segunda-feira, 3 de abril de 2017

RUMO AO REINO DA PAZ






Capítulo I  -  PARA  UMA  MELHOR  COMPREENSÃO  DA  PAZ

Continuação (2)

Tomemos um exemplo muito simples.
Um homem faz uma refeição abundante com chouriços, presuntos, frangos, copiosamente regados com bons vinhos.
Depois da refeição, diz para consigo: «Agora vou procurar um lugar tranquilo para repousar.»
Ele encontra realmente um lugar tranquilo, mas sente que algo dentro de si começa a agitar-se.
Pega num cigarro, fuma e depois estira-se pensando que gostaria muito de ter uma mulher simpática junto dele.
Onde encontrá-la?
Em casa do vizinho, claro!
Há um muro, mas isso nada quer dizer, ele salta por cima!
Vós imaginais a continuação da história...
Evidentemente, nem sequer vale a pena falar de paz!...

A paz não é um estado que se possa obter mecanicamente.
Se procurais a paz mantendo em vós condições de perturbação e de excitação, jamais a encontrareis.
A paz é um resultado, uma consequência; ela significa que todas as funções e actividades interiores e exteriores do homem estão perfeitamente equilibradas e harmonizadas.
É necessário pois, conhecer os meios e os métodos capazes de produzir a paz e, isso é toda uma ciência.
Desde que mantenha certos desejos, certas cobiças, o homem, faça o que fizer, não pode estar em paz, porque, por intermédio desses desejos e dessas cobiças, ele já introduziu no seu foro íntimo o germe da desordem.
Tomemos o exemplo de um homem que cometeu um roubo: automaticamente, ele pensa que talvez alguém o tenha visto e, não consegue deixar de imaginar tudo aquilo que poderá vir a acontecer-lhe: vão surpreendê-lo, detê-lo, metê-lo na prisão...
Nunca está seguro de não ter sido visto, de não ter deixado algumas pistas ou de não ter feito alguma coisa que possa revelar o seu furto, e não consegue estar tranquilo: perde o apetite, o sono, e só pensa em esconder-se.
Um outro pediu dinheiro emprestado prometendo restituí-lo mas, como é incapaz de se privar um pouco para juntar a quantia em dívida, não a restitui e, ei-lo perseguido pelo seu credor, ao qual já não sabe como escapar...
Um outro ainda, dirige palavras duras e ofensivas a um amigo e faz dele um inimigo.
Eis, mais uma vez, a paz ameaçada!
Não vale a pena continuar, poderíamos encontrar centenas de exemplos.
Sim, as pessoas dão sempre provas de um talento incrível para perder a paz.
Se tendes uma matilha que ladra atrás de vós porque tendes dívidas, porque roubastes, saqueastes, ou porque não cumpristes as vossas promessas, como quereis ter paz?
Responder-me-eis: «Fugindo aos meus credores.»
De acordo, mas aos credores que estão dentro de vós. às inquietações, aos remorsos que vos perseguem, como conseguireis fugir-lhes?...
Raciocinar assim revela falta de saber e de conhecimentos verdadeiros.
Não tenhais ilusões, o pensamento continuará a atormentar-vos.
Aparentemente é muito fácil ter paz: basta ir para as montanhas altas onde reinam o silêncio e a solidão.
Mas eis que, mesmo lá, o homem não tem paz.
Porquê?
Porque levou um transístor na cabeça; sim, um transístor de que ele nunca se separa e que está sempre a trabalhar...
E que ouve ele?
Muitas vezes este transístor está sintonizado com as estações do Inferno, onde também há músicas, é certo, mas que músicas, que algazarra!
Ele encontra-se, portanto, lá nos cumes, na tranquilidade e no silêncio.
Sim, exteriormente tudo é calmo, mas interiormente, as tempestades e os furacões fazem estragos.
Então, como obter a paz?
Toda a gente sabe que o corpo humano é constituído por um grande número de órgãos ligados entre si; cada um realiza um trabalho particular, mas todos devem estar afinizados, em harmonia, senão haverá desordens, aquilo a que em música se chama dissonâncias.
O homem só pode ter boa saúde e estar em paz se todos os seus órgãos fizerem o seu trabalho desinteressadamente, impessoalmente, para o bem de todo o organismo.
Mas esta saúde, esta paz, ainda não passam de estados puramente físicos.
Para se ter paz de alma e de espírito é preciso ir muito mais alto, é preciso que todos os elementos que constituem o outro organismo, o organismo psíquico, vibrem também em uníssono, sem egoísmo, sem conflitos, sem separatividade, como os órgãos do organismo físico.
A paz é, pois, um estado de consciência superior; só que, como ela também depende da saúde do nosso organismo e como os mínimos problemas que nele aparecem podem comprometer a nossa harmonia psíquica, é necessário que estes dois organismos, o físico e o psíquico, estejam em harmonia para que a paz se instale completamente.

Continua

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