segunda-feira, 13 de abril de 2015

LER E ESCREVER (Cont. III)

Cada ser humano é também um livro, um livro que ele próprio está a escrever...
Mas, muitas vezes, que charada, que cacofonia!
O livro está cheio de anomalias e de aberrações.
E quando dois destes livros se encontram e se enamoram um do outro, ficam ocupados dia e noite a ler-se mutuamente, mas que aprendem eles?
Muitas vezes, o inferno, pois os humanos ainda não começaram a escrever conscientemente o seu próprio livro; sempre foram instruídos a trabalhar somente no seu exterior, o interior fica como um terreno baldio.
E isto também é verdade em relação aos artistas.

Os artistas criam a beleza, mas ela permanece no exterior deles, pois não é sobre a sua própria matéria que trabalham.
Uma vez que são exteriores a eles, as obras que criaram um dia desaparecerão, e eles, quando voltarem à terra, terão de recomeçar.
Mas um verdadeiro poeta, um verdadeiro músico, trabalha sobre si próprio e jamais se separará dos seus quadros, das suas estátuas, dos seus livros, das suas sinfonias; levá-las-á consigo para o outro lado e trá-las-á quando voltar numa próxima vida.
É isto a verdadeira evolução.

Não nego que os artistas tenham deixado obras primas imortais que inspiram e fazem evoluir a humanidade inteira, mas segundo a Ciência Iniciática, segundo a Inteligência Cósmica que me revelou o objectivo da Criação, penso que não se deve ficar por aí, pois existem níveis superiores de arte.
Admiro as catedrais, as sinfonias e as estátuas, mas o verdadeiro ideal é o de realizar todos esses esplendores em si mesmo, é ser os quadros, as estátuas, a poesia, a música, a dança...
Direis: «Mas ninguém aproveitará essas obras primas!»
Enganais-vos.
Os verdadeiros instrutores da humanidade, que se criavam a si próprios, que se escreviam e esculpiam a si próprios, revolviam a terra inteira simplesmente com a sua presença, porque através deles se viam e ouviam todas as cores, todas as formas, todos os poemas e todas as músicas do mundo.

Um ser que se cria, que se compõe a si próprio como uma obra de arte, faz muito mais pela humanidade que todas as bibliotecas, todos os museus e todas as obras primas, porque estes estão mortos, ao passo que ele está vivo!

Continua

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