quinta-feira, 6 de abril de 2017

RUMO AO REINO DA PAZ






Capítulo I  -  PARA  UMA  MELHOR  COMPREENSÃO  DA  PAZ

Continuação (5)

A maior parte dos humanos só se interessa pelo que é passageiro, ilusório e, lhe trará decepções e desgostos.
Mas é-lhes difícil compreender isso.
Para o compreender é necessário sofrer, sofrer, ficar decepcionado...
É necessário chegar bem ao fundo, ao desespero, para se compreender que aquilo que se desejava não trazia nem a paz, nem a plenitude, nem a glória, nem o poder; nada.
Mas é impossível explicar isto a todos os que são ainda muito jovens.
É preciso ser idoso, muito idoso, interiormente ou exteriormente, para se ligar somente às riquezas eternas.
Os que são jovens ainda brincam com as bonecas, os soldados de chumbo e os castelos de areia; a sua idade não lhes permite preocuparem-se com questões sérias, mas, quando amadurecem, abandonarão tudo por realizações grandiosas e conhecerão a paz.
A paz apenas se instala quando todas as células se puserem a vibrar em uníssono com uma ideia sublime e desinteressada.
É por isso que os sábios têm razão ao dizer que não podeis conhecer a paz enquanto não introduzirdes nas vossas células, em todo o vosso ser, pensamentos de amor, isto é, a misericórdia, a generosidade, o perdão, a abnegação.
Não podeis, porque só estes pensamentos trazem a paz.
Quando tendes alguma coisa a censurar ao vosso vizinho, quando não conseguis perdoar-lhe e matais a cabeça tentando descobrir um modo de vos vingardes... ou então, se alguém vos pediu dinheiro emprestado e estais sempre a pensar que ele tem de vo-lo devolver, não podeis ter paz; estes pensamentos são demasiado pessoais, demasiado egoístas.
E mesmo que estejais tranquilos por alguns minutos, por algumas horas, isso não é ainda a paz, é um pouco de repouso, uma acalmia (mesmo os maus podem ter esta paz) e, em seguida sois novamente surpreendidos pelos vossos tormentos e angústias.
A verdadeira paz é um estado espiritual que não se pode perder depois de se o ter obtido.
Quando tendes o desejo de cumprir a vontade de Deus, isto é, de vos tornardes um benfeitor da humanidade, de amar todos os homens, de os servir, de lhes perdoar, esta ideia faz vibrar em uníssono todas as partículas do vosso ser e nesse momento podeis experimentar a paz.
E essa paz, quando conseguirdes obtê-la, seguir-vos-á por toda a parte: havei-la sentido ontem, hoje ela mantém-se todo o dia... e no dia seguinte, logo ao despertar, de novo ela vos espera.
Ficais admirados ao constatar que nem sequer tendes necessidade de fazer esforços para a encontrar.
Antes, para vos acalmar, éreis obrigados a concentrar-vos durante muito tempo a orar, a cantar ou até a tomar tranquilizantes; agora, isso já não é necessário, a paz está presente em vós.
Trabalhai pois, durante muito tempo sobre esta ideia de amar, de fazer o bem, de tudo perdoar... até ela se tornar tão poderosa que impregne todas as vossas células, que começarão a vibrar em uníssono com ela.
Então, a paz não vos deixará mais, e mesmo que alguns acontecimentos venham perturbar-vos, olhando para dentro de vós descobrireis que a paz ainda lá se encontra, apesar de tudo.
Porque já não é como antes, um apaziguamento, uma calma fabricada, imposta, que só dura o tempo dos vossos esforços para a manter...
É um estado que, por assim dizer, faz parte de vós.
Já vistes as feras?
Enquanto o domador está ali, elas fingem que se entendem, mas, logo que ele se afasta, lançam-se novamente umas contra as outras para se despedaçar!
E as crianças numa sala de aula?
Enquanto o professor está lá, elas estão sossegadamente nos seus lugares mas, logo que este sai, as crianças agitam-se, gritam e brigam.
Acontece o mesmo com as células do organismo: enquanto fazeis esforços para as dominar, elas aceitam acalmar-se um pouco, mas se vos ausentardes, isto é, se estiverdes a pensar noutra coisa qualquer, os problemas recomeçarão.
É necessário, pois, ocupar-se delas, torná-las sensatas, lavá-las, alimentá-las, como se fossem crianças vossas alunas.
 Sim, e quando tiverdes conseguido instruí-las, quando elas souberem fazer muito bem o seu trabalho sem querelas nem discussões, então a paz estará instalada.
Em qualquer caso, não penseis que, pelo facto de mudardes de apartamento, de amigos, de profissão, de livros, de país, de religião... ou de mulher, tereis a paz.
A paz não depende dessas mudanças.
Uma pequenina tranquilidade, umas tréguas, sim, mas logo a seguir, lá onde estiverdes, outros tormentos virão assaltar-vos, porque não compreendestes que a paz depende unicamente de uma maneira de pensar, de sentir e de agir.
Mudai isso e, ainda que permaneçais nos mesmos lugares, com as mesmas dificuldades, tereis paz.
Porque a paz não depende exclusivamente das condições exteriores, ela vem de dentro e jorra, invade-nos, apesar das turbulências e das trepidações do mundo inteiro.
É como um rio que vem de cima.
E quando possuís esta paz sois capazes de a derramar, de a espalhar, como algo real, vivo; fazeis um trabalho sobre o mundo inteiro, transmitindo esta paz aos outros.
Actualmente há tantas pessoas que dizem que trabalham para a paz no mundo!
Mas, na realidade, elas nada fazem para que esta paz se instale verdadeiramente.
Não passam das palavras...
Criam associações a favor da paz, mas é para se evidenciarem, para serem convidadas, para receberem condecorações; a sua vida não é uma vida para a paz.
Elas nunca pensaram que, em primeiro lugar, são todas as células do seu corpo, todas as partículas do seu ser físico e psíquico, que devem viver segundo as leis da paz e da harmonia a fim de emanarem essa paz para a qual elas dizem que pretendem trabalhar.
Enquanto escrevem sobre a paz, enquanto se reúnem para falar da paz, continuam a alimentar guerra em si próprias, porque estão constantemente prontas a lutar contra uma coisa ou outra.
Que paz podem elas trazer, afinal?
A paz, o homem deve instalá-la primeiro em si próprio, nos seus actos, nos seus sentimentos, nos seus pensamentos.
Só então ele trabalha verdadeiramente para a paz.

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