quinta-feira, 5 de março de 2015

O CASAMENTO (Cont.II)

Sob milhões de formas diferentes, é sempre o casamento do espírito com a matéria.
Por isso, quando se fala de "puro espírito", isto é apenas uma forma de expressão, porque um puro espírito não poderia existir no domínio da manifestação, da polarização: ele fundir-se-ia de novo no oceano cósmico.
Para poder manifestar-se, é-lhe necessário um corpo, isto é, um veículo.
Quanto mais sublime é o espírito que se manifesta, mais ténue, subtil e luminoso é o corpo, o veículo, a matéria que o envolve, a ponto de os dois quase se confundirem.
No entanto, o espírito e a matéria são sempre dois polos diferentes, senão toda a manifestação seria impossível: o espírito retornaria à sua origem e a matéria ficaria como poeira sem vida.
O espírito é um princípio subtil, implacável; pode-se compará-lo a um perfume que, se não estiver encerrado num frasco, é tão volátil que se escapa, se evapora.
Evidentemente, o casamento do espírito com a matéria implica um sacrifício: o espírito aceita limitar-se para animar a matéria e a matéria aceita submeter-se a ele para lhe dar filhos.
Para cada um de nós, o verdadeiro casamento é, pois, na realidade, a união do espírito com o corpo físico.
O nosso corpo físico é a nossa mulher e é por seu intermédio que nós fazemos... ou antes, que o nosso espírito faz trocas com o mundo exterior, pode trabalhar sobre a terra, criar, manifestar-se, exprimir-se de todas as formas possíveis.
Quanto ao verdadeiro divórcio, ele é a morte, o instante em que o espírito e a matéria se separam.
Eu queria mostrar-vos a dimensão e a subtileza destes problemas, mas será que acompanhareis o que eu tenho para vos dizer?

Este primeiro casamento com o corpo é já uma grande limitação para o espírito e, se se decide arranjar um marido ou uma mulher exteriores, este segundo casamento diminui ainda mais a liberdade do espírito, porque se é obrigado a fazer todas as vontades ao cônjuge para lhe agradar, para o contentar e, com estas complacências, o espírito enfraquece.
Para mais, a primeira mulher (o corpo físico) protesta, revolta-se e diz: «Estás a cometer adultério, és infiel!» e, muitas vezes, segue-se toda a espécie de perturbações e anomalias, cuja gravidade ainda ninguém viu.
Mas ide dizer aos humanos que nós somos o espírito e que o nosso corpo físico é a nossa mulher!
É uma ideia que eles jamais quererão aceitar.
No entanto, essa é a verdade, e se existem tantos problemas nos casais, na vida em comum, é porque os casamentos, na realidade, são adultérios.
As pessoas casam com alguém exterior a elas e que não lhes convém, ao passo que o verdadeiro casamento, o único casamento legítimo, é a união do nosso espírito com o nosso corpo.
Os que estão conscientes desta realidade preferem não se casar: como o seu espírito já está limitado pela sua primeira mulher, eles não têm qualquer vontade de se carregar com um segundo fardo.
Eles sabem que, se contraírem um segundo casamento, serão obrigados a transgredir muitas leis e a ser infiéis, isto é, a dar à sua segunda mulher todas as energias que deveriam ter guardado para a primeira; portanto, esta ficará periclitante, enfraquecerá, revoltar-se-á e recusará servi-los.
É por esta razão que todos os grandes espíritos que quiseram realizar um trabalho único, imenso, aqueles que quiseram ser livres para fazer o bem a milhares de pessoas em vez de o fazerem a uma só (que aliás, nunca fica reconhecida pois, mesmo que  façais tudo por alguém, essa pessoa continuará a resmungar e a encontrar razões para vos criticar), decidiram preservar o seu tempo, as suas forças, as suas qualidades, para as consagrarem à sua própria mulher que, assim, ficou com melhor saúde, mais bela, mais activa, com mais leveza, mais viva, expressiva e inteligente.

Mas isso não é razão para serdes maus para com a vossa "segunda mulher" ou vos verdes livres dela.
Não, se já casates, se já dissestes «Sim!», se fizestes promessas, deveis cumpri-las.
Não podeis separar-vos da vossa mulher ou do vosso marido sem uma razão grave...
Senão, encontrá-lo-eis numa próxima incarnação e será bem pior.
Há que aprender a libertar-se, claro, mas não rejeitando as responsabilidades que se assumiu.

Bem, isto perturba as vossas ideias, não é?
Saber que todos estais casados... mesmo os solteiros.
Sim, todos nós temos deveres para com a nossa própria mulher, o nosso corpo físico; devemos cuidar dele, alimentá-lo, educá-lo, velar para que esteja sempre limpo e de boa saúde, porque se nos desleixarmos em relação a ele, isso terá repercussões deploráveis.
Estou absolutamente certo de que isto é novo para vós e que nunca encarastes a questão sob este ponto de vista.
Será que aquele que fuma pensa que a sua mulher sofre com isso?
Ela grita-lhe que é infeliz, mas ele continua a atormentá-la com o seu fumo.
E quando as pessoas se embriagam, será que pensam que estão a destruir a sua própria mulher?...
Quantos já compreenderam que deviam fazer dos seus corpos o instrumento da omnipotência do espírito?

Enfim, parece-me que, quanto mais me escutais, mais sentis em vós qualquer coisa que se decanta, que fica mais precisa, mais clara.
Intelectualmente, talvez estejais um pouco no nevoeiro, talvez não compreendeis tudo, mas sentis que algo essencial se forma no vosso íntimo, algo que não engana...
Talvez eu não consiga satisfazer o vosso intelecto, mas vós sentireis que estais no caminho da verdade e só tereis de caminhar e trabalhar.
A minha tarefa não consiste propriamente em verter conhecimentos no vosso cérebro, mas sim em dar-vos meios para sentirdes algumas verdades essenciais, para as viverdes, para as saboreardes.

Continua


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