quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A MORTE E A VIDA NO ALÉM (Cont. IV)

OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

II
Quando um homem morre, a sua alma separa-se do corpo físico; mas, enquanto ele ainda está vivo, a sua alma também pode deixar o corpo, em qualquer altura, para viajar no espaço, instruir-se ou visitar amigos que vivem muito longe, noutros locais, para os ajudar, os consolar e lhes fazer revelações.
A maioria das pessoas não são capazes de se desdobrar.
Mesmo durante a noite, enquanto dormem, a sua alma fica às voltas junto do corpo físico, sem aprender o que quer que seja nem fazer qualquer trabalho; então, ainda menos serão capazes de deixar o seu corpo conscientemente durante o dia, para viajar no espaço e depois regressar e retomar a sua actividade quotidiana.
Vós direis que desejais aprender rapidamente o que é preciso fazer para vos desdobrardes.
Não tenhais tanta pressa; se não estiverdes suficientemente preparados, ficareis sujeitos a grandes perigos psíquicos (obsessão, possessão, loucura) e até perigos mortais.
Se não começardes por purificar-vos, a fim de vos tornardes senhores de vós mesmos, dos vossos pensamentos, dos vossos sentimentos e das vossas inclinações, será muito perigoso sairdes do corpo físico e deixá-lo sem protecção, à mercê de qualquer entidade, pois nessa altura poderão ocorrer fenómenos deploráveis.
Por isso é que eu ainda não vos disse muita coisa acerca do desdobramento; isso será para mais tarde, quando estiverdes preparados.
Aqueles que têm pressa de folhear livros ocultos sobre este assunto são livres de o fazer, mas previno-os de que correm sérios riscos.
Se uma pessoa se preparar durante anos, cuidando sobretudo da pureza (nos alimentos, nos pensamentos e nos sentimentos), praticando numerosos exercícios para adquirir o autodomínio, para se controlar, um dia a sua alma poderá desligar-se do corpo físico como ela quiser, sem qualquer perigo.
É assim que os verdadeiros Iniciados viajam no espaço; lá, eles vêem e aprendem muitas coisas, de que se lembram quando se reintegram no seu corpo físico, e isso é também muito importante.
Em certas circunstâncias particulares, pode acontecer a algumas pessoas desdobrarem-se involuntariamente - isso manifesta-se, por exemplo, por um súbito adormecimento a meio do dia - mas quando regressam não se recordam de nada do que viram, ouviram e fizeram, o que é pena.
Por conseguinte, a questão está em ser capaz de se desdobrar conscientemente, mas não há que ter pressa; primeiro é necessário pensar em purificar-se, por exemplo, trabalhando com os anjos dos quatro elementos, como vos ensinei.

Uma pessoa não pode desdobrar-se verdadeiramente se não aprendeu a desapegar-se... até ao desapego último: a morte.
Quantas pessoas não há que, como nunca aprenderam a desapegar-se, não conseguem, nem mesmo no momento da morte, desligar-se do corpo físico!
Existem laços poderosos que as retêem.
Enquanto estavam vivas, só pensavam nas questões materiais, no dinheiro, nos prazeres; então, como é que elas podem aceitar abandonar tudo isso?
Assim, durante muito tempo ficam vagueando em redor do corpo, pelos lugares onde viveram, perto dos seres que conheceram, e sofrem terrivelmente, até que servidores de Deus venham ajudá-las a libertarem-se.
Outras, pelo contrário, deixam de imediato o corpo físico, como quem despe a camisa, tranquilamente, numa alegria maravilhosa.
Por esta razão é que nas Escolas Iniciáticas sempre se ensinou os discípulos a cultivarem o desapego.
«Então ~direis vós -, para nos desapegarmos temos de nos afastar do mundo, temos de deixar de nos dar com os humanos?»
Não.
Certos ascetas, certos eremitas, que compreenderam assim o desapego, fecharam-se num buraco, numa gruta da montanha...
Eles pensavam que se tinham desapegado realmente, mas o seu desapego era apenas exterior.
Na maior solidão, de repente eram assaltados por toda a espécie de desejos e de cobiças.
Graças à sua solidão, o Diabo podia visitá-los à vontade!
A literatura está cheia de histórias que contam as tentações dos santos, dos eremitas...
Não, não se trata de abandonar tudo, mas sim de compreender que o verdadeiro desapego é interior e que só a pureza pode conduzir-nos a ele.

Sèvres, 13 de Abril de 1969

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