoga dá métodos graças aos quais o yogui consegue unir-se ao seu Eu superior, porque é unindo-se ao seu Eu superior que ele se une ao próprio Deus.
Na Grécia, encontra-se a mesma ideia expressa na fórmula inscrita no frontão do Templo de Delfos: «Conhece-te a ti mesmo».
É evidente que conhecer-se não significa conhecer o seu carácter, bom ou mau, com as suas qualidades ou os seus defeitos, não, isso é bastante fácil.
Está escrito no Génesis: «Adão conheceu Eva», e também «Abraão conheceu Sara».
O verdadeiro conhecimento é uma fusão dos dois princípios.
«Conhece-te a ti mesmo» significa: encontra em ti o outro polo e tornar-te-ás uma divindade.
Se sois um homem, o outro polo é uma mulher e conhecê-la-eis como um amante conhece a sua amada; não exactamente da mesma maneira, é evidente, porque esta fusão, este conhecimento, não se realiza no plano físico, mas nas regiões subtis da luz.
Só quando penetrais nesta luz é que vos tornais um com vós mesmos.
Nos Evangelhos, encontra-se este mesmo preceito, expresso de uma forma um pouco diferente: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a tua alma, com todo o teu pensamento e com toda atua força.»
O que subentende que só se pode comunicar com o Senhor através do Eu superior.
É também o que o Cristo queria dizer quando afirmou: «Ninguém pode chegar ao Pai senão através de mim.»
O Cristo é o símbolo do Filho de Deus que está em cada alma como uma centelha oculta.
Ao ligar-se à sua alma superior, o homem liga-se a este princípio - o Cristo - que está em todo o lado, em todas as almas, e através dele liga-se a Deus.
Só podeis chegar a Deus através do vosso Eu superior, pois é ele que contém tudo aquilo que representa o que de melhor e de mais puro existe em vós.
Por isso, todas as doutrinas espirituais ensinam como nos afastarmos, pelo pensamento, do mundo físico, material, para nos elevarmos até ao mundo sublime da Divindade, o princípio que é a nossa alma superior.
E, como existe sempre uma polarização, cria-se uma afinidade, uma simpatia, um laço com o princípio complementar, porque o masculino é sempre atraído pelo feminino e o feminino pelo masculino.
Como cada ser possui em si o outro princípio, só pode emcontrar Deus através desse outro princípio.
Por isso, a mulher encontra Deus através do homem, porque o homem representa o outro princípio e este princípio liga-se ao Pai Celeste.
E o homem só pode encontrar a Divindade através do princípio feminino, seja uma mulhar, seja a própria natureza (que é um princípio feminino) ou a Mãe Divina.
Mas sem este princípio feminino não há nenhum entusiasmo, nenhuma inspiração, nenhum trabalho, nada.
E, sem a presença do princípio masculino, o princípio feminino fica informe, inerte, estéril.
Observai como a natureza fez as coisas; vereis como o sol, que é o princípio masculino, projecta a luz e o calor, e todas as coisas são vivificadas.
Continua
Sem comentários:
Enviar um comentário