sábado, 7 de março de 2015

O CASAMENTO (Cont.III)


 II

A Natureza inculcou em cada ser o instinto de fugir da solidão, que é sentida como uma coisa pesada, terrível.
Está certo, é normal, mas há que conhecer o melhor método para escapar à solidão.
Há tantos homens e mulheres que ainda não resolveram este problema!
Eles gostariam imenso de ter um parceiro para cantar em dueto mas, como não o encontram, sentem-se infelizes.

E observai como reage uma mulher que foi abandonada pelo marido: em vez de ver o lado bom desta nova situação e de, finalmente se sentir livre, ela chora, lamenta-se e vai acender velas à Virgem Santa (se acreditar nela) para que o traga de volta.
Por que é que ela, pelo contrário, não se alegra com essa liberdade, pensando que, finalmente, poderá fazer todas as coisas que há muito desejava fazer?
Mas não, ela vai deixar-se adoecer e fazer com que tenha de ir para o hospital, simplesmente porque tem necessidade de amor.
Porém, que amor poderia dar-lhe aquele pobre traste?
Ele não tinha amor nenhum, portanto, não podia dar-lho; a prova é que foi procurá-lo noutro lado!
Sim, é preciso raciocinar: como é que quereis que um pobre possa tornar-vos ricos?
É como um homem que promete a felicidade a uma mulher.
Ele é infeliz, não sabe o que é a felicidade, e vai torná-la feliz?...
Se fosse assim tão fácil!
Por certo ele pensa que lhe bastará ir para a cama com ela para lhe dar felicidade.
Mas o que ele lhe dará serão as suas doenças, os seus vícios, os seus maus hábitos, e não a felicidade.

A Natureza criou os humanos de tal forma que todos eles têm necessidade de afecto, de ternura, de fazer trocas.
É uma necessidade universal, ninguém pode duvidar disso ou objectar seja o que for.
Mas deveis saber que, quando procurais manifestações físicas, tangíveis, do amor, dependeis da pessoa  que vo-las há-de fornecer, não sois livres, e isso traz muitos desgostos e decepções, pois não depende tudo de vós e, para obter os favores do parceiro, sois levados a fazer certas concessões, certos sacrifícios que, muitas vezes, mais valia não fazer.

Consideremos o caso de uma jovem: ela tem necessidade de afecto, e então, rapidamente e sem reflectir, sem observar em profundidade o carácter do rapaz que lhe agrada, escolhe-o para marido e casa com ele.
Deste modo, para satisfazer a necessidade que sente, obriga-se a aceitar tudo o mais que existe nesse rapaz: o seu carácter, os seus pensamentos e os seus sentimentos, que talvez sejam grosseiros e com os quais ela nem sempre estará de acordo.
É evidente que ele lhe dá alguma coisa, mas por causa disso, ela é obrigada a suportar tudo o resto.
E é assim com todos os rapazes e todas as moças: para terem algumas sensações, algumas migalhas de alegria, de felicidade, são obrigados a suportar toda a espécie de inconvenientes.
E depois, durante toda a vida, eles lamentam-se, são infelizes, não sabem o que fazer e até, por vezes, para tentarem escapar a esta situação, transgridem muitas leis.
Sim, esta é a triste realidade.
Para terem uma satisfaçãozinha, metem-se em grandes complicações.
Sentem uma necessidade e, por causa dela, sacrificam tudo.
Porque têm necessidade de algumas migalhas, são obrigados a aceitar as impurezas, todas as deformações, daquele de quem querem receber essas migalhas!

Continua


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