É evidente que a atracção física é importante, mas não é essencial.
Quantas vezes não se viu pessoas com um amor devorador uma pela outra e que, algum tempo depois, se detestavam.
No entanto, fisicamente, eles não tinham mudado...
Por exemplo, um rapaz casa-se com uma moça lindíssima, encantadora, sob todos os pontos de vista, que o fez perder a cabeça.
Mas, algum tempo depois, ele apercebe-se de que ela é leviana, infiel, caprichosa, estúpida, e ama-a cada vez menos; até a sua beleza já não lhe diz nada, tão repugnado ele está com o horror que ela é interiormente.
E o contrário também pode suceder.
Um rapaz conhece uma jovem que não é muito bonita, mas, passado algum tempo, fica maravilhado com a sua rectidão, a sua bondade, a sua paciência, o seu espírito de sacrifício, e tudo isto o conquista cada vez mais.
Todas as outras moças, para ele, ficam ofuscadas por esta que, no entanto, não o atraía.
E isto porque, interiormente, ela é uma maravilha: é fiel, estável, honesta, está sempre pronta a consolá-lo.
Então, para ele o plano físico já não conta, ele adora-a e, quando a apresenta aos seus amigos, talvez estes o lamentem ou o critiquem por ter encontrado uma companheira de aparência tão modesta, mas ele pensa: «Ah, coitados, não sabem que tesouro é a minha mulher!»
Muitos homens casam-se com uma mulher elegante para a passearem em público e a fazerem dar nas vistas.
Toda a gente os felicita sem saber que eles casaram com um diabo que os atormenta e os faz estar em azeite a ferver dia e noite.
Mas é uma bela decoração que eles têm orgulho em mostrar ao mundo, para se sentirem invejados.
Eles sofrem, mas isso não tem importância, pois vão à Ópera, às "soirées", às recepções, para exibir a sua mulher.
Enfim, eles apenas queriam uma jóia...
Mas esta jóia custa-lhes muito caro.
Eu aconselho pois, os rapazes e as moças que querem casar-se a não tomarem uma decisão precipitada, a estudarem primeiro as leis do amor.
Quando tiverem aprendido a amar-se, a preparar-se para ter filhos e para os educar, então poderão decidir-se.
Mas, se se precipitarem, coitados!
É quando já têm filhos, quando aparecem as dificuldades e as doenças, que eles gritam, enlouquecem, vão procurar o médico e leem livros para se instruírem, ao passo que antes se divertiam e diziam: «Oh!, temos muito tempo.»
Não, era antes que deveriam ter-se instruído.
Não deveis precipitar-vos.
Dir-me-eis: «Mas daqui a pouco seremos velhos!»
É preferível casar velho, mas escolher bem.
Para quê fazer as coisas à pressa?
Para envelhecer mais rapidamente à custa do sofrimento?
Aconteceu-me voltar a ver algumas mulheres três ou quatro anos depois do seu casamento.
Os cuidados e os desgostos tinham-nas envelhecido de tal forma que eu já não as reconhecia.
Mas, se encontrardes o príncipe encantado, mesmo na velhice, rejuvenecereis num instante.
Sim, mesmo que o encontreis aos noventa anos, isso não tem importância, tornar-vos.eis tão jovens como aos vinte!
Continua
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