Dar-vos-ei um exemplo muito simples.
Imaginai que tendes necessidade de uma empregada doméstica ou de uma cozinheira.
Ela chega e confiais-lhe a vossa casa.
Se ela for uma mulher organizada, conscienciosa, asseada, tudo ficará limpo, tudo brilhará.
Mas se ela for desordenada, pouco limpa ou até ladra, como há algumas, aperceber-vos-eis de que a vossa casa se tornou uma babilónia e que até desapareceram muitos objectos.
Todas as criaturas - humanos, animais, plantas, pedras - deixam marcas que correspondem exactamente à sua natureza ou ao seu carácter. Se introduzirdes uma raposa ou um lobo algures, eles deixarão traços da sua passagem, pelo menos um odor...
Todos os seres, bons e maus, deixam traços.
Da mesma maneira, se introduzirdes o ponto central, Deus, na vossa vida interior, Ele deixará marcas.
Se vos ligardes ao ponto central, à sua presença, somente, à sua existência, ele deixará algo que é exactamente da mesma natureza que ele, isto é, luz, inteligência, bondade, harmonia, beleza.
Apenas há que deixá-lo entrar.
Uma vez que tenha entrado, ele saberá como agir.
É por isso que os Iniciados dizem: «Pensai no Senhor, deixai-O entrar em vós para que Ele preencha a vossa vida», pois apenas a presença divina é capaz de remediar tudo; ela cura, purifica, vivifica, harmoniza, ressuscita.
Posso dar-vos outros exemplos.
Quando os soldados estão sem os seus superiores por perto, na caserna, estão em desalinho, gracejam, fumam...
Mas eis que o general vem fazer uma visita e todos desfilam, marchando, com um uniforme impecável.
Ou então, vede como procedem as crianças quando o professor não está: gritam, batem umas nas outras e atiram toda a espécie de coisas pela sala.
Mas, quando o professor chega, cada uma retoma imediatamente o seu lugar: acabou-se
a desordem e o barulho.
O professor não disse nada, não ameaçou, mas a sua presença foi suficiente, tudo entrou na ordem.
E, da mesma maneira, quando alguém introduz em si a presença desse centro que é Deus,
tudo no seu interior retoma o respectivo lugar, e a paz e a harmonia instalam-se, pois esse centro é reconhecido por todas as criaturas.
Quando outro qualquer se apresenta, ninguém lhe presta atenção, ninguém se mexe.
Mas quando Deus, o Senhor do Universo, aparece em algum lado - apenas a sua presença, o seu sopro - até os demónios estão no seu lugar para O servir.
Só Deus é conhecido por todas as criaturas.
É por isso que é preciso chamá-l'O a Ele, não outros.
Todas as criaturas O conhecem e, boas ou más, Lhe obedecem.
Vedes como é importante apelar para o Senhor, suplicar-Lhe que entre?
Só a sua presença remete cada coisa e cada ser para o seu lugar.
Esta verdade está acima de todas as verdades.
Todos os dias, várias vezes ao dia, deveis pensar nesse centro, pois não é pensando nele somente alguns minutos, de tempos a tempos, que conseguireis sair da periferia.
Exercitai-vos tanto quanto for preciso, mas precisais de encontrar esse ponto central.
Se conseguirdes compreender a sua importância e o seu valor, cada vez que fechardes os olhos e pensardes nesse centro divino que está em vós, sentireis a paz, a alegria, o encantamento e a gratidão invadirem-vos.
Ocupai-vos somente do centro e sabereis tudo o que está à periferia.
Possuireis uma visão correcta do mundo.
Não tereis necessidade de ler este ou aquele filósofo que construiu todo um sistema a partir do cantinho de periferia em que se encontrava.
Cada um vê apenas retalhos e pedaços e quer instruir os outros com esses retalhos e pedaços.
Um diz: «O mundo é assim e assado» e do seu ponto de vista, evidentemente, ele tem razão.
Um outro diz: «Não, não, eu penso que...»; e, do seu ponto de vista, ele também tem razão.
Todos têm um pouco de razão, mas nenhum tem uma compreensão que abarque a totalidade, porque compreendem exclusivamente de um ponto de vista intelectual.
O intelecto não dá ao homem a possibilidade de tudo compreender e de tudo abarcar.
Por isso, os Iniciados procuraram outros métodos de conhecimento, como a intuição,
a clarividência directa.
Mas não se pode ter a intuição nem a clarividência sem se estar colocado no centro, no vértice.
Da periferia, não só não se domina a situação, como a visão é obscurecida pela poeira dos caminhos e pelos vapores dos pântanos.
Ao passo que nos altos cumes do espírito já não se encontra poeira nem nevoeiro.
Com as suas faculdades intelectuais, somente, o homem não pode transpor certos limites.
Por isso, ele deve ultrapassar o plano mental para se elevar ao plano causal, onde recebe a intuição, a penetração instantânea das coisas, e então vê e compreende tudo num relance, porque tudo lhe é mostrado.
Não conteis demasiado com o vosso intelecto, com os seus raciocínios, as suas combinações, as suas induções, as suas deduções, antes tentai sempre, pela meditação, pela oração, pela concentração, subir até ao vértice, e de repente tudo se aclarará.
Sempre que alguém me vem falar dos seus pensamentos, dos seus projectos, pela maneira como a pessoa apresenta as coisas eu vejo logo se ela se encontra no centro ou na periferia.
É muito fácil de ver.
Todos os que estão na periferia usam uma linguagem deformada, bastante oca!...
Ao passo que os que trabalham para se aproximar do centro, do alto retiro, da fonte da vida, mesmo que ainda não tenham lá chegado já reflectem algo dele: algumas emanações. alguns perfumes, algumas palhetas de ouro que provêm da verdade pura: sente-se que esses seres são portadores da nova vida.
E é tão desejável que, um dia, a terra seja povoada de criaturas assim, para que possamos encontrá-las, trabalhar e regozijar-nos com elas!
Continua
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