domingo, 8 de março de 2015

O CASAMENTO (Cont. IV)

 Por isso, eu dou este conselho aos jovens: não vos precipiteis, não tenhais pressa de estragar a vossa vida com o primeiro que aparece.
Estudai, procurai ver esta questão com clareza.
Mas, antes de tudo, procurai ver se esse ser está verdadeiramente preparado para fazer um trabalho convosco e seguir o mesmo caminho, senão passareis a vossa existência a destruir-vos mutuamente.
Examinai bem se estais ambos em perfeita harmonia nos três planos - físico, sentimental e intelectual - ou se somente cedeis à atracção física.
Se tiverdes opiniões divergentes sobre assuntos importantes, não digais: «Oh!, isso não tem importância nenhuma, com o tempo compreender-nos-emos, ajustar-nos-emos.»
Será exactamente ao contrário.
Passado algum tempo, uma vez cansados de certos prazeres e quando o sentimento, por sua vez, estiver enfraquecido, aperceber-vos-eis de que as vossas ideias, as vossas aspirações, os vossos gostos, são demasiado divergentes, e lá vêm as disputas, as desordens e as separações.
A concordância no plano das ideias e dos gostos é muito importante.
A atracção física, mesmo com um pouco de amor, não é suficiente: depressa se fica saciado e insensível.
E se a inteligência dos amantes for pobre e eles não souberem manter uma conversa interessante, sempre renovada, então acabarão por aborrecer-se na presença um do outro.

Há pessoas que não se amam fisicamente, mas que se adoram porque têm sempre mil coisas para dizer, para explicar, para contar uma à outra; é formidável!
O ideal é que exista afinidade nos três planos: que ambos sintam, fisicamente, uma certa atracção um pelo outro; depois, que haja uma concordância no domínio dos sentimentos e dos gostos, porque, se um prefere o barulho e o outro o silêncio, se um gosta de ler e o outro de dançar, se um quer sempre sair e o outro ficar em casa, isso acaba por criar conflitos; finalmente - e isto é o mais importante -, é preciso uma grande comunhão de ideias, de objectivos, de ideal.
Se existir esta harmonia nos três planos, não haverá nada de mais belo, de mais maravilhoso, do que a união destes dois seres, porque ela é uma fonte inesgotável de alegria, de felicidade e de compreensão.

Infelizmente, nem todos os moços e moças têm estes critérios; eles são irreflectidos, demasiado apressados e contam com o acaso dos encontros para arranjar um parceiro. Suponde que estais perante um saco cheio de serpentes, de lagartos, de pombas, de crocodilos, de ratos... e dizeis: «Vou meter ali a minha mão e com certeza apanharei uma pomba.»
Mas, como não olhastes para dentro do saco, quando meteis a mão nele, é uma víbora que vos morde.
É preciso ser ingénuo para acreditar que, por acaso, cegamente, ireis escolher uma pomba, uma rola ou um esquilo.
As pessoas imaginam que a Providência está sempre pronta a priveligiar os cegos, a ajudá-los, a salvá-los.
De maneira nenhuma!
Quando vê cegos, a Providência afasta-se e deixa que o destino se encarregue deles; e o destino - vós sabei-lo bem - procura é fazê-los dar gritos.
Mas, se vê dois seres que se servem dos seus olhos, a Providência diz: «Ah, assim gosto! Vou ajudá-los!»
O mais extraordinário é que certos cegos, depois de terem sido mordidos por uma víbora, procuram novamente a mesma víbora para serem mordidos segunda  vez.
Eu conheci certas mulheres, extremamente obstinadas, que diziam: «Vou recomeçar com o mesmo homem, talvez ele tenha melhorado.»
Mas quem é que já viu uma víbora ou um crocodilo melhorar?

Continua



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