II
A lição mais sublime que o Sol nos dá é a do seu amor por todas as creaturas.
Ele não se preocupa em saber a quem envia os seus raios.
Quer os humanos sejam inteligentes ou estúpidos, bons ou criminosos, quer mereçam ou não os seus benefícios, o Sol ilumina-os a todos, sem distinção.
É nisso que ele é único!
Considerai mesmo os seres mais extraordinários que existiram na Terra: todos tomaram partido por isto ou por aquilo, todos tiveram algumas preferências e, até, algumas animosidades.
Mesmo os maiores profetas, mesmo os maiores Mestres, não conseguiram libertar-se completamente da necessidade de aplicar a lei da justiça e punir os maus.
Porque é que o Sol concede a luz, o calor e a vida a todas as creaturas sem distinção, tanto aos criminosos como aos santos e aos justos?
Será que ele é cego, não vê os crimes, não passa duma máquina sem inteligência nem discernimento a quem pouco importa a bondade ou a malvadez, a rectidão ou a desonestidade?
Não, o Sol vê as faltas e os crimes dos humanos muito melhor do que quem quer que seja, mas para ele, isso são coisas minúsculas perante a intensidade da sua luz e do seu calor.
Tudo o que parece monstruoso e terrível não passa, para ele, de pequenos erros, pequenas destruições, pequenas máculas...
Ele agarra-as, repara-as, lava-as e continua com uma paciência ilimitada a ajudar os humanos até que eles atinjam a perfeição.
Então, perguntareis: «Mas porquê esta generosidade?
Que filosofia pode o Sol ter na sua cabeça?»
Pois bem, já ides ver.
O Sol tem uma certa concepção do género humano: vê a eternidade e a imortalidade da alma humana, sabe muito bem que a humanidade é um fruto ainda verde, amargo, duro e ácido.
Então, ele, que tão bem sabe amadurecer os frutos das árvores, que os enche pouco a pouco de açucar e de perfume até os tornar deliciosos, quer também amadurecer a humanidade.
Mas como compreendeu que para a humanidade é preciso mais tempo do que para as árvores e os frutos, decidiu ter paciência.
Sabe que ao aquecer mesmo um criminoso, este acabará, um dia, por estar de tal modo fatigado e desgostoso consigo mesmo que se entregará à influência benéfica do Sol... e tornar-se-á um ser adorável, delicado, um poeta, um músico, um benfeitor da humanidade.
O Sol não abandona os homens porque sabe que, se os abandonar, eles não evoluirão, deixará de haver frutos maduros, deixará de haver santos, profetas e divindades na Terra.
O Sol continua a aquecer e a iluminar os homens porque conhece as causas e as consequências, o princípio e o fim, conhece o caminho da evolução...
Não fora assim e ele ficaria furioso, fechar-se-ia, e o género humano acabaria!
O facto de o Sol continuar a brilhar prova que ele conhece o objectivo do seu trabalho, a finalidade da Creação, e continua a ajudar os humanos até à sua maturação.
Para o Sol, nós somos grãos semeados algures no solo espiritual: sob a acção dos seus raios, podemos dar flores com cores e perfumes tão estraordinários que até as divindades ficarão extasiadas.
O que é uma flor?
Ela não sabe nem cantar, nem dançar, nem tocar violino e, contudo, até os cantores, os dançarinos e os músicos se encantam perante ela.
E, então, se nós soubermos ser como as flores, porque não hão-de as divindades, que nos são tão superiores, vir extasiar-se junto de nós?
Elas dirão: «Oh! Que belas flores!», e ocupar-se-ão de nós para tornar-nos ainda mais puros, mais luminosos, mais perfumados.
Eis o que o Sol sabe, e é por isso que é o único que nunca se cansa de fazer bem aos humanos.
Todos os outros se fatigam, facham a loja e desaparecem da circulação: renunciam.
Mas o Sol está lá sempre, triunfante, radioso.
Ele diz: «Vinde, dessedentai-vos, tomai... Fizestes disparates? Isso não me importa.
Os humanos são egoístas, maldosos, vingativos e, se vos apanham não sei o que será de vós. Mas eu não vos farei mal algum.
Vinde, expondo-vos aos meus raios... Eu continuarei a dar-vos!»
Portanto, se tomarmos o Sol como ideal, como modelo, tornar-nos-emos melhores.
Junto dele encontramos coragem para esquecer todas as dificuldades, todas as decepções que sofremos no contacto com os humanos
Ao pensar como o Sol, tornamo-nos como uma divindade, porque nunca perdemos a paciência.
Todos os outros capitulam e, ao fim de algum tempo, dizem-vos: «Vai-te embora! Não quero voltar a ver-te! Fiz tudo o que podia por ti e agora estou cansado. Vai-te! Põe-te a andar!»
Mas o Sol, esse nunca se cansa...
Compreendeis agora porque vos encaminho para o Sol?
Ele é o único que pode inspirar-vos sentimentos nobres e divinos.
Continua
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