sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A MEDITAÇÃO (Cont.II)

Algumas pessoas já me têm dito: «Há já alguns anos que tento meditar, mas o meu cérebro fica bloqueado, não consigo nada.»
Porquê?
Porque elas não compreenderam que cada momento de uma vida não existe isoladamente, mas está ligado a todos os momentos que o precedem e a que chamamos "passado".
Não compreenderam que o seu passado as carrega, as aborrece, e como mesmo assim, querem meditar, forçam o cérebro que bloqueia.
Não há nada a fazer.
Elas nunca pensaram em dizer para si próprias: «Eu quero meditar; portanto, devo preparar o meu cérebro e o meu organismo, devo preparar tudo para ter a possibilidade de fazer um bom trabalho.»
Suponde que estivestes a discutor com alguém. No dia seguinte, quando quiserdes meditar, o velho passado aparece também e vós não deixais de pensar: «Ah! Ah! Ele disse-me isto... e aquilo... se o encontro, ele vai passar um mau bocado.»
Eis o tema em torno do qual andará a meditação.
É um reboliço, uma desordem.
Em vez de vos elevardes até às regiões divinas, ficareis a remoer tudo o que vivestes no passado e, o desfile não pára...
Todo um cortejo de rostos e acontecimentos vêm apresentar-se e é um nunca mais acabar.
A mesma história repete-se durante anos e, evidentemente, não se obtém qualquer resultado.

O homem pode tornar-se todo-poderoso, mas na condição de saber um certo número de coisas e, em particular, que cada momento da existência está ligado aos que o precederam.
Era o que Jesus queria dizer quando aconselhava as pessoas a não se preocuparem com o dia seguinte.
Sim, porque se arrumardes a vossa vida hoje, o dia seguinte encontrar-vos-á livres: podereis dispor de vós próprios como quiserdes, concentrar o vosso pensamento naquilo que desejardes, porque tereis regularizado tudo na véspera.
Ao passo que, se não tiverdes posto nada em ordem, no dia seguinte estareis atravancados, tereis de correr à direita e à esquerda, procurando remediar as lacunas ou erros do passado e não estareis livres para trabalhar no presente nem para criar o futuro.
Portanto, o discípulo que é esclarecido, quando quer meditar, prepara-se com antecedência, purifica-se, não se envolve em toda a espécie de preocupações inúteis, antes procura ter um intenso desejo de se aperfeiçoar para poder ajudar os outros, ser um modelo, ser um exemplo, um filho de Deus; ele está animado do desejo sublime de cumprir a vontade de Deus como Jesus no-lo recomenda nos Evangelhos.
Mas, para realizarmos as prescrições de Jesus, não chega desejarmos isso, é preciso conhecermos certas coisas.
Muitos o desejam, mas não conseguem nada porque não sabem como fazê-lo.
Alguém deixou a torneira da água ou do gás aberta, ou então esqueceu-se do bébé na banheira, e eis que no momento de meditar se lembra disso!...
Como quereis que essa pessoa medite?
Deveis pois, preparar-vos com antecedência, e quando ficardes livres relativamente ao vosso corpo, aos vossos pensamentos e aos vossos sentimentos, quando tiverdes escapado dessa prisão que é a vida quotidiana, começareis a elevar-vos interiormente; sentireis que existe uma nova vida, ampla, profunda, e ficareis tão dilatados, tão maravilhados, que vos projectareis para uma outra região...
Uma região que, na realidade, existe em vós mesmos: sim, esta vida divina corre dentro de vós e vós conseguistes finalmente viver, por um momento, a verdadeira vida.
É assim que o mundo divino começa a despertar em vós e não podeis esquecê-lo: tendes a certeza de que a alma é uma realidade, de que o mundo divino existe e está povoado de inúmeras criaturas.
Porquê esta certeza?
Porque conseguistes despoletar forças ainda desconhecidas, forças muito mais poderosas e benéficas, ao passo que antes estáveis presos numa engrenagem de forças hostis que vos iam consumindo até vos aniquilarem.

Continua
OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

Sem comentários:

Enviar um comentário