quarta-feira, 10 de junho de 2015

O SENTIDO DO SAGRADO

Há anos, na Bulgária, quando eu era ainda muito jovem e não tinha dinheiro suficiente para comprar um rádio, construí um posto de galena.
Para fazer funcionar um tal aparelho é preciso colocar uma agulhinha sobre um cristal de galena e deslocá-la de maneira a obter um contacto.
Por vezes funciona, mas outras, não...
E foi precisamente isso que naquela época me impressionou e me levou a reflectir: o sistema não funcionava sempre.
Eu bem tocava na pedra com a agulha, mas não ouvia nada, tinha de continuar a procurar, a tentar e, finalmente, de súbito, ouvia música ou vozes...
Era como se houvesse pontos sensíveis, vivos, e pontos mortos.
Quando eu encontrava um ponto vivo, mantinha a agulha nele, para o posto continuar a funcionar; se a deslocasse, perdia o contacto e precisava de recomeçar a tactear para tornar a encontrar um novo ponto.

Reflectindo, descobri que o fenómeno apresentava correspondências com a nossa vida interior.
Todos os humanos procuram algo, querem ouvir uma voz, receber ajuda.
Mas a maior parte das vezes não ouvem nada, não recebem nada.
Porquê?
Porque não souberam tocar nos pontos sensíveis da sua alma e do seu espírito que os poriam em comunicação com as regiões espirituais.
Por isso, devem continuar a explorar, a tactear; quando conseguirem tocar nesses pontos, experimentarão uma sensação que não engana: receberão a luz, o amor, a alegria, terão a revelação do sentido da vida.

Direis vós: «Bem, nós compreendemos, temos que procurar esses pontos. Mas, como?»
Na realidade é uma questão de atitude.
Ora, há algo em particular que os humanos descuram cada vez mais, que é a atitude interior, o sentido do sagrado.
Aos seus olhos, já nada é digno de respeito e de veneração.
Dir-me-eis que eles tentam cultivar o respeito pela pessoa humana...
Sim, mas isso é pouco, é igual a nada, porque, para além do homem e acima dele, existem seres que ele ignora, nem sequer acredita na sua existência.
Ele escuda-se naquilo a que chama "respeito pela pessoa humana" para justificar o facto de já não respeitar nada, nem ele próprio, nem a Natureza, nem sequer o Criador.

Na realidade, não podereis respeitar verdadeiramente os humanos se dentro de vós não tiverdes consideração por algo de mais elevado, de absoluto.
Massacrá-los-eis até, porque dentro de vós haverá sempre motivos pessoais muito fortes que suprimirão esse respeito.
Só quando tiverdes um sentimento sagrado por alguma coisa, ou melhor, por alguém, um ser mais elevado, mais grandioso, o Criador, é que respeitareis também os humanos.

Continua

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