sábado, 11 de abril de 2015

LER E ESCREVER (Cont.II)


Já me aconteceu dizer a pessoas que têm diplomas, que são professores, cientistas: «Mas vós ainda não começastes! - Como? Não começámos? - Sim, não sabeis ler nem escrever. - O que é que está a dizer? Não sabemos ler nem escrever? - Não, tudo o que ledes e escreveis não tem grande valor. O que é necessário é ler o livro da Natureza viva.
Sabeis lê-lo?...
E escrever?
Escrever coisas divinas nas almas, nos corações, nos espíritos. Sabeis fazê-lo?»...
Consideremos o seguinte exemplo: um homem escreve com a sua caneta num certo livro que a mulher possui e eis que nasce uma criança... uma criança doentia, um futuro vadio!
É a prova de que esse homem não sabia escrever.

A segunda carta do Tarot representa a Papisa: uma mulher sentada, com uma espantosa expressão de força e de autoridade, tendo um livro aberto sobre os joelhos.
Na realidade este livro é o símbolo do sexo da mulher.
E o homem vem com a sua caneta escrever neste livro.
Claro que o livro é passivo, no entanto é o que é escrito nele que permanecerá.
Portanto, aquele que escreve deve ter alguma inteligência, deve saber o que escreve.
Se for estúpido, se for fraco, se for um bêbado, como quereis que a escrita seja estética, sensata, profunda, inteligente?
O filho - pois a escrita é o filho - será diminuído, doentio, desequilibrado.

No passado foi muito difícil impor a instrução a todos.
Os pais opunham-se a que os filhos fossem à escola: de que serviria eles aprenderem a ler e a escrever se o que era necessário era que se ocupassem do gado, do galinheiro, dos trabalhos do campo?
Mas vede o que acontece actualmente: em todo o mundo ou quase, as crianças vão à escola, mesmo as dos povos mais primitivos, porque todos compreenderam que isso é vantajoso.
Ora, assim como no passado foi difícil levar os humanos a admitir a necessidade de se instruírem, assim agora será difícil ensinar-lhes o que são a verdadeira leitura e a verdadeira escrita e levá-los a praticá-las.

Os humanos não sabem ler...
Não sabem ler o grande livro da Natureza para aí encontrar as soluções dos problemas que os preocupam.
Irão consultar livros de autores célebres nos quais encontrarão respostas contraditórias, mas não irão consultar a Natureza onde todos os problemas da vida foram resolvidos há muito tempo.
Sim, as soluções estão aí, por todo o lado, nos mundos mineral, vegetal, animal e mesmo no homem, na sua estrutura e nas diferentes funções do seu organismo.

Os humanos não sabem ler, mas também não sabem escrever. Oh! evidentemente, sempre escrevem alguma coisa.
Cada pensamento e cada sentimento são escritos que vão gravar-se algures nos objectos ou na cabeça e no coração dos homens e das mulheres, mas são garatujas que a ninguém podem aproveitar.

Escrever é um acto de vontade e desapego.
Escrever é remover e submeter algo em si próprio para o fazer sair e o dar aos outros.
Escrever é também deixar uma marca, e certos filósofos, certos artistas, deixaram marcas que são estudadas há milhares de anos.
Mas acima dos filósofos e dos artistas há os grandes Iniciados, que são os verdadeiros criadores, pois trabalham com a magia divina.
A  magia divina é ser capaz de traçar no espaço apenas algumas palavras, letras de fogo que se inscreverão por todo o lado nos cérebros e nos corações.

Continua


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