quinta-feira, 13 de abril de 2017

O NATAL E A PÁSCOA NA TRADIÇÃO INICIÁTICA





As festas do Natal e da Páscoa, anualmente celebradas em todo o mundo cristão
para comemorar o nascimento e a ressurreição de Jesus, inscrevem-se numa
longa tradição iniciática muito anterior à era cristã.
A sua inserção no ciclo do ano - solstício de Inverno e equinócio da Primavera -,
que realça o seu significado cósmico, ensina-nos que o homem,
por fazer parte do Cosmos,
participa intimamente nos processos de gestação e de eclosão que se desenrolam na Natureza.
O Natal e a Páscoa - o segundo nascimento e a ressurreição - são, na realidade,
duas maneiras diferentes de apresentar a regeneração do homem,
a sua entrada no mundo espiritual.



Capítulo  IV  (parte)  -  «SE NÃO MORRERDES, NÃO VIVEREIS»

...
Para ressuscitar e atingir a imortalidade existem vários métodos que nos são revelados pelos símbolos dos dois triângulos, um com a ponta virada para cima e outro com a ponta virada para baixo.
Estes dois triângulos representam os dois processos universais da evolução e da involução; da evolução da matéria e da involução do espírito.
Eles ensinam-nos como devemos elevar-nos até à Divindade, para nos fundirmos nela, ao mesmo tempo que devemos atraí-la para que venha habitar e manifestar-se em nós.
Vós dizeis: «Senhor, já não sou eu que vivo e me manifesto, mas o Teu Espírito em mim.»
Vós perdeis-vos no espaço infinito a fim de que não reste um único átomo de vós e que Ele venha, Ele, o Poderoso, o Grande, o Forte, ocupar o vosso lugar...
É assim que é preciso compreender a morte que nos é pedida do ponto de vista espiritual: não destruís o vosso corpo físico mas unicamente o princípio que, em vós, mantém a morte.
É o «Solve» e «Coagula» dos alquimistas: vós diluís-vos, fundis-vos no espaço, e pedis a Deus, que é a imensidão, que venha encarnar-se em vós.
Compreendeis agora como estes dois triângulos exprimem o processo da ressurreição?
Eles são conhecidos sobretudo pelo nome de hexagrama ou selo de Salomão, mas este símbolo existia muito antes de Salomão.
Evidentemente, a verdadeira ressurreição, total, definitiva, do ser humano, não se faz num instante, mas progressivamente.
Quando acendeis uma vela, ficais a saber que podereis incendiar a Terra inteira, visto que possuís já uma chama.Do mesmo modo, desde o momento em que acendeis uma célula do vosso coração ou do vosso cérebro, pode dizer-se que estais ateados: mesmo que todas as outras células não estejam ainda acesas, podem vir a estar.
Na Páscoa, nas igrejas ortodoxas, o sacerdote acende um círio, depois transmite a chama ao círio do seu assistente, e assim, pouco a pouco, acendendo cada um o seu círio com o do vizinho, em breve toda a igreja está iluminada.
Eis algo que pode produzir-se também em vós: a partir do momento em que acendestes uma célula, todo o vosso corpo pode ser aceso e iluminado, sob a condição, evidentemente, de a natureza inferior não vir opor-se ao processo de regeneração.
A ressurreição definitiva subentende que já se produziram várias ressurreições...
Portanto, caros irmãos e irmãs, é preciso que consigais ressuscitar ao menos uma célula, porque ela é capaz de acender uma outra, a seu lado, e essa, uma outra... e é deste modo que a luz se propagará, pouco a pouco, em todo o vosso ser.

«Se não morrerdes, não vivereis.»
Morrer significa fundir-se no infinito para ceder o lugar ao Senhor, a fim de que seja Ele a vir reinar em vós.
Já não estais agarrados à vossa existência, quereis desaparecer, mas com uma única condição: que seja o próprio Deus que tome o vosso lugar.
E se insistirdes verdadeiramente, Ele é obrigado a capitular, porque utilizais forças da mesma natureza que as Suas.
Ele não pode dizer: «Vejamos, vamos reflectir, vamos estudar como ele viveu no passado.»
Já não há passado, já não há nada: perante semelhante desejo, tudo o resto é apagado, apenas fica a decisão que tomastes hoje.
Enquanto não quiserdes ceder em vós o lugar a um ser superior, nem mesmo ao Senhor, continuareis vulneráveis, fracos, medrosos, infelizes.
Não existe religião mais elevada que o sacrifício: aceitar morrer para viver, para viver uma vida diferente da vossa, para viver a vida de Deus.
Quisestes desaparecer, mas não só desaparecestes, como vos tornastes maiores do que antes.
É isso o verdadeiro heroísmo.
Os verdadeiros heróis são aqueles que não têm medo de desaparecer para serem substituídos pela Divindade.
Agora posso dar-vos um exercício.
Imaginai que vos projectais para as alturas e, ao mesmo tempo que subis, estendei-vos no espaço infinito, diluís-vos na Alma Universal e desapareceis sem receio, sem medo.
Mesmo que tenhais a impressão de ter perdido toda a consciência de vós mesmos, isso não deve inquietar-vos.
E, ao mesmo tempo que vos dissolveis no espaço, pensai que o Espírito Divino desce sobre vós e se instala em vós para aí trabalhar e, é ele que fala, é ele que age, é ele que se manifesta.
Não vos inquieteis com aquilo que se possa passar, vós continuareis a ser vós; apesar de já não serdes vós, não perdeis nada do vossa verdadeira identidade.
Mostrai-me algo no mundo mais significativo do que estas duas palavras: vida e morte.
Não há.
Tudo está contido nestes dois processos: a vida e a morte.
São as duas palavras mais poderosas que existem.
Dizei somente: «a vida» ou «a morte», tudo aí está contido, e as pessoas estremecem ou exaltam-se.
Tudo o resto não é nada a par destas duas palavras.
É preciso morrer para possuir a verdadeira vida, e aquele que quer viver está já a morrer.

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