II
Existe um costume milenário de queimar incenso ou outras substâncias aromáticas nos templos e nas igrejas.
O fumo que se eleva em espiral do queimador de incenso é um símbolo da subida da Kundalini através dos chacras.
O queimador com o carvão incandescente, representa o chacra Muladhara, e o fumo representa a serpente de fogo, Kundalini.
Este símbolo do queimador de incenso demonstra que é necessário deitar certas matérias ao fogo e alimentá-lo para que a força comece a elevar-se.
Ao manter a tradição de queimar incenso nas igrejas, o Cristianismo conservou os rituais que lhe foram transmitidos num passado longínquo, apesar de o seu sentido ter acabado por se perder.
Se se lançar um olhar sobre outras tradições espirituais, encontrar-se-á esta ciência da Kundalini sob uma outra forma.
Na tradição grega, por exemplo, aparece sob a forma do caduceu de Hermes, com as duas serpentes entrelaçadas à volta de um bastão central.
As duas serpentes são Ida e Pingala, as duas correntes que circundam o canal Sushumna e que o «yogi» activa pela respiração para despertar a Kundalini.
Na tradição cabalística, encontra-se esta mesma ciência na Árvore Sefirótica, com os dois pilares - o do rigor (positivo) e o da clemência (negativo) - situados dum lado e doutro do pilar central ou pilar do equilíbrio.
As duas correntes descem da séfira Kéther, passam por Hokmah e Binah, cruzam-se em Daath, passam por Hésed e Géburah, cruzam-se em Tiphéret, passam por Netzach e Hod e cruzam-se, finalmente, em Iésod que, simbolicamente, representa os órgãos genitais.E se fordes ao Tibete vereis que os arquitectos tibetanos ocultaram esta ciência da Kundalini e dos chacras na maneira de construir os edifícios sagrados a que chamam «stupas».
Por todo o lado - na entrada dos santuários e dos mosteiros, nas bermas dos caminhos - se vê estas construções, que possuem todas a mesma estrutura: uma base em forma de cubo, depois uma parte redonda, esférica, em seguida uma parte cónica, triangular e sobre esta um elemento em semi-círculo, como um crescente de Lua, encimado por um ornamento em forma de chama que se pode comparar também a um polegar erguido ou à letra Iod do alfabeto hebraico.
Toda a ciência do homem e do Universo está escondida na estrutura destes edifícios.
Com efeito, estas cinco formas geométricas correspondem, segundo a tradição tibetana, aos cinco elementos: o cubo, à terra; a esfera, à água; o cone, ao fogo;; o semi-círculo, ao ar; e a chama, ao éter.
Estas cinco formas e estes cinco elementos correspondem, no homem, aos cinco chacras, reduzindo duas vezes dois chacras a um só.
Assim, o cubo representa Muladhara e Svadhisthana reunidos, porque ambos estão ligados à terra, à matéria mais condensada.
Por cima encontra-se o chacra umbilical, Manipura, representado pelo círculo; depois Anahata, o chacra do coração, representado pelo triângulo.
Mais acima, o chacra da garganta, Visuddha, é simbolizado pela Lua; os dois últimos, Ajna e Sahasrara, estão reunidos também numa mesma figura, a da chama.
Cada um destes cinco centros é a sede dum Dhyani-Buda ou Buda de meditação.
Começando pelo centro inferior, são: Amoghasiddhi, Ratnasambhava, Akshobia, Amithabha e Vairocana.
Estes cinco Dhyani-Budas têm, cada um, a sua qualidade, a sua virtude própria.
Chama-se-lhes também os Budas das cinco sabedorias, pois cada virtude é considerada como uma sabedoria.
Estes cinco Dhyani-Budas são muito venerados no Tibete, mas acima de todos eles venera-se o Buda Avalokiteshvar.
Segundo a lenda, este é filho do Buda Amithabha, e foi ele quem pronunciou, pela primeira vez, as sílabas sagradas: OM MANI PADME HUM.
A lenda diz também que um dia, ao olhar o mundo dos humanos, perante os seus sofrimentos e as suas misérias infinitas, ele foi tomado de uma tal compaixão que a sua cabeça se estilhaçou.
O seu pai, o Buda Amithabha, deu-lhe então dez cabeças, às quais juntou a sua, ao mesmo tempo que do corpo de Avalokiteshvar saíam mil braços.
É, pois, com onze cabeças e mil braços que ele é representado prestando socorro aos humanos.
Eis em resumo, o modo como os Tibetanos, que receberam o mesmo ensinamento sobre os chacras que os Hindus, exprimiram toda essa ciência na estrutura dos seus edifícios sagrados, que reflectem a estrutura do ser humano e do Universo.
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