quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A REENCARNAÇÃO

MESTRE  OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV


Conferência improvisada
Vidélinata (Suiça), 11 de Dezembro de 1966


Gostaria de vos falar hoje da reencarnação, porque me apercebi, desde há muito tempo, que esta questão preocupa e inquieta alguns de vós, a quem toda a vida foi ensinado que o homem só vive uma vez e, que agora, ao ouvir falar de reencarnação, ficam perturbados e bastante confusos.
Poderíamos alargar-nos bastante em relação a esta questão; expor, por exemplo, o que pensavam a este respeito os Tibetanos, os Hindús, os Egípcios, falar dos seus trabalhos e das suas experiências.
Mas contentar-me-ei em interpretar algumas passagens das Escrituras, e provar-vos-ei que o próprio Jesus conhecia e aceitava a reencarnação.
Dir-me-eis que haveis lido os Evangelhos de fio a pavio sem nunca ter encontrado a palavra "reencarnação".
Mas eu responder-vos-ei que não é de admirar que não se tenha mencionado explicitamente a reencarnação numa época em que toda a gente acreditava que ela é uma realidade.
Como é que os evangelistas poderiam suspeitar que era necessário referir especificamente a reencarnação, prevendo uma época em que as pessoas deixariam de acreditar nela?
Eles desenvolveram tão pouco as coisas nos seus escritos, que não iriam alongar-se sobre um assunto que fazia parte da tradição.
Isto não é convincente?...
Bom, bom, já ireis ficar convencidos.
Estudemos nos Evangelhos certas questões que são colocadas por Jesus ou pelos seus discípulos, e as respectivas respostas.
Um dia, Jesus perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que eu sou?»
Que significa esta pergunta?
Já vistes alguém perguntar: «Quem dizem os homens que eu sou?»
As pessoas sabem quem são e não se interrogam sobre o que os outros dizem a esse respeito.
Para fazer semelhante pergunta é necessário acreditar na reencarnação.
E observai o que respondem os discípulos:«Uns dizem que tu és João Baptista; outros, que és Elias; outros, que és Jeremias ou um dos profetas.»
Como se pode dizer que alguém é tal ou tal pessoa que já morreu há imenso tempo, se não se tiver como base a ideia de reencarnação?
Uma outra vez, Jesus e os seus discípulos encontravam-se perante um cego de nascença, e os discípulos perguntaram: «Rabi, quem pecou, este homem ou os seus pais, para que ele tenha nascido cego?»
Também neste caso, alguém faria perguntas tão absurdas se não acreditasse na reencarnação?
Como é que este homem poderia ter pecado no ventre da sua mãe?
A qual botequim, a qual "boîte", poderia ele ter ido?
Que negócio desonesto fazia ele?
Quem é que tinha assassinado?
Ou se trata de uma pergunta estúpida ou então ela subentende a crença numa vida anterior.
Vós direis: «Sim, mas os discípulos de Jesus não eram instruídos, conta-se que eles eram pescadores e, por isso poderiam fazer perguntas um tanto esquisitas.»
Se fosse esse o caso, Jesus ter-lho-ia feito notar.
Podemos ver nos Evangelhos que em certos casos ele não hesita em repreender os seus discípulos.
Ora, ele não os repreende; responde-lhes simplesmente: «Isto não aconteceu porque ele ou os seus pais pecaram...»
Este é também um aspecto importante.
Os discípulos puseram a hipótese de ter sido o pecado dos pais a causa da cegueira do filho, porque tinham aprendido na lei hebraica que cada anomalia, cada enfermidade, cada infelicidade, é devida a uma transgressão das leis, mas que muitas vezes uma pessoa pode pagar por outra e, por isso, quando vemos alguém infeliz, não podemos saber se ele pecou ou se está a sacrificar-se por uma outra pessoa.
Tratava-se de uma crença admitida pelos Judeus.
Como tudo o que pode acontecer de mau é o resultado de uma transgressão, os discípulos fizeram aquela pergunta, porque sabiam que um homem não pode nascer cego sem que haja uma razão para isso... porque apeteceu a Deus fazê-lo cego, como os cristão julgam!
E, por isso, Jesus respondeu: «Isto não aconteceu porque ele ou os seus pais pecaram, mas para que as obras de Deus se manifestem através dele», isto é, para que, ao passar por aqui, eu o cure e o povo creia em mim.
E ele explicou-lhes: «Foi-vos ensinado que os homens recebem sofrimentos por duas razões: ou cometeram pecados e são punidos, ou então, não tendo cometido pecados, tomam sobre si o carma dos outros, sacrificando-se para evoluir.
Mas existe uma terceira categoria, que terminou a sua evolução, que é livre, e a quem ninguém obriga a descer novamente à terra.
E, muitas vezes, eles descem porque aceitam suportar qualquer tipo de doença, sofrimento ou enfermidade e, até ser martirizados, a fim de ajudar os humanos.
Pois bem, este nado cego faz parte da terceira categoria.
Nem ele pecou nem os seus pais pecaram; ele desceu à terra com esta enfermidade para que eu o curasse e toda a gente acreditasse em mim.
Assim este homem salvava uma grande quantidade de pessoas.

Continua

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