domingo, 10 de agosto de 2014

PAZ E FELICIDADE (cont.)

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Nunca compreendereis o que é a felicidade se vos limitardes a considerá-la como uma sensação agradável, como a maior parte dos humanos a imagina.
A verdadeira felicidade é, sem dúvida, uma sensação agradável, mas é também luz e poder.
Observai, por exemplo: quando estais felizes, nem que seja por um momento, estais em paz e começais a compreender cada acontecimento da vossa vida; tudo se torna simples e claro e sois bem sucedidos em tudo o que empreendeis.
Mas, se perdeis esse estado, se mergulhais nos conflitos, nos desgostos ou no desânimo, tudo se obscurece na vossa cabeça e só fazeis asneiras.

A felicidade é um estado de consciência, uma maneira de compreender, de sentir, de se comportar, uma atitude na vida, e é por isso que ela só pertence àqueles que sabem encontrá-la graças a um trabalho espiritual.

A felicidade tal como a paz, é uma síntese: se compreendemos bem as coisas, se as sentimos bem, temos a possibilidade de agir bem e somos felizes.
Mas para alcançar tudo isto é preciso aceitar a Ciência Iniciática, porque só ela nos ensina a  educar o nosso intelecto, o nosso coração e a nossa vontade, isto é, só ela nos ensina a dominar a natureza inferior, a personalidade, para dar à natureza superior, a individualidade, todas as possibilidades de se desenvolver.
Para encontrar a felicidade, não basta vencer a natureza inferior. Essa vitória é necessária, é certo, mas é insuficiente: há ainda que fundir-se com a natureza superior.
Não é porque, de vez em quando, conseguis vencer o egoísmo, a sensualidade, o ciúme e a cólera que encontrareis a felicidade.
Essas vitórias são etapas necessárias para chegar à felicidade, mas não vo-la podem proporcionar verdadeiramente, porque a felicidade só se encontra num lugar inacessível a tudo o que é negativo.
Aliás, mesmo que consigais, um dia, vencer a personalidade, desconfiai: no dia seguinte, ela poderá de novo, pregar-vos grandes partidas.
A vitória sobre a personalidade é sempre incerta.
É exactamente como no caso de um país que obteve uma vitória sobre outro: nunca se pode ter a certeza de que isso será para durar.
Um belo dia, enquanto o vencedor se deixa adormecer sobre os louros, o país vencido tenta desforrar-se.
E a mesma coisa se passa com a natureza inferior, a personalidade: mesmo que, em determinadas circunstâncias, tenhais conseguido vencer algumas das suas manifestações, a vitória nunca está definitivamente assegurada; mais tarde ou mais cedo, ela poderá reerguer-se, dar uns coices e atirar-vos ao chão.
Então, o que é preciso fazer?
Suplicar à vossa natureza divina, ao princípio crístico que venha instalar-se em vós.
Assim, em lugar de serdes sempre como um vencedor que nunca está seguro da sua vitória, tereis um associado poderoso, omnisciente, com o qual podeis contar.
E mesmo que, por vezes, estejais um pouco fatigados, um pouco adormecidos, o princípio crístico continuará, por si, a pôr no seu lugar a natureza inferior.
Quantas pessoas há que parecem ter vencido certas fraquezas, certos vícios, mas que, pouco tempo depois, recaem neles e num grau ainda pior do que antes!
A única solução é, pois, preparar o terreno, obtendo vitórias sobre a natureza inferior nos vários domínios, mas também suplicar ao Céu, à natureza superior, que venha instalar-se e manifestar-se em vós.
E quando a natureza superior tiver vindo, verdadeiramente, instalar-se em vós, então sim, sentireis uma felicidade inexprimível.
Sois felizes e nem sequer sabeis porquê.
Essa felicidade - e isso é que é espantoso! - é uma felicidade sem causa.
Sentireis como é maravilhoso viver, respirar, comer, falar...
Não vos aconteceu nada, nem presentes, nem heranças, nem encontros; sois felizes porque algo do Alto veio até vós, algo que já nem sequer depende de vós...
como uma água que corre do Céu, e ficais admirados por descobrir em vós mesmos, incessantemente, esse estado de consciência maravilhoso.
Regozijais-vos e nem sequer sabeis porquê.
Essa é a verdadeira felicidade.
A verdadeira felicidade é como o ar que se respira: será que tendes de preocupar-vos em procurá-lo?
Não, o ar vem ter convosco, o ar está aí, estais mergulhados nele e respirais sem sequer pensar nisso.
Tudo o resto - a água, os alimentos, o dinheiro -, muitas vezes é necessário ir procurá-lo, ao passo que o ar, não, e o mesmo se passa com a luz.
Respirais ininterruptamente e não há maior alegria do que a de respirar.
Se não acreditais nisto, retende a vossa respiração durante alguns instantes e vereis...
Pois bem, a felicidade é comparável ao ar que respirais.

Inspirar, expirar... inspirar, expirar...
a felicidade é a respiração da alma...

As pessoas nunca se detiveram para estudar a respiração deste ponto de vista.
Tudo o resto é preciso ir procurá-lo ou comprá-lo, um pouco de cada vez, para obter uma certa alegria, um certo prazer, ao passo que o ar não há necessidade de ir procurá-lo, respiramo-lo continuamente, mesmo quando dormimos.
Dir-se-ia que a respiração foi dada ao homem para lhe mostrar que tudo o que é tangível, como o dinheiro, os haveres, etc., não pode ser comparado ao que é subtil, impalpável, invisível, a esse mundo etérico no qual ele está mergulhado.
Todos aqueles que têm esta consciência de estar mergulhados no mundo etérico, no mundo espiritual, respiram incessantemente e estão felizes por causa dessa respiração.

OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

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