domingo, 21 de maio de 2017

NATUREZA HUMANA E NATUREZA DIVINA






Capítulo  III  -  À  PROCURA  DA  NOSSA  VERDADEIRA  IDENTIDADE

O maior erro dos humanos é terem sempre tendência para se identificarem com a sua personalidade.
Quando dizem: «Eu quero... (dinheiro, um carro, uma mulher), eu estou... (doente, de boa saúde), eu tenho... (tal desejo, tal gosto, tal opinião)», eles crêem que se trata deles mesmos, e é precisamente aí que se enganam.
Na realidade, é a personalidade que deseja, que pensa, que sofre, e eles, que não sabem isso, correm e esfalfam-se para satisfazer as suas exigências.
Como nunca se analisaram para conhecer em profundidade a verdadeira natureza do ser humano, os diferentes planos em que ele evolui, identificam-se constantemente com a personalidade, e particularmente com o seu corpo físico.
Mas o discípulo, esse, deve saber que é bem mais do que o seu corpo físico e que todos os seus desejos e instintos não são ele, mas uma pequeníssima parte dele, e só possuindo este conhecimento é que ele pode avançar rapidamente no caminho da evolução.
O yoga do conhecimento de si próprio chama-se na Índia, Jnani-Yoga.
Aquele que pratica Jnani-Yoga quer conhecer-se, encontrar-se.
Ele começa, pois, por se situar: quem é, onde está.
Ele vê que mesmo que perca um braço mantém o seu eu, continua a dizer "eu".
Portanto, o seu eu não é esse braço.
E as pernas, o estômago, etc... será que são ele?
Não, ele é algo mais.
Depois, ele estuda o domínio dos sentimentos e verifica que os sentimentos que experimenta não são ele: uma vez que pode observá-los, analisá-los, é ele que os domina; ele está, portanto, algures, muito mais acima.
E o mesmo acontece com os pensamentos.
É assim que, progressivamente, ele acaba por descobrir que o eu que procura, esse eu que está acima de tudo, esse Eu Superior, é uma parte de Deus, e que ele é grande, imenso, poderoso, luminoso, omnisciente...
E, após anos e anos de disciplina e de prática espiritual (e, mesmo assim, isto não é dado a todos os yoguis), ele funde-se com o seu Eu Superior.
Quanto ao pequeno eu, mutável, vulnerável, insignificante, não era "ele", uma vez que podia passar sem esse eu, renunciar a esse eu, deixá-lo, como a um envelope usado, ao passo que "ele" continuava a existir!
Consideremos um outro aspecto da questão.
Uma criança, quando fala de si, diz "eu"; quando ela cresce e se torna um ser adulto, mudou, mas continua a dizer "eu"; e quando chega à velhice ainda diz "eu".
Esse "eu" é, pois, imutável.
É o corpo que não pára de mudar, ao passo que o "eu" permanece o mesmo.
O que é então, esse "eu"?
O homem procura-o e vê que não é o seu corpo físico, nem os seus sentimentos, porque os sentimentos mudam ao longo da vida, nem os seus pensamentos, porque os pensamentos, as ideias, também mudam.
Aquele que se analisa profundamente acaba por descobrir que este ser em relação ao qual diz "eu" é, na realidade, uma parte do próprio Deus, e faz todos os esforços para se unir a ele.
É assim que acaba por compreender que a sua personalidade não é uma realidade eterna, mas um reflexo fugidio e parcial do seu verdadeiro Eu, uma miragem, uma ilusão, e foi essa ilusão que os hindus chamaram "maya".
O efeito mais pernicioso desta ilusão é que ela arrasta os humanos para a via da separatividade: arranca-os da Fonte Divina, que é para todos o verdadeiro Eu, para os fazer viver numa multidão de pequenos eus separados, com desejos diferentes, sentimentos diferentes, tendências diferentes.
Não é o mundo que é uma "maya", como há quem pense, mas sim a nossa personalidade, o nosso eu inferior, porque ele nos impele sempre a considerar-nos como seres separados dos outros e separados do Universo.
O mundo não é uma "maya"; o mundo é uma realidade, a matéria também é uma realidade, tal como a mentira e o inferno.
A ilusão é julgarmo-nos separados da vida universal, desse Ser único que está em toda a parte mas que não podemos sentir nem compreender, porque o nosso eu inferior no-lo impede.

Continua

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