OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV
7º. Capítulo - A BASE DA ECONOMIA: PREVER
O progresso das ciências e das técnicas coloca imensas possibilidades à disposição dos humanos.
Está bem, mas todas essas novas facilidades levam as pessoas a esperar tudo do exterior e a ser negligentes, irreflectidas, descuidadas.
Podem descurar a sua saúde: há farmacêuticos, médicos, cirurgiões, dentistas, etc.
Podem desperdiçar o papel, estragar os aparelhos, partir os objectos, manchar e rasgar as roupas, desperdiçar a comida: há muito onde reparar ou substituir tudo isto.
Podem deitar um cigarro aceso para a floresta: se provocarem um incêndio, os bombeiros virão apagá-lo.
Para quê preocuparem-se?
E assim a atenção, a vigilância, o discernimento, enfraquecem cada vez mais.
Para quê desenvolvê-los se a sociedade oferece tantos meios para reparar as asneiras que se fez?
Lá estão os investigadores e os técnicos para ajudar os humanos.
Na realidade, eles não os ajudam.
Ajudam, sem dúvida, os fabricantes que vendem os seus produtos, mas aos humanos, enfraquecem-nos, tornam-nos cada vez mais dependentes.
Eu não digo que se deve parar o progresso material, o progresso técnico, não, mas é mais importante trabalhar no domínio interior para desenvolver a atenção, a prudência, a habilidade, a mestria.
Há tantos desperdícios devidos à falta de atenção, à falta de consciência!
E depois fala-se de economia...
Para praticar a verdadeira economia, é preciso estar consciente, atento, e ser previdente, senão, seja como for, corre-se para a ruína.
É à natureza que vamos buscar tudo o que precisamos para a nossa existência e, mesmo quando somos nós que fabricamos os objectos, os produtos, somos obrigados, de uma maneira ou de outra, a utilizar materiais que se encontram na natureza.
Mas a natureza não está aí para satisfazer os caprichos e as fraquezas dos humanos.
Se eles continuarem a explorá-la sem conta, a poluí-la, a destruí-la, destruir-se-ão primeiro a si mesmos e, uma vez livre dos humanos, a natureza irá refazer a situação.
Ela tem recursos, não se deixa vencer tão facilmente.
Se o homem não faz o que deve para viver e trabalhar em harmonia com ela, ela defende-se.
Até uma criança percebe isto.
Então, por que é que os grandes especialistas não percebem?
Porque só têm na cabeça a exploração e o lucro.
Por isso, cada um precisa agora de se tornar consciente e compreender como deve resolver esta questão da economia, desde logo para si mesmo, na sua própria existência.
Não é nada fácil pôr ordem na sociedade, e alguns indivíduos apenas, apesar da sua boa vontade, não podem mudar as tendências perniciosas da economia mundial.
Mas, se houver cada vez mais pessoas capazes de reflectir sobre as suas vidas e as suas actividades para as porem em harmonia com o organismo colectivo, um dia eles conseguirão fazer prevalecer o seu ponto de vista.
Quando uma sociedade põe em primeiro plano os seus interesses económicos, mesmo que ela comece por obter sucessos virá sempre um momento em que encontrará dificuldades que não soube prever.
Um exemplo: para um país que fabrica armas, nada é mais vantajoso, evidentemente, do que exportá-las.
E assim se chega ao ponto de vender todo um material cada vez mais mortífero a povos que, pelas suas lutas contínuas, põem em risco a paz e a segurança de todo o planeta.
Alguns destes povos mal sabem ler e escrever, mas isso não interessa, manda-se-lhes as armas mais perfeitas e envia-se-lhes peritos para lhes mostrar como usá-las.
Por um lado, ganha-se muito dinheiro, é verdade, mas pelo outro paga-se muito caro esses lucros, porque a seguir há imensas despesas e grandes dificuldades para pôr termo aos conflitos que surgem em todos os cantos do mundo!
No fim, fica-se perante problemas inextricáveis, porque não se reflectiu, não se previu, só se considerou as vantagens imediatas.
A economia é a ciência da previsão.
Sim, ser um bom economista não é contentar-se com soluções que talvez sejam boas naquele momento, mas depois...
E no dia em que se toma consciência de que se está comprometido com opções que se tornaram perigosas é muito difícil voltar atrás!
Vós direis: «Então, o que havemos de fazer?
A maior parte de nós não tem meios para intervir nos assuntos do país.»
Eu não digo que deveis intervir directamente, mas sim compreender que a economia não é uma questão só para os economistas, é também uma questão vossa.
Enquanto seres humanos, enquanto células de um organismo vivo, nós podemos agir, mas para isso, devemos desenvolver a nossa consciência e o nosso sentido das responsabilidades.
Se esta tomada de consciência não ocorrer, a economia, em vez de trazer prosperidade, trará ruína a muitos países.
Para se compreender a economia é preciso escutar as lições da natureza.
Diresi vós: «Mas a natureza não nos dá qualquer lição de economia, pelo contrário.
É um enorme desperdício toda a vegetação, todos os animais, todos os humanos que nascem e morrem continuamente, há milhões e milhões de anos!
Para que serviram todas essas vidas?»
Para nada, é claro, no sentido do proveito imediato que vós atribuís à palavra "servir".
Mas todas essas vidas foram úteis na economia cósmica, elas fizeram parte do ciclo da vida.
Não esqueçais que, para a natureza, a morte faz parte da vida e tudo o que morre entra na criação de outras existências.
A natureza nunca ficou atulhada pelos milhões e milhões de cadáveres de seres humanos, de animais e de plantas: eles voltam à terra para dar origem a outros seres vivos.
Mas vede as dificuldades que os humanos encontram para se desembaraçarem dos seus resíduos!
Eles fabricaram materiais e produtos que, depois de utilizados, não se decompõem naturalmente, ou que poluem a terra, o ar, a água, etc.
É inútil enumerá-los, vós sabeis quais são.
Dir-me-eis: «Mas as matérias plásticas, as pilhas eléctricas, a gasolina, a energia nuclear, etc., representam um grande progresso.»
Com certeza, eu não digo o contrário.
Mas, ao mesmo tempo que se realizava esses progressos, dever-se-ia ter reflectido nos inconvenientes que eles podiam trazer-nos.
Ora, isso não foi feito: era preciso vender rapidamente!
Os humanos puseram o progresso técnico ao serviço da sua avidez, com o risco de destruírem até as bases da sua existência na terra.
Por isso, o progresso técnico não é verdadeiramente um progresso.
Será que o verdadeiro progresso consiste em enviar engenhos para outros planetas?
E para fazer o quê, afinal?
Para explorar os seus recursos e levar para lá a mesma desordem que existe na terra?
Para combater no espaço?
Para ir semear a desordem em todo o Universo?...
Evidentemente, não há mal algum em querer explorar o Cosmos, mas não antes de se ter encontrado a atitude adequada.
Os humanos não respeitam nada, julgam-se donos do Universo, estão prontos a revolver tudo para satisfazer a sua curiosidade ou a sua cobiça.
Pois bem, eles devem saber que um dia terão de pagar muito caro esse desrespeito e essa violência.
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