domingo, 7 de junho de 2015

CULTIVAR O CONTENTAMENTO (Cont.III)

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Existem respostas para tudo o que a tristeza e o desalento possam objectar.
Além disso, é preciso aceitar, olhar as coisas de outra maneira, raciocinar de modo diferente: perante cada acontecimento, cada situação, detende-vos um momento para considerar os dois aspectos: o negativo e também o positivo.
Evidentemente, não deveis iludir-vos, dizendo que tudo é bom, mas também deveis recusar-vos a considerar apenas o lado negro da vida.
Pensais vós: «Oh! já sabemos isso tudo.»
Pois bem, se é assim tão simples, fazei-o!
Observai-vos e descobrireis que esqueceis frequentemente esta regra e que vos abandonais ao descontentamento e ao pessimismo.
E então, não só deixais de raciocinar correctamente, mas também impedis a vossa alma de se expandir e de voar.
É assim que vos destruís espiritual e até fisicamente.
Porque é que o povo diz acerca de uma pessoa sempre inquieta e insatisfeita que lhe "ferve o sangue nas veias", ou então que ela "se consome" ou que "tem maus fígados"?

O descontentamento só é aceitável se a pessoa estiver descontente consigo mesma.
Ninguém deve estar contente consigo próprio, mesmo que obtenha grandes resultados espirituais.
Porquê?
Porque a pessoa arrisca-se a tornar-se vaidosa, a achar que fez o suficiente e a interromper assim o seu avanço, a deter-se no seu aperfeiçoamento.
Se estiverdes descontentes convosco, esse sentimento irá estimular-vos, fazer-vos trabalhar, melhorar-vos.
Mas, para que esse descontentamento não se torne uma obsessão destruidora, torna-se necessário restabelecerdes o equilíbrio, estando contente com os outros.
Esta atitude interior impedir-vos-á de cair num estado demasiado negativo, que poderia conduzir-vos ao desencorajamento completo.
Procurai a beleza e o bem em todos os seres e particularmente naqueles que contribuíram, pelo seu génio, pelas suas virtudes, para a evolução da humanidade: assim, sentir-vos-eis sempre maravilhados e não correreis qualquer perigo de cair no desespero.
 Houve músicos, poetas e pintores de génio que, num período de desalento, destruíram as suas obras.
Isso foi simplesmente porque eles se enclausuraram na sua solidão e não souberam ver para além do seu caso pessoal e encontrar o que havia de bom nos outros: isto tê-los-ia protegido, impedindo-os de voltar o seu descontentamento para consigo mesmos e para com as suas criações.
Os Iniciados não se sentem contentes consigo próprios, mas sentem-se contentes com as obras de Deus, ficam maravilhados com os servidores de Deus.
Deste modo, encontram remédio para o descontentamento que as suas próprias imperfeições lhes inspiram.

Aquele que se dá conta de que não consegue manifestar as qualidades que esperava possuir não deve, por isso, perder a coragem ou revoltar-se.
Será muito mau para ele se desanimar ou se se enfurecer contra si próprio, contra os outros ou contra o Senhor; deve ser mais humilde, porque senão isso prova que não está a raciocinar correctamente e que ainda está submetido à sua natureza inferior, que conseguiu infiltrar-se logo que encontrou condições favoráveis.
É como se o Céu tivesse dito a certas pessoas ou às circunstâncias: «Ide mordê-lo um pouco ou dizei-lhe umas palavras para ver o que acontece.»
E o que acontece é um reboliço que prova que ele não estava pronto para enfrentar as provações.
Pois bem, mesmo nessa altura ele não deve entristecer-se ou perder a coragem, pois isso quereria dizer que ele é apenas um pretencioso que deseja coisas ainda irrealizáveis para ele e, se não resolver a situação, acabará por se destruir.
É permitido uma pessoa entristecer-se, mas apenas com os insucessos ou as infelicidades dos outros, não com a insatisfação dos seus desejos e ambições.
Os que frequentemente caem neste estado devem ficar a saber que não são muito evoluídos, porque a sua tristeza está ligada a causas inferiores.

Para resumir esta questão, pode dizer-se que existe uma corrente de vida e uma corrente de morte, e o primeiro grau da morte é o descontentamento.
Sim, porque se não se tomarem precauções, o descontentamento transforma-se em pena e a pena em dor.
Esta dor, que inicialmente apenas atinge o plano psíquico, acaba por atingir o plano físico.
Um dia transforma-se em doença e a doença conduz à morte.
Entre o descontentamento e a morte, existem, evidentemente, numerosas etapas mas, pouco a pouco, uma conduz inevitavelmente à outra.
Pelo contrário, o contentamento coloca-vos na corrente da vida.
Aquele que está contente sente-se cheio de gratidão para com o Céu e vive em paz; esta paz dá-lhe força, a força traz-lhe a plenitude e ele começa a experimentar a vida eterna...

Aquele que aspira à perfeição, que deseja que os espíritos da Natureza o ajudem no seu trabalho, deve mostrar-se reconhecido por tudo o que possui e levar aos outros algo positivo.
De ora em diante, deveis saber sentir-vos contentes, e precisamente com as coisas que desdenhastes e negligenciastes.
Tentai encontrar em cada dia pelo menos uma coisa que vos maravilha e colocai-a no vosso coração e no vosso intelecto.
Se todos os dias agradecerdes ao Senhor, se estiverdes contentes com tudo o que Ele vos dá, possuíreis o segredo mágico que pode transformar a vossa vida, e os espíritos luminosos da Natureza aproximar-se-ão de vós para vos ajudar.


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