sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A REENCARNAÇÃO (Continuação)

MESTRE  OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV


Conferência improvisada

Vidélinata (Suiça), 11 de Dezembro de 1966


Mas avancemos um pouco mais: vou mostrar-vos agora, que sem a reencarnação, a religião e, até mesmo a própria existência, deixa de ter sentido.
Procurai os padres e os pastores e perguntai-lhes: «Explicai-me por que razão é que aquele homem é rico, belo, inteligente, forte e obtém sempre sucesso naquilo que empreende, e aquele outro é doente, pobre, miserável e estúpido?»
Eles responder-vos-ão que é a vontade de Deus.
Alguns falar-vos-ão da predestinação e da graça, mas isso não vos avançará qualquer explicação.
De qualquer maneira, para eles é a vontade de Deus.
Analisemos pois, esta resposta.
(Já que Deus nos deu um pouco de massa cinzenta, não a deixemos criar ferrugem).
Portanto, o Senhor tem caprichos; Ele faz o que lhe apetece, dá tudo a uns e nada aos outros.
Bom, estou a perceber... Ele é Deus, é essa a Sua vontade; é magnífico!
Perante isso, inclino a minha cabeça.
Mas, nesse caso, não consigo compreender é que depois Ele fique descontente, furioso, e se sinta ultrajado quando aqueles a quem nada deu de bom, cometem faltas, são maus, descrentes, criminosos.
Se foi Deus que deu aos humanos esta mentalidade, esta falta de inteligência ou de coração, porque é que Ele os pune?
Ele, que tem todos os poderes, não poderia tê-los tornado bons, honestos, inteligentes, sábios, piedosos, magníficos?
Não só Ele é o culpado dos crimes que eles cometem, mas ainda por cima os pune por causa desses crimes!
Aqui é que a coisa não bate certa.
Ele tem todos os poderes, Ele faz aquilo que quer, está certo, não podemos censurá-lo; mas então por que razão não é Ele mais consequente, mais lógico, mais justo?
Ao menos deveria deixar os humanos tranquilos.
Mas não, o que Ele faz é lançá-los no Inferno para toda a eternidade!
E, também aqui, eu fico estupefacto; e digo: «Durante quanto tempo é que eles pecaram?
Trinta anos, quarenta anos?
Bom, então que fiquem no Inferno durante quarenta anos; mais não.
Agora para a eternidade!...»
Neste ponto, com franqueza, já não estou de acordo.
Raciocinai um pouco!
Mas não, as pessoas não ousam raciocinar, tão obnubiladas estão por aquilo que lhes ensinaram.
Parece que é um crime raciocinar, mas então para que lhes serve a inteligência?
Se Deus no-la deu, para que foi?
Se aceitarmos a reencarnação, se a estudarmos e a compreendermos, tudo mudará.
Deus é verdadeiramente o Senhor do Universo, o maior, o mais nobre, o mais justo, e nós compreendemos que se somos pobres, estúpidos, infelizes, é por nossa culpa, porque não soubemos utilizar tudo aquilo que Ele nos deu na origem, quisemos fazer experiências que nos saíram caras; e Ele, o Senhor, como é generoso e tolerante, deixou-nos agir, dizendo: «Bem, eles irão sofrer, irão dar umas cabeçadas, mas não faz mal, pois eu voltarei a dar-lhes as minhas riquezas e o meu amor...
Eles têm numerosas reencarnações diante deles...»
Portanto, Ele deixou-nos fazer a nossa vontade e agora tudo o que nos acontece é por nossa culpa.
Por que razão é que a Igreja lançou toda a responsabilidade para cima do Senhor?
Vós direis: «Não, ela não fez isso, suprimiu simplesmente a crença na reencarnação.»
Na realidade, se reflectirmos um pouco, vem dar ao mesmo.
Até ao século quarto, os Cristãos acreditavam na reencarnação, tal como os Judeus, os Egípcios, os Hindús, os Tibetanos, etc. ...
Mas os padres da Igreja pensaram, sem dúvida, que essa crença fazia com que as coisas avançassem muito lentamente, que as pessoas não estavam interessadas em ser melhores, e por isso quiseram incitá-las a aperfeiçoar-se numa única vida, pelo que suprimiram a reencarnação.
Aliás, pouco a pouco, a Igreja inventou coisas tão horríveis para assustar as pessoas, que na Idade Média só se acreditava nos diabos, no Inferno e nos castigos eternos.
A crença na reencarnação foi, pois, suprimida para que as pessoas se aperfeiçoassem em função dos medos e receios, mas não só elas não se melhoraram, como se tornaram piores... e ainda por cima, ignorantes!
É por isso que é necessário retomar esta crença; caso contrário tudo está fora do seu lugar: a vida não tem sentido, o Senhor é um monstro, etc...
A questão da reencarnação foi estudada cientificamente.
Existem provas da sua veracidade graças a pessoas que se recordam de ter vivido num determinado local numa dada época; mas não irei alargar-me sobre isso, pois existe um número suficiente de livros que tratam deste assunto, ou não fosse esta a maneira como os lama tibetanos escolhem o
 Dalai-Lama...
Relatar-vos-ei apenas um caso extraordinário que conheci na Bulgária.
Um dia veio à Fraternidade de Sófia um casal que se sentia muito preocupado com as coisas incompreensíveis que o seu filho dizia: «Um dia, levá-mo-lo a passear a um local que ele nunca tinha visto e ele gritou: Oh! Mas eu conheço este local, já aqui vim.
Fez até a descrição exacta dos arredores e, no entanto, nunca ali tinha estado.»
(No entanto, os pais sabiam que o seu primeiro filho tinha ali estado).
«Não se recordam?
Quando eu ia para a escola, escondia-me ali... e foi acolá que me afoguei no rio.»
Com efeito, era ali que o seu primeiro filho morrera afogado, mas este outro não tinha conhecimento de nada, ninguém lhe falara a esse respeito.
Portanto, o seu primeiro filho tinha vindo encarnar-se na mesma família.
É raro uma criança vir encarnar-se duas vezes na mesma família, mas pode acontecer.
Se interrogarmos as crianças até ao sétimo ano de idade, elas recordar-se-ão de muitas coisas.
Mas, em lugar de as escutar, há muitas mães que lhes dão uma palmada, dizendo: «Cala-te, não digas asneiras...»
Uma vez, duas vezes, três vezes... por fim as crianças já não ousam contar nada.


Continua

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