sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A RESPIRAÇÃO (Cont. VI)

dimensão espiritual
e aplicações práticas
II

"Solve et coagula", isto é, dissolve e coagula, dilui e condensa.
Estes dois preceitos ensinados pelos alquimistas são a transposição, para o domínio particular da alquimia, dos dois processos fundamentais da criação.
Quando é preciso juntar, concentrar, amalgamar, aplica-se o preceito "coagula".
E quando é preciso dispersar, dissolver, diluir, aplica-se o preceito "solve".
Em toda a Natureza e nas vidas dos seres observam-se estes dois grandes processos de concentração e de dilatação.
São, pois, também estes dois processos que encontramos na nossa própria respiração: inspirar... expirar...
Ao inspirar, atrai-se o ar e os pulmões dilatam-se; ao expirar, expele-se o ar e os pulmões contraem-se.
Este movimento ininterrupto de dilatação e de contracção é um reflexo do grande ritmo cósmico.
A inspiração e a expiração, estes dois movimentos de fluxo e de refluxo que enchem e esvaziam os nossos pulmões, são o que nos faz viver.
É uma lei universal: na Natureza, tudo respira, os animais, as plantas e até a terra.
Sim, porque a terra é viva, também ela tem necessidade de inspirar e de expirar.
É claro que ela não faz, como nós, dezoito respirações por minuto, o seu ritmo estende-se ao longo de muitos anos, por isso é imperceptível.
Mas também ela se dilata e se contrai, as suas dimensões nunca são exactamente as mesmas, e talvez seja por causa das suas dilatações e das suas contracções que se produzem rupturas, erupções vulcânicas e muitos outros fenómenos.
A terra é viva, respira, e as estrelas também respiram.
Sim, elas inspiram e expiram, a sua respiração chega até nós e nós sentimo-la sob a forma de influências.
Tudo respira, as árvores, os oceanos e até as pedras.
«Mas - direis vós - não se pode conceber este fenómeno da respiração sem os pulmões.»
Porque não?
A vida não necessita forçosamente dos mesmos órgãos para assegurar as mesmas funções.
Observai as árvores: elas não têm pulmões, nem estômago, nem fígado, nem intestino, no entanto respiram, alimentam-se, assimilam e reproduzem-se...
E muitas vezes vivem durante muito mais tempo do que o homem!
Elas resistem às intempéries, dão flores e frutos perfumados.
Ao passo que o homem, apesar de toda a sua inteligência, é tão frágil que uma coisa de nada pode destruí-lo.
Muitas pessoas têm ideias erradas acerca da Natureza.
Na sua opinião, para se ser vivo é preciso ter um coração, pulmões e estômago como os humanos...
Mas a Natureza não quer saber das suas opiniões e dos seus sistemas.
Ela criou a vida sob uma tal multiplicidade de formas que um dia todos ficarão estupefactos ao descobri-las.
Sim, há ainda tantas coisas por descobrir!
Na terra, existem germes que aguardam há milhões de anos o momento de crescer.

A respiração pode revelar-nos grandes mistérios, mas desde que nós saibamos acompanhá-la de um trabalho do pensamento.
Ao expirar, pensai que conseguis estirar-vos até tocar os confins do Universo, e depois, ao inspirar, voltai até vós, ao vosso ego, que é como um ponto imperceptível, o centro de um círculo infinito.
De novo vos dilatais, e de novo vos contraís...
Descobrireis assim este movimento de fluxo e de refluxo, que é a chave de todos os ritmos do Universo.
Ao procurardes torná-lo consciente em vós, entrais na harmonia cósmica, e processa-se uma troca entre o Universo e vós, pois ao inspirar recebeis elementos do espaço e ao expirar projectais, em retorno, algo do vosso coração e da vossa alma.
Aqueles que sabem harmonizar-se com a respiração cósmica entram na consciência divina.
Mas quantos de vós estão ainda longe de compreender a dimensão espiritual da respiração!
Se sentísseis esta dimensão, trabalharíeis durante toda a vossa vida para inspirar a força e a luz de Deus, e para dar depois essa luz ao mundo inteiro.
Porque a respiração é também isso: distribuir a luz que se conseguiu captar junto de Deus.
Inspirar, expirar... Inspirar, expirar...
Há que saber que a respiração diz respeito a todas as manifestações da vida espiritual.
A meditação é uma respiração, a oração é uma respiração, o êxtase é uma respiração; toda a comunicação com o Céu é uma respiração.
A respiração revela a intensidade da troca.
Quando comunicais com o Céu, respirais profundamente, como se abraçásseis o ser que amais...
A Natureza dispôs por toda a parte meios para se penetrar nestes mistérios.
De certeza que, se os filósofos praticassem uma respiração consciente, encontrariam a solução de certos problemas que para eles ainda são enigmas e sobre os quais, por enquanto, continuam a falar e a escrever sem compreenderem grande coisa a esse respeito.
Aliás, a capacidade de pensar está ligada à respiração.
Naqueles que respiram mal, o cérebro vai perdendo capacidades.

Continua

OMRAAM  MIKHAËL AÏVANHOV

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