Perguntam-me muitas vezes se é preferível viver em castidade ou pelo contrário, ter relações sexuais.
Na realidade, não é desta maneira que a questão deve ser posta; é impossível dizer de um modo geral o que é bom e o que é mau...
Tudo depende da pessoa.
Viver em castidade, em abstinência, pode dar muito maus resultados, mas também pode dá-los muito bons.
A abstinência pode tornar algumas pessoas histéricas, nervosas, doentes, e outras, fortes, equilibradas e saudáveis.
E dar livre curso ao instinto sexual pode fazer muito bem a uns e muito mal a outros.
Não se pode, pois, classificar as coisas, dizendo: «Isto é bom... aquilo é mau».
O bem e o mal dependem de um outro factor: como se utilizam as forças, como se dirigem as forças.
Nada é bom ou mau, mas tudo se torna bom ou mau.
A questão está em saber primeiro qual é o vosso ideal, aquilo em que desejais tornar-vos.
Se quereis fazer grandes descobertas no mundo espiritual, é evidente que tereis de reduzir o número de certos prazeres ou até renunciar a eles completamente, a fim de aprender a sublimar a vossa força sexual.
Mas se não tiverdes esse alto ideal, então será idiota absterdes-vos, serdes castos e virgens, e se o fizerdes até ficareis doentes, porque os vossos esforços não levarão a nada.
Neste domínio, não é razoável dar a todos os mesmos conselhos e as mesmas regras.
Alguém vem ter comigo e diz-me: «Mestre, penso que não será bom para mim casar-me e ter filhos, pois é a espiritualidade que me atrai».
E quando eu olho para a sua constituição, a sua estrutura, respondo-lhe: «Não, não, é melhor que se case, pois caso contrário será infeliz e acabará por importunar toda a gente».
E a outro que deseja casar-se, acontece por vezes, eu dizer: «Case-se, se quiser, mas devo dizer-lhe que não é construído para o casamento e que vai sofrer».
Muitas raparigas e rapazes não se conhecem a si próprios e, por isso, não sabem o que devem fazer.
Cada um vem à terra com um programa a cumprir. Não é ele, quem pode decidir acerca das suas tendências e dos seus instintos.
Explicai, por exemplo, a um gato que deve tornar-se vegetariano e parar de comer ratos; ele escutar-vos-á e responderá: «Miau!», quer dizer: de acordo, entendi, está prometido.
Mas, ainda vós não acabastes de falar, eis que ele ouve um pequeno ruído que vem de algures: é um rato que rói...
De repente o gato desobedece-vos e, sem quaisquer remorsos, lança-se sobre o rato.
Contudo, ele tinha-vos escutado atentamente, até vos tinha feito uma promessa...
E eis que ele regressa, lambendo os bigodes, e de novo diz: »Miau!», quer dizer: é mais forte do que eu (sim, tradução literal!), não posso modificar a minha natureza de um dia para o outro.
Portanto, enquanto ainda se for gato, comer-se-á ratos.
Porém, isto não significa que não deveis fazer esforços no sentido de sublimar a força sexual.
Mas, como já vos expliquei, não podeis lutar contra ela; se o tentardes, será ela que vos triturará.
Eis, pois, como deveis proceder: deveis ter um sócio muito poderoso a quem possais enviar essa força, e ele, graças ao seu saber alquímico, conseguirá transformá-la em saúde, em beleza, em luz, em amor divino.
Esse sócio é um alto ideal, uma ideia fundamental com a qual viveis, que amais, que alimentais, e é ela que transformará essa energia, não vós mesmos.
Essa a razão por que aquele que não tem um ideal espiritual nunca conseguirá essa transformação, e a esse apenas se pode dar este conselho: encontra depressa alguém e casa-te, senão serás um perigo público, vais incomodar o mundo inteiro.
Continua
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