domingo, 2 de abril de 2017

RUMO AO REINO DA PAZ






Capítulo I  -  PARA  UMA  MELHOR  COMPREENSÃO  DA  PAZ


Um dia, eu assisti a um debate  público sobre a paz.
Várias personalidades, muito qualificadas, instruídas, inteligentes, simpáticas, divertidas até, usaram da palavra.
Graças a elas aprendi que a paz é a mais desejável situação para toda a humanidade, ao passo que a guerra é o pior dos males.
Eu estava verdadeiramente encantado e disse para comigo: «Até que enfim que se compreendeu os benefícios da paz; é evidente que a humanidade vai ser salva!»
Mas, apesar disso, eu queria ouvir de que maneira se ia instalar a paz.
Vários oradores expuseram projectos.
Um propôs que se criasse uma polícia mundial que impedisse os países de se combaterem.
Eis algo magnífico, mas como proceder?
Este projecto fez-me pensar naquela fábula de La Fontaine em que os ratos se reuniram em assembleia para descobrir uma maneira de se protegerem do gato.
Após muitas discussões, o decano dos ratos apresentou uma solução: era preciso, dizia ele, atar uma sineta ao pescoço do gato; assim ouvi-lo-iam ao longe.
Esta solução maravilhosa foi acolhida com aplausos.
Infelizmente, nunca se chegou a encontrar o rato que fosse suficientemente audacioso para ir pendurar a sineta no pescoço da gato!
É exactamente a mesma coisa para este projecto da polícia mundial.
Onde encontrar uma força internacional suficientemente honesta e imparcial para assumir esta função e, depois, como impô-la a todas as nações?
Um outro orador veio explicar que a paz não seria conseguida senão através do federalismo e lançou-se em toda a espécie de teorias das quais ninguém compreendeu grande coisa.
Um terceiro tomou a palavra para acusar o Estado de abusar do seu poder e de transformar os cidadãos em escravos...
Enfim, depois de ter ouvido muitos outros oradores, fui obrigado a concluir que a paz não poderia vir tão cedo, porque ninguém a compreende nem sequer sabe realmente o que ela é.
Só um ponto de vista iniciático pode aclarar a questão porque, para realizar a paz, é preciso ter um grande conhecimento do ser humano.
Podereis dizer: «Oh, o ser humano!, mas ele já é conhecido!»
Não, não se conhece ainda a sua estrutura psíquica com os seus diferentes corpos subtis, cada um com necessidades bem definidas, com aspirações a satisfazer.
E, sobretudo, não se conhece o ser humano tal como nós o apresentámos, com as suas duas naturezas, o eu inferior e o Eu superior, a personalidade e a individualidade...
Pois bem: enquanto aqueles que querem a paz não tiverem esta consciência, a paz não virá ao mundo, façam eles o que fizerem.

De momento, o que se vê, sobretudo, é pessoas a acusarem-se encarniçadamente umas às outras de serem causadoras da guerra.
E julgam que assim estão a trabalhar a favor da paz.
Para uns, os culpados são os ricos; para outros, são os intelectuais, os políticos ou os cientistas.
Os crentes acusam os que não pertencem à sua igreja de serem hereges que conduzem a humanidade para a perdição e os não crentes acusam os crentes de fanatismo...
Observai e vereis que é sempre pela supressão de algo exterior a si, coisas ou pessoas, que cada um julga poder instalar a paz no mundo.
E é aí que todos se enganam.
Mesmo que se suprima o exército e os canhões, no dia seguinte os humanos terão inventado outros meios para matar.
A paz é um estado interior e jamais ele será obtido suprimindo o que quer que seja no exterior.
É dentro de si, primeiramente, que se deve suprimir as causas da guerra.

Continua

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