É necessário manter sempre desperta uma parte de si mesmo: à noite, antes de adormecer, deveis pensar em deixar alguém vigiando em vós durante o sono.
Jesus disse: «Vigiai e orai».
Muitas pessoas julgaram que se tratava de vigiar no plano físico, e então, coitadas!, para aplicar este preceito que não tinham compreendido correctamente, levantavam-se a meio da noite, extenuavam-se a lutar contra o sono e acabavam por desarranjar os ritmos naturais do seu corpo...
Não, é noutro plano que é necessário vigiar; durante a noite há que dormir, para deixar as céculas do corpo repousar, mas, ao mesmo tempo, há que vigiar no plano espiritual, ou seja, associar-se àquele que vela sempre, que nunca dorme...
Absolutamente imóvel e impassível, existe em cada ser humano um Vigilante eterno que vê tudo, que regista tudo.
A sua morada é entre as duas sobrancelhas, no chacra Ajna.
Porque é que se diz que ele é impassível?
Porque, seja o que for que vos aconteça, ele nada faz para vos salvar.
Se estiverdes habituados a observar a vossa vida interior, sentireis que, nos piores momentos, alguém, no vosso interior, observa tudo, regista implacavelmente o que se passa, mas nada faz para vos ajudar...
Não é esse o seu papel, e os vossos sofrimentos até o fazem sorrir.
É inútil suplicar-lhe; ele olha, observa, regista... e sorri.
Para poderdes tornar-vos vigilantes, lúcidos, deveis concentrar-vos, de tempos a tempos,, no centro Ajna, entre as sobrancelhas, deveis identificar-vos com este eterno Vigilante.
Então, mesmo mergulhados no sono, permanecereis despertos: o vosso corpo adormecerá, mas o vosso espírito, vigilante, desperto, irá viajar, encontrar outros seres e estudar as maravilhas do Universo.
Pode-se comparar o chacra Ajna com um olho, com uma bola de cristal, com um espelho mágico.
Ele tem uma virtude passiva, feminina: neste espelho reflectem-se todos os acontecimentos do Universo.
Graças a ele, podeis ver tudo, mas não podeis agir como quiserdes, ele não vos dá essa possibilidade.
Dá-vos a visão, permite-vos receber imagens, mas não podeis alterar o curso dos acontecimentos ou das forças.
Por isso é necessário chegar ao último chacra, Sahasrara, que é emissivo, dinâmico, masculino, e que vos dá o poder de agir.
Quando a força Kundalini atinge o chacra Ajna, o Iniciado recebe a visão clara das coisas, mas isso não o torna omnipotente, ele continua vulnerável, exposto às forças contrárias, oscilando entre o bem e o mal.
Eis a razão por que ele deve ir até ao cume: Sahasrara.
Quando se entra nos templos hindus, encontra-se quase sempre o símbolo do «lingam».
O «lingam» não é mais que uma pedra horizontal sobre a qual se eleva uma pedra vertical.
A pedra horizontal representa o princípio feminino, ao passo que a pedra colocada verticalmente representa o princípio masculino.
Todos os fiéis - homens, mulheres, rapazes, raparigas - rezam e se inclinam com veneração diante deste símbolo, que ornamentam com grinaldas de flores, pois ele representa a geração, a fertilidade dos homens e dos deuses.
O «lingam» é um símbolo muito profundo.
Mostra que os princípios masculino e feminino não devem estar separados, mas unidos.
Ora, nos humanos eles estão separados.
Os homens e as mulheres não sabem encontrar o outro princípio em si mesmos, e é por isso que o buscam exteriormente e se atormentam por não o encontrar, ou se o encontram, ele não lhes traz a plenitude.
O homem e a mulher não podem encontrar a plenitude procurando no exterior, mas unindo os dois princípios em si mesmos, sendo homem e mulher ao mesmo tempo.
Nessa altura, não mais terão necessidade de se unir exteriormente com um ser complementar, são já completos: têm a sabedoria, a força e o poder do homem, e a ternura, a delicadeza, a pureza e a sensibilidade da mulher; eles próprios são o símbolo do «lingam», nada lhes falta, tudo lhes obedece, pois sabem ser ao mesmo tempo emissivos e receptivos.
Encontra-se esta polaridade masculina e feminina nos chacras Ajna e Sahasrara.
A pedra horizontal, o princípio feminino, é o chacra Ajna, o chacra que recebe, que capta, que reflecte.
E o outro, a pedra vertical, o princípio masculino, é o chacra activo, dinâmico, aquele que cria, que projecta: Sahasrara.
E quando consegue unir Ajna e Sahasrara, o Iniciado torna-se perfeito, omnipotente, é como Shiva, possui o «lingam» vivo.