sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PAZ E FELICIDADE (cont.)

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Por conseguinte, a verdadeira paz situa-se muito alto: ela é como que um acorde, uma síntese, uma harmonia de todos os elementos em nós.
E o mesmo acontece com a felicidade: o que os humanos tomam por felicidade não passa, muitas vezes, de pequenas satisfações de curta duração.
Dizeis que estais felizes por terdes passado umas férias agradáveis das quais regressais repousados e recarregados de energia, pelo facto de um homem ou uma mulher a quem amais também vos ter testemunhado o seu amor, por alguém vos ter felicitado pela vossa inteligência e pela vossa competência...
Evidentemente, ninguém pode negar que é importante estar de boa saúde, sentir-se amado e ser reconhecido pelas suas capacidades, mas isso não basta para alguém poder realmente dizer que é feliz, pois a verdadeira felicidade está para além do corpo físico, do coração e do intelecto.
E imaginar também que, se se tiver uma casa ou uma mulher, se será feliz, que, se tiver a glória, a ciência ou a beleza, se será feliz... não!
Há milhares de anos que a história do mundo nos mostrou que a felicidade não reside nisso ou que uma tal felicidade dura muito pouco.
Obtém-se isto, obtém-se aquilo, mas permanece-se insatisfeito e, interiormente, sente-se um vazio, um vazio medonho, pronto a engolir tudo.

A felicidade é tão difícil de obter e de manter porque é preciso procurá-la muito alto, numa região onde os materiais são inalteráveis; e isto exige do homem grandes qualidades, sobretudo a pureza, porque só o que é puro é inalterável e tem o poder de durar.
Essa região existe no espaço, mas existe também em nós mesmos, e todos aqueles que descobriram isso fazem um esforço para pensar, amar, agir e trabalhar de modo a viverem nessa região que nada pode perturbar.
Aconteça o que acontecer, quaisquer que sejam as condições, esses seres são felizes porque encontraram elementos estáveis, imutáveis, eternos.

A verdadeira felicidade é, pois, um estado que, tal como a paz, se caracteriza pela estabilidade.
Direis vós:«Mas a vida é precisamente uma sucessão de mudanças: sucessos e insucessos, abundância e pobreza, paz e guerra, saúde e doença...  e o homem está obrigatóriamente sujeito a essas mudanças!»
Não, não, pode eclodir a guerra, vós podeis ficar doentes, perder repentinamente toda a vossa fortuna, ser abandonados pela mulher, pelo marido, pelos filhos ou pelos amigos, sem no entanto, deixardes de estar felizes.
Porquê?
Porque a vossa consciência não estagna ao nível dos acontecimentos: para cada dificuldade, para cada provação, encontrais uma explicação, uma verdade que vos acalma e vos consola, porque subistes muito alto e sabeis como ver as coisas.
Podem despojar-vos, podem perseguir-vos, mas, como vós sabeis que tudo isso é passageiro, que sois imortais, que nada pode atingir-vos realmente, enquanto todos se põem aos gritos, vós sorris.

Por conseguinte, vós já transportais a felicidade em vós.
Se não tendes consciência disso é porque ficais à superfície, na periferia de vós mesmos, e na periferia só há ilusões e mudanças: mal conseguistes apanhar algumas partículas de alegria, já elas foram substituídas por muitos sofrimentos, como que para vos punir por terdes roubado essa felicidade algures.

Por isso, esforçai-vos por entrar em vós mesmos e, aí, começai a procurar o que é imutável, eterno, Deus, o espírito.
Nessa altura é que encontrareis a felicidade.
Quando a tiverdes encontrado, procurai continuar fixos nela; daí em diante, ninguém poderá tornar-vos infelizes.
Qualquer que seja a vossa situação - ricos ou pobres, vivendo em glória ou na ignomínia, amados ou odiados - estais acima das mudanças, planais acima delas, viveis na eternidade.

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OMRAAM  MIKHAËL  AÏVANHOV

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