sábado, 24 de setembro de 2016

A REENCARNAÇÃO (Continuação)

MESTRE  OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV



Conferência improvisada

Vidélinata (Suiça), 11 de Dezembro de 1966


Já vos demonstrei que, apesar de a palavra "reencarnação" não estar escrita nos Evangelhos, certas passagens demonstram que esta crença pertence à tradição.
Posso dar-vos ainda outro exemplo.
Há uma passagem em que Jesus diz: «Sede perfeitos como o meu Pai Celeste é perfeito.»
Que pensar desta frase?
Ou Jesus fala sem reflectir, pois está a pedir a homens tão cheios de imperfeições para atingirem em alguns anos a perfeição do Pai Celeste, ou ele não tem a mínima ideia de quem é o Pai Celeste e, imagina que é fácil para as pessoas tornarem-se como Ele.
Em ambos os casos, isso não é muito elogioso para Jesus.
Na realidade, também esta frase subentende a reencarnação.
Jesus não pensava que o homem seria capaz de se tornar perfeito numa única existência, não, mas sabia que, à força de desejar esta perfeição e de trabalhar para a obter, reencarnações e reencarnações mais tarde ele acabará por atingir o objectivo.
E o que foi que Moisés escreveu no início do livro do Génesis, quando faz o relato da creação do homem?
«E Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e à nossa semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos...
Deus creou o homem à sua imagem, à sua imagem Ele o creou.»
E onde reside essa semelhança?
Deus tinha, sem dúvida, a intenção de crear o homem à sua imagem e à sua semelhança, isto é, perfeito como Ele, mas não o fez.
Ele creou-o somente à sua imagem, com as mesmas faculdades, mas sem lhe dar a plenitude dessas faculdades, a semelhança.
Observai a glande de um carvalho; ela é uma imagem do seu pai, o carvalho, isto é, ela contém as mesmas possibilidades, mas não se lhe assemelha, não é ainda como o carvalho, só virá a sê-lo depois de plantada.
O homem foi creado à imagem de Deus, isto é, possui a sabedoria, o amor e o poder, mas num grau tão pequeno em comparação com a sabedoria, o amor e o poder do Creador!
Mas, um dia, quando se desenvolver - com o tempo - o homem será semelhante a Ele, possuirá as Suas virtudes em plenitude.
Por conseguinte, como vedes, esse desenvolvimento, essa passagem da imagem à semelhança, pressupõe a reencarnação.
Deus disse: «Creemos o homem à nossa imagem e à nossa semelhança», mas Ele não o fez.
«Deus creou o homem à sua imagem, à sua imagem Ele o creou»; foi na ausência da palavra semelhança e na repetição da palavra imagem que Moisés escondeu a ideia de reencarnação.*
Mas as pessoas não sabem ler os livros... e muito menos o grande Livro da Natureza viva, onde também está inscrita a reencarnação.
Tomemos a imagem da árvore.
Só os cabalistas compreenderam verdadeiramente a imagem da árvore, da qual fizeram um símbolo do Universo: todas as creaturas têm lugar em alguma parte desta árvore, seja como raízes, seja como casca, folhas, flores ou frutos.
Segundo a sua ciência imensa, todas as existências, todas as actividades, todas as regiões têm o seu lugar na Árvore da Vida.
Em diferentes épocas do ano, as folhas, as flores e os frutos caem da árvore; depois, decompõem-se e transformam-se em estrume, que é absorvido pelas raízes da árvore.
E o mesmo acontece com os seres.
Quando um homem morre, ele é de novo absorvido pela Árvore Cósmica, mas em breve reaparece sob uma outra forma: ramo, flor, folha...
Nada se perde, os seres desaparecem e reaparecem sem cessar nesta Árvore formidável que é a Árvore da Vida.
Como vedes, a reencarnação está inscrita por toda a parte.
E em que outros fenómenos?
Na evaporação da água, por exemplo: a água do oceano evapora-se e sobe no ar, para voltar a cair mais longe, sob a forma de neve ou de chuva, e regressa ao oceano.
