sábado, 4 de abril de 2015

O DIA E A NOITE (Cont. III)


Durante o dia individualizais-vos, sentis-vos um ser inteiramente separado dos outros e pode mesmo acontecer que vos oponhais a eles, que os combatais.
Durante o sono, pelo contrário, não tendes mais vida individual, entrais na vida universal, na vida cósmica, fundis-vos na imensidão onde captais forças para vos restabelecer, exactamente como os peixes nos mares e nos oceanos, nadam e se alimentam de materiais dissolvidos na água.
Os seres humanos emergem e depois voltam a mergulhar no oceano cósmico, e a esta alternância chama-se o dia e a noite, a consciência e a subconsciência, a vigília e o sono.

As trevas precedem a luz.
Os alquimistas compreenderam isto.
Quando eles falam da "luz que sai das trevas", subentendem o resultado de um grande trabalho prévio que se fez na escuridão.
E se se pode trabalhar na escuridão é porque, na realidade, não há escuridão: durante a noite reina uma luz deslumbrante, mas é uma luz astral que os olhos físicos não veem.
O que é tenebroso para alguns é luminoso para outros, há sempre luz e trevas simultaneamente.
Pode dizer-se que a luz é filha da escuridão; sim, porque é o filho que sai do ventre da mãe e não o inverso.
A luz jamais concebeu a escuridão, ela afasta a escuridão, mas a escuridão concebe a luz.
Como?
Isso é um mistério...
É pelo movimento.
Se não houver movimento, a luz não surge.
É necessário friccionar, bater, produzir um movimento para que surja o calor, e é este calor que em seguida se transforma em luz.
Transpondo isto para o ser humano, pode-se dizer que é a vontade que produz o movimento; o movimento produz o calor, quer dizer, o amor, e depois, ao intensificar-se, o amor é obrigado a jorrar sob a forma de luz, de inteligência, de sabedoria.

Na origem encontra-se a vontade, o movimento.
A vontade é algo obscuro, são as trevas.
Nas trevas há uma vontade, uma actividade que não se vê; esta actividade produz calor que não se vê mas que se sente - e finalmente, com a intensificação do calor, é a luz que aparece.
É exactamente o processo da Criação.

Diz o Génesis: "E o Espírito de Deus movia-se sobre as águas".
A água representa a matéria sobre a qual o Espírito de Deus iria trabalhar.
Este movimento do Espírito produziu o calor e o calor tranformou-se em luz, assim o demonstram as palavras que vêem imediatamente a seguir: "Faça-se luz!"
Deus criou o mundo pela vontade (o movimento) e pelo amor e a sabedoria (o calor e a luz).
É da mesma maneira que o homem pode criar, pois o movimento está no plexo solar sob a forma de vida, o calor está no coração sob a forma de amor, e a luz no cérebro sob a forma de sabedoria.
Por outro lado se considerarmos a trindade hindu: Brahma,Vishnu e Shiva, vê-se que os Rishis da Índia, que penetraram nas profundezas da Criação, colocaram Brahma (o Criador) na região do plexo solar, Vishnu (o conservador) no coração e Shiva (o destruidor) no cérebro.
Estais a ver as questões que há que aprofundar?

Continua


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