MESTRE OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV
Conferência improvisada
Bonfin, 25 de Julho de 1974
...
Eu dizia-vos há pouco que a liberdade se encontra no espírito.
Mas devo acrescentar algumas explicações.
Observai o comportamento de um animal ou de uma criança.
O animal obedece às leis naturais, não goza de liberdade, do livre arbítrio para mudar o curso das coisas e, de a elas se opor; isso não lhe foi concedido.
Portanto, ele obedece, submete-se, é fiel às leis naturais e, é por isso que é inocente.
Mesmo quando faz estragos ou se lança sobre a presa, a culpa não é sua; é a sua natureza, é a Natureza que o impele.
E também a criança obedece ainda aos seus instintos, aos impulsos que existem nela; não possui inteligência nem vontade; é como um pequeno animal.
Só alguns anos mais tarde é que ela adquire a possibilidade de se opor à Natureza e às suas leis: pode escolher entre continuar em harmonia com essas leis ou transgredi-las.
E agora, que o homem só pensa em comer, em divertir-se, em trazer crianças ao mundo, em trabalhar para poder pagar a sua alimentação, nada mais faz do que levar uma vida animal, instintiva ou puramente vegetativa.
Porque isso é o mesmo que os animais e as plantas fazem.
É uma vida que o homem leva quase independentemente da sua vontade e da sua consciência: ele cresce, enfraquece e parte; não veio cá fazer nada.
Mas, quando o homem, com a sua consciência e a sua inteligência, começa a ocupar-se desta vida, a controlá-la, a purificá-la, a acrescentar-lhe um elemento espiritual, este torna-se um factor formidável capaz de mudar o seu destino.
E o que é o destino?
É um encadeamento implacável de causas e de consequências ao qual só a vida animal, biológica, instintiva, está absolutamente submetida.
Qual é, por exemplo, o destino de uma galinha?
Ela não conseguirá ser nem rei, nem poeta, nem músico; está predestinada à caçarola.
O destino da galinha é a caçarola!
Todas as creaturas têm, pois, o seu destino próprio.
O destino do lobo é ser caçado, capturado, massacrado ou então, transportado para um jardim zoológico.
E até mesmo as ovelhas e as pombas têm o seu destino, que é absolutamente conforme com aquilo que elas representam, segundo a sua actividade e os elementos de que são formadas.
Ora, para poderdes escapar ao destino, é preciso que deixeis de ser escravos, fracos, subjugados à vida inferior onde nada depende de vós: respirar, procrear, comer, beber, dormir.
É uma vida que está ainda muito longe de ser divina.
Ela é divina porque vem de Deus, porque tudo vem de Deus, mas no sentido espiritual ainda não é uma vida divina.
A vida divina começa quando o ser humano se apercebe de que não é unicamente um estômago, um ventre, um sexo, um ser feito de carne, de ossos, de músculos, mas também um espírito e, quando ele começa, enquanto espírito, a querer agir no seu domínio para crear obras sublimes, luminosas, grandiosas.
Nesse momento sim, ele escapa ao seu destino, porque para aqueles que se identificam ao corpo físico, o destino é estar doente, ser transportado para um cemitério e aí apodrecer.
Pois é, este destino está já determinado, não se pode escapar a ele.
Mas a vida espiritual dá a possibilidade de acrescentar alguma coisa à vida vegetativa, instintiva do corpo físico, e deste modo, entrar num plano superior ao do destino.
Para tal, é necessário que o espírito comece a sair, a manifestar-se, a trabalhar: ele deixa assinaturas, traços, selos em todas as coisas, intervém em todos os vossos actos e dirige-os.
É desta maneira que saís do vosso destino para entrar no mundo da Providência.
Todos os corpos estão predestinados a tornarem-se em pó.
Mas isso já não é verdade para o espírito; o espírito não tem destino, é regido pelas leis da Providência.
Continua
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