quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
O ESPIRITUALISTA NA SOCIEDADE - Fascículo Nº. 2
13º. Capítulo - UMA JUSTIÇA SUPERIOR
Alguém vos desiludiu ou vos lesou, e então contais a toda a gente o que vos fizeram.
Dir-me-eis: «Isso é normal, é para repor a justiça!»
Não.
Essa noção de justiça está na origem de todos os infortúnios.
Deixai a justiça tranquila.
«Mas, então, o que havemos de fazer?»
Recorrei a um princípio superior à justiça, um princípio de amor, de bondade, de generosidade.
Há dois mil anos que Jesus trouxe este novo ensinamento, mas os cristãos continuam a aplicar a lei de talião - olho por olho, dente por dente - e ainda não compreenderam que, para se ser verdadeiramente grande, verdadeiramente livre, é preciso ultrapassar a noção de justiça.
Como?
Vós fizestes, suponhamos, algum bem a alguém; por exemplo, destes-lhe dinheiro.
Depois, um dia, achais que essa pessoa agiu mal para convosco e relatais a toda a gente o que fizestes, queixando-vos de que ela não esteve à altura da vossa generosidade e da vossa confiança.
Por que haveis de ir relatar tudo isso?
Se falais a todos sobre o bem que fizestes e, ainda por cima, lamentais tê-lo feito, estais a demolir esse bem...
Estava inscrito nos registos celestes que deveríeis ser recompensados, mas agora, agindo com agis, apagais a vossa boa acção.
Ainda que alguém vos engane ou vos lese, não deveis propalar isso, nem, sobretudo, procurar exercer represálias.
Pelo contrário, pelo vosso comportamento deveis dar a essa pessoa um exemplo da maneira correcta de se comportar.
Um dia, ela sentirá vergonha e fará tudo para reparar as suas injustiças para convosco.
É preciso fechar um pouco os olhos e perdoar; é assim que cresceis.
Compreendei, doravante, quão proveitoso é receber a luz da Iniciação.
Um homem comum que tenha sido ofendido, lesado, vai, evidentemente, ripostar, para dar, segundo ele, uma lição ao seu adversário, e todos acharão que isso é normal, que é "justo".
Sim, talvez seja justo segundo os conceitos que o mundo vulgar tem da justiça, mas é estúpido aos olhos do mundo divino.
Porque o que se passa é o seguinte: a partir do momento em que ele se deixa levar pelos instintos, pelo desejo de vingança, entra num círculo infernal do qual já não conseguirá sair.
Desembaraçou-se de um inimigo, é certo, mas aparecerão sempre outros - é a vida! - e ele terá de se esforçar de novo para os eliminar.
Desta maneira, manterá em si próprio sentimentos e atitudes que apenas reforçarão a sua natureza inferior.
Mais: as suas vitórias, tão dificilmente alcançadas, não durarão muito tempo, porque os seus inimigos voltarão a encontrá-lo numa próxima incarnação e terão todas as possibilidades de se desforrar.
Por conseguinte, como vedes, essa velha compreensão da justiça não traz qualquer solução; pelo contrário, ela complica as coisas, torna a existência pesada, aumenta as dívidas cármicas e, finalmente, conduz a derrotas.
O verdadeiro espiritualista, que conhece as leis, aplica outros métodos: deixa os adversários tranquilos, entregues ao seu próprio processo de desenvolvimento!
Ele sabe antecipadamente como eles vão acabar, se continuarem.
Quanto a ele, começa um trabalho gigantesco sobre si próprio; ora, medita, aprende, exercita-se, e pouco a pouco começa a possuir a verdadeira sabedoria, os verdadeiros poderes.
Evidentemente, é preciso terdes muito amor, muita bondade, muita paciência e muita luz para renunciardes a empregar as mesmas armas que usaram os que vos fizeram mal.
Mas este método que vos dou é o mais eficaz.
Deixais os vossos inimigos sossegados, não vos ocupais mais deles, ocupai-vos unicamente do vosso aperfeiçoamento.
Quando eles virem isso, sentir-se-ão tão feios, macilentos e estúpidos ao vosso lado, que, mais tarde ou mais cedo, se arrependerão e virão reparar o mal que vos fizeram.
É que existe mesmo uma lei da Natureza segundo a qual, um dia - e, se não for nesta incarnação, será na próxima - todos os que vos enganaram, lesaram, feriram ou traíram, serão obrigados a vir procurar-vos para repararem as suas faltas.
Pode acontecer que, sentindo intuitivamente que eles são antigos inimigos, queirais afastá-los.
Não importa; eles continuarão a procurar-vos e a pedir-vos que aceiteis os seus serviços.
Porque a lei é assim.
E já aconteceu com muitos.
Portanto, todas as pessoas que vos fizeram mal e a quem respondestes com o perdão, serão obrigadas pela lei cósmica (quer elas queiram ou não; a sua opinião não conta) a vir reparar as injustiças que vos fizeram.
Eu não quero dizer que deveis deixar-vos aniquilar pelos maus, não; deveis ripostar, mas encontrando uma resposta tal, que produza no coração e na alma dos vossos adversários uma enorme reviravolta que seja benéfica para vós e para eles.
Esta atitude é duplamente vantajosa.
Continua
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