A gota de água não desaparece, faz uma enorme viagem para explorar o mundo: sobe para o céu, cai sobre as montanhas, desce para os vales e infiltra-se nas camadas subterrâneas onde toma cor; amarelo, vermelho, verde...
A água que sobe e desce, eis mais um fenómeno onde está inscrita a lei da reencarnação.
Como a gota de água, cada espírito viaja para se aperfeiçoar e se instruir.
Quereis outro argumento?
Bom...
À noite, para vos deitardes, vós despis-vos.
Uma a uma, tirais as vossas peças de roupa: o casaco, a camisola, a camisa...
O ir para a cama, à noite, é o símbolo da morte; todas essas peças de vestuário que abandonais, representam os diferentes corpos de que deveis libertar-vos, uns após outros: primeiramente, o corpo físico; depois, algum tempo mais tarde, uma semana ou duas, o corpo etérico; em seguida, o corpo astral e, este demora muito mais tempo, porque no plano astral estão acumuladas as paixões, as cobiças, todos os sentimentos inferiores.
É isso o Inferno: o plano astral e o plano mental inferiores, onde devemos ficar algum tempo para nos purificarmos...
Em seguida, libertais-vos do corpo mental e, é aí que começa o Paraíso, com o primeiro Céu, o segundo Céu, o terceiro Céu...
Diz a tradição que existem sete.
Só depois de se ter largado todas as peles, é que se entra, completamente nu, no sétimo Céu; "completamente nu" significa purificado, sem entraves.
E de manhã. é o regresso do homem à terra, o nascimento da criança.
Voltamos a vestir as roupas: a camisa, a camisola, o casaco, etc...
Quando a criança vem à terra, começa por vestir os seus corpos subtis (átmico, búdico, causal), depois os seus corpos mental, astral, etérico, e finalmente o corpo físico.
Como vedes, todas as noites nos despimos e todas as manhãs voltamos a vestir-nos; as pessoas fazem isto durante anos e anos e nunca se detiveram para reflectir sobre esses gestos, que correspondem aos processos da reencarnação e da desencarnação.
No entanto, se soubessem interpretar esses actos quotidianos, esses gestos, esses trabalhos, esses comportamentos, os mecanismos da nutrição, da respiração, etc... fariam grandes descobertas.
Porque todos os mistérios do Universo estão reflectidos nos nossos gestos, nas nossas palavras, em todos os actos da nossa vida.
Simplesmente, para os decifrar é necessário ter estudado numa Escola Iniciática.
Algumas dessas pessoas esperam que a Igreja se pronuncie oficialmente para acreditarem na reencarnação.
Mas quando o fará ela?
Eu tive a oportunidade de falar várias vezes com membros do clero e vi que muitos acreditam na reencarnação, mas não ousam dizê-lo com medo de vir a ter aborrecimentos.
De qualquer maneira, digo-vos que se não aceitardes a reencarnação nunca tereis luz sobre a vossa situação, sobre os acontecimentos da vossa existência; nunca sabereis por que razão sois constantemente perseguidos, maltratados ou porque sois sempre ajudados e apoiados.
E também nunca sabereis como é que podereis trabalhar para uma próxima vida.
E quando não se conhece a verdade, aonde é que se pode chegar?...


* - Adoptámos, nesta tradução, a distinção estabelecida pelo filósofo brasileiro Huberto Rohden entre:
- "crear", que representa um novo início; e
- "criar", que é apenas uma continuação.

Assim, para usar um exemplo dado pelo próprio Rohden, a lei de Lavoisier está certa quando escrevemos: «Na Natureza nada se Crea, nada se perde, tudo se transforma», mas se escrevermos: «Na Natureza nada se Cria...», este enunciado será totalmente falso.



Oportunamente será publicada outra conferência do Mestre Omraam versando o mesmo tema.

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