Mas avancemos um pouco mais: vou mostrar-vos agora que, sem a reencarnação, tudo deixa de ter sentido na religião e mesmo na própria existência.
Procurai os padres e os pastores e perguntai-lhes: «Explicai-me por que razão é que aquele homem é rico, belo, inteligente, forte, e obtém sempre sucesso naquilo que empreende, e aqueloutro é doente, frio, pobre, miserável e estúpido?»
Eles responder-vos-ão que é a vontade de Deus.
Por vezes falar-vos-ão da predestinação e da graça, mas isso não vos avançará nenhuma explicação.
De qualquer maneira, para eles é a vontade de Deus.
Analisemos pois, esta resposta. (Já que Deus nos deu um pouco de massa cinzenta, não a deixemos criar ferrugem!)
Com que então, o Senhor tem caprichos; Ele faz o que lhe apetece, dá tudo a uns e nada aos outros.
Bom, estou a perceber...
Ele é Deus, é essa a Sua vontade.
É magnífico!
Perante isso, eu inclino-me.
Mas nesse caso, o que eu não consigo compreender é que depois Ele fique descontente, furioso, e se sinta ultrajado quando aqueles a quem nada deu de bom, cometem faltas, são maus, descrentes, criminosos.
Se foi Deus que deu aos humanos esta mentalidade, esta falta de inteligência ou de coração, porque é que Ele os castiga?
Ele, que tem todos os poderes, não poderia torná-los bons, honestos, inteligentes, sábios, piedosos, magníficos?
Não só é Ele o culpado dos crimes que eles cometem, como ainda por cima os castiga por causa desses crimes!
Aqui é que a coisa não bate certa.
Ele tem todos os poderes, faz aquilo que quer, sim senhor, não podemos censurá-Lo; mas então por que razão é que Ele não é mais consequente, mais lógico, mais justo?
Ao menos deveria deixar os humanos sossegados.
Mas não, o que Ele faz é lançá-los no Inferno para toda a eternidade!
E, também aqui, eu acho que há algo que não bate certo, e digo: «Durante quanto tempo é que eles pecaram?
Trinta anos, quarenta anos?
Bom, então que fiquem no Inferno durante quarenta anos, não mais. Agora eternamente...!»
Neste ponto, com franqueza, a coisa não pega.
Raciocinai um pouco!
Mas não, as pessoas não ousam raciocinar, tão obnubiladas estão por aquilo que lhes ensinaram.
Parece que é um crime raciocinar...
Mas então para que serve a inteligência?
Se Deus no-la deu, para que foi?
Se aceitarmos a reencarnação, se a estudarmos e a compreendermos, tudo mudará.
Deus é verdadeiramente o Senhor do Universo, o maior, o mais nobre, o mais justo, e nós compreendemos que se somos pobres, estúpidos, infelizes, é por nossa culpa, porque não soubemos utilizar tudo aquilo que Ele nos deu na origem, quisemos fazer experiências que nos saíram caras; e Ele, o Senhor, como é generoso e tolerante, deixou-nos agir, dizendo: «Bem, eles irão sofrer, irão dar umas cabeçadas, mas não faz mal, pois eu voltarei a oferecer-lhes as minhas riquezas e o meu amor...
Eles têm numerosas encarnações diante deles...»
Portanto, Ele deixou-nos fazer a nossa vontade e agora tudo o que nos acontece é por nossa culpa.
Por que razão é que a Igreja lançou toda a responsabilidade para cima do Senhor?
Vós direis: «Não, ela não fez isso, apenas suprimiu a crença na reencarnação.»
Na realidade, se reflectirmos um pouco, vem dar ao mesmo.
Até ao século quarto, os cristãos acreditavam na reencarnação, tal como os Judeus, os Egípcios, os Hindus, os Tibetanos, etc. ... Mas os padres da Igreja pensaram, sem dúvida, que essa crença fazia com que as coisas avançassem muito lentamente, que as pessoas não estavam interessadas em ser melhores, e por isso quiseram incitá-las a aperfeiçoar-se numa única vida, suprimindo a reencarnação.
Aliás, pouco a pouco, a Igreja foi inventando coisas tão horríveis para assustar os humanos, que na Idade Média, só já se acreditava no Diabo, no Inferno e nos castigos eternos.
Portanto, a Igreja suprimiu a crença na reencarnação, pensando que assim obrigaria os humanos a aperfeiçoarem-se mais depressa, mas não só eles não melhoraram, como se tornaram piores... e ainda por cima ignorantes!
É por isso que é necessário retomar essa crença; caso contrário, tudo está fora do seu lugar: a vida não tem sentido, o Senhor é um monstro, e assim por diante...
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OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV
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