sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

HRANI-YOGA (Cont.II)

Quando vos preparais para tomar uma refeição, deveis pôr tudo para trás das costas, mesmo os afazeres mais importantes, porque o mais importante é que vos alimenteis segundo as regras divinas.
Se tiverdes comido correctamente, o resto regularizar-se-á com grande rapidez.
Comer correctamente permite, pois, ganhar muito tempo e fazer uma grande economia da forças.
Não imagineis que podereis resolver os problemas mais facilmente e mais rapidamente se estiverdes num estado de febrilidade e de tensão; pelo contrário, deixais escapar os objectos das vossas mãos, dizeis palavras irreflectidas, implicais com as pessoas e depois tendes que passar dias inteiros a reparar os estragos.

A maior parte dos humanos não vêem que mesmo as actividades mais simples da vida quotidiana têm um significado importante; como é que se há-de levá-los a compreender que as refeições podem ser, para eles, uma boa ocasião para desenvolver a inteligência, o amor e a vontade?
Todos pensam que a inteligência se desenvolve com o estudo ou, em rigor, através das dificuldades e das provas (quando estais em apuros, desperta finalmente em vós uma faculdade que vos leva a reflectir e a encontrar a maneira de sair deles...), e quanto ao coração, julgam que é quando se tem mulher e filhos que é necessário proteger, ajudar.
Mas aqui, durante as refeições, desenvolver o coração?
Nem pensar nisso!...
E em relação à vontade, todos pensam que ela se desenvolve quando se fazem esforços físicos, desporto, etc.
Não, as pessoas que raciocinam deste modo ainda não compreenderam nada.

É durante as refeições que devemos começar a ocupar-nos do essencial, isto é, desenvolver o coração, o intelecto e a vontade.
Sim, porque não é garantido que toda a gente possa frequentar as bibliotecas ou a universidade, que se case e tenha filhos, ou que encontre muitas ocasiões para fazer esforços físicos.
Mas comer, todos são obrigados a fazê-lo.
Então, reparai: quereis desenvolver o vosso intelecto?
Pois bem, tendes uma oportunidade para fazê-lo sempre que quereis servir-vos dos objectos que estão sobre a mesa.
Procurai pegar-lhes e pousá-los sem fazer barulho, sem tocar em nada que esteja ao lado deles; eis um bom exercício para a atenção, para a antevisão.
Quando eu vejo como as pessoas batem com os talheres ou os deixam cair, fico logo a conhecer os defeitos da sua inteligência.
Por muitos diplomas que tenham, mesmo de várias universidades, eu acho que ainda possuem grandes lacunas intelectuais.
Sim, de que servem os diplomas se ainda não se sabe avaliar as distâncias?
Supunhamos que uma pessoa quer mudar um copo de um lugar, mas não viu a que distância ele se encontrava, diante ou por detrás de um outro objecto, e zás! leva o copo de encontro a esse objecto.
É um detalhe mínimo, mas revela um defeito que vai manifestar-se com muito maior amplitude na sua vida.
Estas pequenas faltas de jeito que as pessoas revelam durante as refeições indicam que, na vida corrente, elas farão grandes asneiras.
São o indício de que lhes falta uma certa atenção interior e por aqui se pode ver desde logo, em pequena escala, o que elas farão nos acontecimentos importantes da existência: comem, falam e agem sem atenção, dando encontrões nos outros, melindrando-os, e depois demorarão anos a reparar os seus erros e a sofrer.

Notai: quando eu pego nesta garrafa que veio do frigorífico, antes de servir-me dela devo pensar que está húmida e que, se não a limpar, ela pode escorregar das minhas mãos e partir o copo ou o prato. Portanto, se quiser agarrá-la bem e estar seguro de que não vai escapar-me, tenho que limpá-la.
E o mesmo se passa em relação a todas as outras coisas, à mesa como na vida...
Se um objecto escapa à vossa visão, à vossa consciência, deixais de ser senhores dele e ele não vos obedece.
Para dominar um objecto, deveis controlá-lo primeiro através do pensamento; se ele vos escapar, nunca sereis senhores dele.
Antes de vos sentardes à mesa, procurai também ver se não vos falta nada, para não terdes que levantar-vos várias vezes durante a refeição a fim de ir buscar uma faca, o prato, o sal...
É uma coisa que observei repetidas vezes quando me convidavam: a dona da casa era obrigada a levantar-se vinte vezes, porque tinha-se esquecido disto e daquilo...
No entanto as pessoas sabem muito bem o que lhes faz falta, pois todos os dias repetem a mesma coisa.
Mas não, nem sequer se apercebem, e isso prolonga-se pela vida fora, as pessoas continuam a esquecer-se das coisas e têm que interromper as refeições para ir buscá-las.
Falta sempre qualquer coisa, e isso é sinal de que é igualmente desatento e negligente em outros domínios da vida.
Então, como é que se pode acreditar que pessoas assim vão ter sucesso?


Continua

OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

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