terça-feira, 14 de março de 2017
UMA FILOSOFIA UNIVERSAL
Capítulo VIII - A FRATERNIDADE, UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA SUPERIOR
I
Quando lançamos um olhar sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre as famílias, constatamos que tudo está organizado para satisfazer a natureza humana, o que significa, na realidade, a natureza animal, com os seus instintos mais primitivos.
Todas as regras, medidas, normas, todos os critérios da sociedade, a própria educação, tudo está concebido em função desta mentalidade tão difundida: puxar a brasa à sua sardinha, açambarcar, ganhar, lucrar.
Eis porque se vê tanta rivalidade, tantas lutas, tantos massacres...
No entanto, quando o homem foi criado nas oficinas do Senhor, a Inteligência Cósmica colocou nele germes destinados a desenvolverem-se um dia sob a forma de qualidades, de virtudes, de gestos sublimes de abnegação e de renúncia.
De tempos a tempos, vemo-los manifestarem-se em alguns seres...
A sua conduta prova-nos, sem dúvida, que uma natureza divina se manifesta através deles.
Mas eles são tão pouco numerosos que não podem influenciar a massa humana e, por vezes até se tornam suas vítimas, porque essa massa humana, incapaz de os apreciar, lança-se sobre eles para os massacrar.
Nas minhas conferências, tenho-me debruçado muitas vezes sobre esta questão tão importante das duas naturezas do ser humano: a natureza inferior, animal, a que chamei "personalidade", e a natureza superior, a natureza divina, que se encontra ainda adormecida em cada um de nós, porque ainda não nos demos ao trabalho de a desenvolver, e a que eu chamei "individualidade".
Estas duas naturezas estão tão intrincadas no homem que nem sempre ele consegue discernir qual das duas está a manifestar-se e, muitas vezes, quando ele julga estar a agir com honestidade e integridade, na realidade está a ir atrás da sua natureza inferior e comporta-se como um animal.
E se, presentemente, a anarquia e o egoísmo se tornaram lei, é porque a maioria dos humanos acha normal seguir a natureza inferior, animal, que está sempre desejosa de só fazer o que lhe "dá na gana" e de satisfazer todos os seus caprichos à custa dos outros, como se só ela existisse no mundo.
Suponde agora que um Iniciado, um Mestre, quer fazer sair os humanos desta desordem e cria uma Fraternidade para os levar a viver numa atmosfera de paz, onde ninguém é subjugado, ninguém é enfeitiçado, pelo contrário, onde cada um vê claro, se sente livre e independente, mas num clima de harmonia colectiva...
Quando um ser que não tem qualquer ideia acerca destas novas concepções chega a essa Fraternidade, é evidente que ela não lhe agrada, ele revolta-se e não faz outra coisa a não ser criticar: «Porque é que aqui toda a gente é respeitadora?
E que silêncio é este?
É subjugação, hipnotismo, feitiçaria; tenho de rejeitar tudo isto!»
Isto é, voltar ao caos.
Com uma tal mentalidade, os humanos não podem deixar de se precipitar para as catástrofes.
É o maior dos erros pensar e acreditar, como fazem muitos, que tornando-se anárquicos e contestatários, se mostram mais inteligentes, mais livres e mais poderosos.
Se estudassem como a Inteligência Cósmica criou o organismo humano, observariam, no seu funcionamento, leis que poderiam transpor para os outros planos.
Para que o organismo funcione bem e tenha boa saúde, é preciso que as células trabalhem em harmonia, com desapego, e não unicamente para elas mesmas: o estômago não deve digerir para si mesmo, nem o coração bater para si mesmo, nem os pulmões respirar para si mesmos... nem as pernas, nem os olhos, nem os ouvidos, nem o cérebro... mas para o conjunto, para o bem-estar de todo o corpo, do homem por inteiro.
Ao passo que entre os humanos é cada um por si.
Eis porque a humanidade é um organismo doente; tão doente que corre perigo de morte.
O bom funcionamento de um organismo depende do respeito pela lei do sacrifício, da impessoalidade.
Quando há uma manifestação de egocentrismo nalguma parte - células recalcitrantes que querem formar um estado dentro do Estado - ele adoece.
Estas células são como um tumor, um cancro que corrói o organismo, porque não obedecem à lei do amor; querem viver para elas mesmas.
É através do próprio ser humano que a Inteligência Cósmica nos fala, nos explica, nos ensina.
Mas todos vão instruir-se nos livros, com pessoas carunchosas, doentes, como se elas fossem as detentoras da verdade!
E lá onde a Natureza inscreveu tudo, lá onde se encontra uma biblioteca viva - o ser humano criado por Deus - ninguém vai aprender.
A vantagem da vida colectiva é que ela obriga o homem a harmonizar-se com outros seres: ele faz progressos por causa da sincronização com a colectividade.
E como a colectividade humana tende a estar em harmonia com uma colectividade mais vasta, a colectividade cósmica, ao procurar harmonizar-se com os outros, o homem entra em contacto com a Inteligência Cósmica e recebe as suas bênçãos.
Continua
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário