sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O ANO NOVO (Cont. II)

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O ano novo não está completamente separado do anterior; ele está sempre relacionado com ele, talvez não directamente, mas indirectamente.
Porque é novo, parece virgem e fresco como uma criança...
É costume dizer-se que uma criança acabada de nascer é inocente, sem mácula.
Sim, mas só aparentemente, porque essa criança, que já está ligada aos pais, aos avós, aos antepassados, à sociedade, ao espírito do século, também traz em si as marcas das suas vidas passadas, e um dia, de uma maneira ou de outra, tudo isso virá ao de cima.
O ano novo é virgem, puro, inocente, foi talhado em tecidos duma alvura imaculada, mas, quando entra em contacto com o homem, logo se colora, como a água pura que desce do céu e toma a cor dos terrenos que atravessa.
O ano a que se chama novo é, pois, já velho desde o começo, porque encontra um homem já velho nos seus pensamentos, sentimentos e hábitos.
Ele não pensou em limpar as panelas ou os cântaros em que irá recolher a água pura do ano novo.
Todavia, é isso que se aprende numa cozinha: quando precisamos de deitar água limpa num recipiente, lavamo-lo e, por vezes, até temos que lhes raspar as paredes para que a água não fique suja; até as crianças sabem isso.
Mas quando se trata de verter uma água pura na sua alma, na sua cabeça, no seu coração, o homem não pensa em purificar-se.
Ele não aprendeu a lição que aplica todos os dias na cozinha, não comprendeu que também no domínio interior deve seguir as mesmas regras: rejeitar o que já está sujo e guardar só o que é puro.*
Quantos pormenores da vida quotidiana podem fazer-nos compreender esta verdade!
Numa casa, por exemplo, há quadros, belos móveis ou jóias de valor; as pessoas guardam-nos durante anos, e por vezes até séculos; mas desembaraçaram-se de tudo o que não tem qualquer valor; e também das flores: elas são mantidas durante dois, três dias, e depois têm que ser substítuídas...
Mas o homem julga que pode conservar eternamente em si tudo o que está velho, sujo e corrompido!
Sim, precisais de compreender melhor o ano novo, recebê-lo com a profunda convicção de que ele é um ser vivo e rico que traz grandes presentes, e que, para receberdes esses presentes, deveis preparar numerosos lugares em vós, limpá-los infatigavelmente e retirar as coisas velhas acumuladas no vosso coração e na vossa mente.
Mesmo antes da sua chegada, já deveremos ter reservado em nós um lugar para o ano novo.

A Cabala diz ainda que o ano novo é influenciado pelas estrelas.
O nascimento dum ano é semelhante ao nascimento duma criança.
É o nascimento duma vida que durará um ano.
Quando nasce uma criança, faz-se o seu horóscopo com base no dia e na hora do nascimento, a fim de se determinar o desenrolar dos acontecimentos ao longo de toda a sua vida.
Passa-se a mesma coisa em relação ao ano, e ainda devemos saber que o primeiro dia irá determinar o primeiro mês, o segundo dia o segundo mês, o terceiro dia o terceiro mês...
Devemos, pois, esforçar-nos por viver, pensar, sentir e comportar-nos o mais correctamente possível pelo menos durante os doze primeiros dias, para estabelecermos uma base inteligente, luminosa, graças à qual os doze meses do ano serão influenciados e determinados para o bem.

*Ver também "Não se deita vinho novo em odres velhos"
   (capítulo I do nº.217 da Colecção Izvor).

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OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

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