domingo, 5 de abril de 2015

O DIA E A NOITE (Cont. IV)


 II

Existe portanto, um mundo iluminado onde tudo aparece distintamente - as formas, as cores, as dimensões, as distâncias, os perigos - assim como um mundo obscuro onde todas estas realidades se esbatem em benefício de outras realidades.
E o homem que passa uma longa noite no seio da sua mãe, onde se forma e se prepara para sair, repete em seguida esta alternância ao longo de toda a sua vida: ora acorda e sai da noite, ora adormece e penetra na noite.
E se, no Génesis, Moisés escreveu: "Houve uma noite e uma manhã; primeiro dia", foi porque no domínio esotérico, a noite precede o dia, ou seja, a manifestação.

A manifestação é o dia; e a preparação, a construção, a formação na escuridão é o caos, a noite.
A noite precede o dia, e as criações mais importantes preparam-se na escuridão.
Então, porque é que os Iniciados, na filosofia moral, associaram a noite ao princípio do mal e o dia ao princípio do bem?
Porque é que as trevas são sempre o símbolo do Inferno, da maldade, e a luz, o símbolo do bem, do Céu?
Na realidade, elas são somente uma das suas formas, um aspecto exacto, mas limitado.
Quando o sol nasce, no espaço limitado que ele ilumina tudo se torna visível e preciso: podeis informar-vos, caminhar, trabalhar, fazer cálculos e pesquisas.
Mas quando o sol se põe, tudo se esbate, já não vedes formas  nem cores, vedes a imensidão, o espaço infinito, uma multidão de estrelas...
É tão grandioso, tão vasto que quase perdeis a cabeça: a vossa alma voa, mergulha nessa imensidão e funde-se com outras existências.
A paz, a serenidade, instalam-se em vós, pois diante daquela imensidão, daquela majestade, muitas pequenas coisas desaparecem e vós entrais na vida universal.

Mas será que deveremos diminuir o valor do sol por existirem muitos outros sóis no Universo?
Não.
Mas devemos estudar a linguagem da Natureza.
Qual é o papel do sol?
Individualizar-nos, iluminar-nos para que possamos estudar e trabalhar para a nossa evolução.
Se ele não existisse isso seria impossível, perder-nos-íamos na imensidão.
Para podermos individualizar-nos e ser conscientes, o sol é absolutamente indispensável.

O sol, a lua e as estrelas estão representados em nós.
O sol está na nossa inteligência sob a forma de luz e nos nossos sentimentos sob a forma de amor.
No nosso organismo é representado pelo coração, que é o centro de onde brota e se propaga o sangue para alimentar os órgãos, do mesmo modo que o sol alimenta os planetas.
Mas o verdadeiro centro da nossa vida é o plexo solar, porque é dele que vem a vida.
Os Russos chamam a este local jivot e em búlgaro jivot quer dizer "vida".
Para os Russos, jivot é toda a região do ventre, do estômago e do plexo solar.
O Evangelho diz que, quando o homem conseguir purificar-se, tornar-se um templo de Deus vivo, "do seu seio brotarão fontes de água viva".
É daí, do plexo solar que brotará a água viva, e é também daí que a criança recebe da mãe a vida pelo cordão umbilical.
Se consideramos o sol como símbolo do intelecto é porque o intelecto é, em nós, a faculdade capaz de iluminar, de esclarecer as coisas, de nos fazer ver e perceber.
Sem esta luz que ele projecta é-se cego, e os cegos podem extraviar-se, perder-se.
O intelecto representa em nós o sol sob a forma de entendimento, de compreensão, de clareza e de sabedoria.
O intelecto é o nosso sol, mas um sol que de momento nem sempre nos ilumina muito bem.
O que faz o intelecto?
Tal como o sol, ele tem a propriedade de individualizar as criaturas, de as separar da colectividade, da imensidão, para as tornar conscientes e capazes de estudar.
Portanto, é útil, mas ao mesmo tempo corta os nossos laços com a verdadeira realidade que é a imensidão.
É por isso que na religião hindu se diz que o intelecto é o destruidor da realidade.
Sim, pode dizer-se que ele destrói a realidade porque no-la esconde; exactamente como o sol que nos impede de abranger a imensidão, que engloba todas as outras estrelas, e nos deixa ver somente uma pequena porção da terra.

O intelecto, tal como de momento se manifesta em certos pensadores, filósofos e homens de ciência, é um assassino da realidade.
É ele que os impede de ver e compreender o essencial, e quanto mais acreditam nele, mais se desligam do Cosmos e da imensidão.
Durará isto eternamente?
Não, porque nos projectos da Inteligência Cósmica este desenvolvimento do intelecto é somente uma etapa.
Evidentemente, ela sabia que o homem, se desenvolvesse o intelecto, separar-se-ia do todo e acabaria por se tornar materialista, incrédulo, ateu.
Mas sabia também que isto seria passageiro, pois este intelecto inferior que retém o homem no lado condensado, mecânico e morto da Natureza, está ligado ao intelecto superior. o corpo causal.

Continua

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