domingo, 12 de fevereiro de 2017

O HOMEM À CONQUISTA DO SEU DESTINO







A  LEI  DE  CAUSA  E  EFEITO

I

Sempre que age, o homem desencadeia inevitavelmente certas forças que, também inevitavelmente, produzirão certos resultados.
Era esta ideia de relação entre causa e consequência que estava inicialmente contida na palavra «karma».
Foi só mais tarde que «karma» tomou o sentido de pagamento por uma transgressão cometida.
O Karma-yoga, um dos numerosos yogas que existem na Índia, mais não é do que uma disciplina que ensina o indivíduo a desenvolver-se por meio de uma actividade desinteressada, graças à qual se liberta.
Quando o homem introduz nos seus actos, a ambição, a manha, calculismos duvidosos, contrai dívidas que terá de pagar, e nesse momento a palavra «karma» toma o sentido que em geral as pessoas lhe atribuem: castigo por faltas passadas.
Na realidade, pode dizer-se que o karma (no segundo sentido do termo) se manifesta sempre que uma acção não é executada na perfeição, o que acontece na maioria dos casos.
Mas o homem vai fazendo tentativas, vai-se esforçando até atingir a perfeição, e enquanto as suas experiências se malograrem ele deve corrigir-se, reparar os seus erros e, é claro que para isso terá de penar, de sofrer.
Direis vós: «Mas então, dado que ao agir, as pessoas cometem obrigatoriamente erros e terão de sofrer para os reparar, mais vale não fazer nada!»
Não, há que agir.
Evidentemente, sofrereis, mas aprendereis, evoluireis... e, um belo dia deixareis de sofrer.
Quando tiverdes aprendido a trabalhar correctamente, já não provocareis karma.
Cada movimento, cada gesto ou cada palavra, desencadeia certas forças que acarretam consequências, isso é certo.
Mas suponhamos que esses gestos ou essas palavras são inspirados pela bondade, pela pureza, são desinteressados; nessa altura atrairão consequências benéficas, e a isso chama-se «dharma».
O «dharma» é a consequência duma actividade ordenada, harmoniosa, benéfica.
Aquele que é capaz de empreender um tal trabalho, escapa à lei da fatalidade e coloca-se sob a lei da Providência.
Não fazer nada para evitar trabalhos e sofrimentos não é a solução ideal; é preciso ser activo, dinâmico, cheio de iniciativa, mas agir com outro móbil, não por egoísmo e interesse pessoal.
É a única maneira de escapar a consequências desastrosas.
Escapar às consequências é impossível: haverá sempre causas e consequências, seja qual for a vossa actuação; simplesmente, se conseguirdes agir de maneira desinteressada, já não tereis como consequência, a dor, o sofrimento, mas sim a alegria, a felicidade, a libertação.
Se, só para ficar em paz, nada fizerdes, não vos desenvolvereis, não aprendereis nada, não ganhareis nada.
Evidentemente, não cometereis nenhum erro, mas  sereis como uma pedra: as pedras nunca cometem erros!
É preferível errar e até macular-se, sujar a sua alma, mas aprender.
Como quereis vós que não caiam alguns pingos de cimento ou de tinta quando se está a fazer uma obra?
É impossível!
É necessário tolerar as manchas, contanto que a construção prossiga e que o trabalho se faça.
No fim, esfrega-se, lava-se, muda-se de roupa, mas pelo menos a casa está pronta.
O Mestre Peter Deunov dizia, um dia: «Dou a cada um de vós um livrinho para aprenderdes o alfabeto (em búlgaro, dizemos: «bukvartché»... e vós?... um abecedário?
Bem, um abecedário...)
Ao fim de um ano peço que mo devolvais.
Alguns devolvem-me esse «bukvartché» completamente limpo, impecável, nem o abriram, portanto, nada aprenderam.
Outros, pelo contrário, entregam-mo riscado, rasgado, sujo; abriram-no e fecharam-no centenas de vezes, levaram-no para todo o lado, até comeram em cima dele...
Sim, mas agora sabem ler!»
E o Mestre concluía: «Eu prefiro assim.»
Nessa altura eu era muito jovem, e lembro-me que lhe perguntei, muito timidamente: «E eu, a que categoria pertenço?»
Ele respondeu-me: «Tu? À segunda categoria.»
Está claro que fiquei contente, depois compreendia que assim era melhor.
Sim, eu não sei em que estado lhe devolvi o «bukvartché», mas em todo o caso, ele classificou-me na segunda categoria, a das pessoas que querem que o trabalho se faça...
E é verdade.
Quantos erros se cometerão, quantas nódoas e salpicos se provocarão, quantas críticas e injúrias se receberão, isso não tem importância.
É necessário saber ler, é necessário fazer o trabalho, é necessário terminar a construção.
E todos aqueles que são sempre muito razoáveis, muito prudentes, para não se comprometer, não avançam.
Então, Senhor Deus, que será dessa gente?
Está escrito no Apocalipse: «Sê frio ou sê quente.
Se fordes morno, vomitar-te-ei pela minha boca.»
Por que é que alguns querem continuar a ser mornos?
Não se deve ter medo de errar.
Quando aprendeis uma língua estrangeira, se não disserdes nada com medo de ser ridículos por cometer alguns erros, nunca sabereis falar.
É preciso ousar ser ridículo e cometer algumas faltas, mas aprender a falar.
Pois bem, acontece o mesmo com o karma: não se deve ficar inactivo por medo de cometer faltas que será necessário reparar.
Isto porque, à medida que as pessoas se forem treinando a dar aos seus actos um objectivo divino, não mais provocarão o karma, mas sim o dharma, ou seja, as graças e as bençãos do Céu.

Continua

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