Foi isso que fizeram também em relação aos Livros Sagrados, os quais possuem igualmente uma forma, um conteúdo e um significado, um sentido.
A forma, a narrativa, é para as pessoas comuns; o conteúdo moral, simbólico, é para os discípulos que procuram aprofundá-lo e vivê-lo; quanto ao sentido espiritual, esse, é para os Iniciados que sabem interpretá-lo.
Todos os grandes Iniciados foram construtores de novas formas.
Eles sabiam que a forma é necessária, mas introduziram nela toda uma ciência que as pessoas, na sua maioria, não decifram, pois detêm-se naquilo que se pode ver, tocar, ouvir.
É claro que as formas podem ajudá-las, estimulá-las, mas não tanto como se elas conseguissem compreender, sentir e realizar as verdades nelas contidas.
Em todas as religiões existe um ensinamento exotérico e um ensinamento esotérico, porque era impossível que os seres evoluídos, que tinham necessidade de aprofundar os mistérios da Criação, se contentassem com alguns fragmentos que satisfaziam o comum das pessoas.
Foi assim que no seio do cristianismo, a par da Igreja de S. Pedro, que reunia a maioria dos fiéis, se desenvolveu secretamente a Igreja de S. João, guardiã da verdadeira espiritualidade, da verdadeira filosofia do Cristo.
Esta questão do espírito e das formas vai extremamente longe.
Observando os homens, percebe-se que quase todos estão tão obcecados com a forma que acabam por identificar-se com ela.
Deste modo, identificam-se com o seu corpo físico.
Tudo quanto fazem é em função do seu corpo físico; quanto ao espírito, como não o vêem, nem pensam nele.
Não sabem que deste modo se enfraquecem, se embrutecem, pois não é o corpo físico que recebe a verdadeira força nem a verdadeira vida.
Ao identificarem-se com o corpo físico (a forma) não desenvolvem o espírito, que é eterno, imortal, omnisciente, é uma centelha de luz saída do próprio Deus.
Esta filosofia materialista, que está tão difundida, limita os seres humanos.
Como já não são iluminados, guiados, inspirados pelo espírito, eles tornam-se mesquinhos, limitados, sectários, e depois julgam tudo na vida segundo esse seu ponto de vista limitado.
Eles crêem possuir o melhor dos pontos de vista... mas não, têm uma visão parcial, sectária.
Há pessoas sectárias por todo o lado, em todos os domínios: económico, político, científico, religioso, filosófico, artístico... Posso demonstrá-lo!
Utiliza-se correntemente a noção de sector.
Na geometria, chama-se sector a uma porção de círculo.
Numa cidade, num país, fala-se também de sector para indicar uma zona limitada.
E no corpo humano, que forma uma unidade perfeita, pode dizer-se que um órgão é também um sector.
E uma seita?
O que é uma seita?
É muito simples: quando uma religião conseguiu estabelecer-se oficialmente, declara que todo o grupo que não aceitar os seus dogmas, as suas crenças, as suas práticas, é uma seita.
É, pois, a Igreja oficial que se pronuncia.
Ao longo da História quantas pessoas não foram presas, perseguidas e queimadas sob o pretexto de que se tinham afastado da doutrina de uma Igreja!
E depois, mais tarde, foi a História que, por sua vez, se pronunciou sobre as sentenças dessa Igreja...
Na realidade, não é aos homens que compete julgar o que é sectário e o que não o é, mas sim à Natureza.
É isto que não sabeis e que será novo para vós.
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OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV
em
"UMA FILOSOFIA UNIVERSAL"
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