quarta-feira, 8 de maio de 2019

A LINGUAGEM DAS FIGURAS GEOMÉTRICAS (VII)

II
Para vos explicar a importância do símbolo do círculo, posso partir dum exemplo muito simples, divertido, até: o "prato de manteiga".
Sabeis o que é?...
Não?...
Bom, vou contar-vos.
Há alguns anos, em Paris - era antes da guerra, em 1938, tinha eu acabado de chegar da Bulgária - tinham instalado na porta Maillot um parque de diversões chamado Luna Park.
Muita gente ia lá dançar, atirar com as carabinas, andar nos tapetes rolantes e nos baloiços e divertir-se com toda a espécie de coisas.
Havia, por exemplo, um jogo que consistia em acertar num certo ponto de uma parede: quando se atingia esse ponto, virava-se uma cama onde estava deitada uma mulher, não sei se bonita ou feia, que caía no chão para encanto dos basbaques.
Ela devia então erguer-se e aprontar de novo a cama para se deitar, e tudo recomeçava...
Havia também o Palácio do Riso, com corredores onde grandes correntes de ar faziam levantar as saias e baloiços que paravam quando as pessoas que neles se encontravam tinham a cabeça para baixo e as pernas no ar.
Eu fui ver tudo isso, de passagem; queria saber como as pessoas se divertem e fiquei verdadeiramente maravilhado com o génio inventivo dos franceses.
Na Bulgária, nunca vi semelhantes coisas!
E depois havia esse famoso prato de manteiga de que quero falar-vos.
Era uma plataforma redonda, feita de tábuas, suficientemente grande para conter várias pessoas.
As pessoas subiam e ele começava a girar, primeiro devagar... mas, pouco a pouco, o movimento acelerava e então assistia-se a um espectáculo muito engraçado: os que se encontravam na periferia desequilibravam-se, eram projectados para fora e caíam uns para cima dos outros (e, evidentemente, toda a gente se ria), ao passo que os que se encontravam no centro não eram sacudidos, permaneciam tranquilamente em pé no seu lugar, imóveis e sorridentes.
Portanto, como vedes, a força centrífuga era tão potente que aqueles que se encontravam na periferia não conseguiam manter-se, resistir ou agarrar-se, e eram projectados para fora.
Ao passo que aqueles que se encontravam no centro escapavam a essa força, mantendo o equilíbrio e a estabilidade.
Eu detive-me e reflecti sobre este fenómeno, pois ele encerra leis formidáveis, e achei que o ser humano é parecido com um prato de manteiga; algumas regiões psíquicas representam a periferia do seu ser, outras o centro, e a sua consciência assemelha-se às pessoas que sobem para a plataforma.
Se a vossa consciência se encontrar na periferia de vós mesmos, ficai sabendo que existem lá forças desenfreadas que vos projectarão contra as paredes e... partireis a cabeça.
Todos aqueles que querem procurar aventuras na periferia da vida para conseguirem resolver os seus assuntos, fazer as suas negociatas e divertir-se, expõem-se a grandes perigos porque se tornam presas de forças às quais é impossível resistir.
Para se estar em paz, em serenidade, é preciso encontrar um lugar bem abrigado.
E que lugar é esse?
Justamente o centro do círculo.
Na periferia nunca se está abrigado, porque aí só existem agitações e paixões desenfreadas; aquele que se perde nessas regiões é apanhado, é atacado por forças impetuosas e, mais cedo ou mais tarde, é projectado e partido em pedaços.
Quando um Iniciado quer celebrar uma cerimónia mágica, deve entrar na harmonia de todas as forças do Cosmos para ser protegido; ele traça, então, um círculo à sua volta; ele fica, portanto, no meio e representa o centro.
Por este acto, ele diz a todo o Universo: «Eu sou o ser que compreende.
Eu sou o ser que apenas reconhece a supremacia, o domínio e a realeza do único verdadeiro Deus, do princípio eterno que governa o Universo.»
Nesse momento, todos os espíritos da Natureza vêm submeter-se a ele.
Mas, se ele não agir assim, os espíritos precipitar-se-ão para o combater e ele poderá ser fulminado.
Os Iniciados, que observavam a Natureza, deram-nos regras, métodos, como a meditação, o recolhimento, a oração; porque meditar, recolher-se, rezar, são esforços para se entrar em si mesmo a fim de se encontrar o centro, esse ponto invulnerável onde reina a paz... ou, ainda, o "alto retiro" de que fala o Salmo 91.
Sim, porque, na vida interior, o centro é idêntico ao vértice, ao cume; aliás, do ponto de vista geométrico - já vimos isso - o centro do círculo pode ser considerado como a projecção do vértice de um cone.
Continua
MESTRE  OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV


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