quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

RUMO A UMA CIVILIZAÇÃO SOLAR


Capítulo  VI  -  O  HOMEM  À  IMAGEM  DO  SOL


                                                                                 I

Quando se olha para o Sol, o que se vê em primeiro lugar é aquele disco luminoso que tem sempre a mesma forma, a mesma dimensão, e que pode ser observado, medido, filmado.
É o seu corpo.
Mas se se quiser estudar o que sai dele, esta luz que corre, que jorra do centro para a periferia, se se quiser saber o que ela é e até onde se expande no espaço, é impossível, isso ultrapassa a imaginação.
O ser humano é construído como o Sol: tem um corpo físico determinado, imutável; mas acerca daquilo que sai dele - os seus pensamentos, os seus sentimentos, as suas radiações, as suas emanações -, o que é que se conhece?
Pouca coisa...
As pessoas têm tendência a confundir-se com o seu corpo físico, mas dentro em pouco serão obrigadas a rever todas as suas concepções e a reconhecer que só a Ciência esotérica é verídica porque tem tido em conta os dois aspectos da realidade: o aspecto objectivo, mensurável, material dos fenómenos, que não deve ser descurado, mas também, e sobretudo, o aspecto espiritual, vivo, as emanações e as radiações, cuja natureza e cujo poder ainda não são conhecidos.
Um dia, eu disse-vos: «Os planetas tocam-nos, o Sol toca-nos...», e vós ficastes espantados.
Contudo, é verdade; o Sol toca-nos de longe através dos seus raios.
E nós, que somos construídos pelo mesmo modelo que o Sol, por intermédio do nosso pensamento, da nossa alma e do nosso espírito, temos poderes que se estendem até muito longe, para além dos limites do corpo físico.
Do mesmo modo que o Sol age sobre os metais, as plantas, os animais e os humanos, que penetra, aquece e alimenta, assim também nós podemos, à distância, transformar, melhorar, iluminar e vivificar as creaturas.
Mas vamos mais longe: aquele disco luminoso que vemos no Céu, perfeitamente limitado, é o corpo do Sol.
O que emana dele, os seus raios, são os seus pensamentos, a sua alma, o seu espírito, que vão visitar a periferia para distribuir por toda a parte a riqueza e a abundância.
Quando estão descarregados, regressam ao Sol para se recarregar, e depois voltam a partir para visitar outras creaturas através do espaço.
No nosso corpo físico, o representante do Sol é o coração; tem as mesmas funções, a mesma actividade infatigável e, incessantemente, mesmo quando todos os outros órgãos se relaxam um pouco, ele continua o seu trabalho, pois o seu objectivo é um só: ajudar, sustentar, alimentar, edificar, reparar.
Não pensa senão em dar, em ser impessoal, generoso e cheio de amor.
Mas será que os humanos se aperceberam de que possuem um órgão, o coração, que é representante do Sol no seu corpo físico?

Estes raios, esta luz que o Sol envia, correspondem, portanto, ao sangue: como ele, estão cheios de tudo o que é útil, proveitoso, benéfico e salutar para todas as creaturas do Universo.
Este sangue, depois de ter depositado a sua carga de materiais nutritivos, reparadores, portadores de saúde, e de ter captado, em troca, todas as impurezas, regressa.
Mas não regressa directamente para o Sol, para o coração, passa primeiro pelos pulmões do Universo para aí ser liberto dessas impurezas.
O planeta que desempenha o papel dos pulmões é Júpiter.
A astrologia atribui-lhe mais o fígado, mas o fígado executa as mesmas funções noutro domínio: limpa e purifica também o organismo dos seus venenos.
Em búlgaro, fígado diz-se «tcheren drob» que se pode traduzir por pulmão negro, e pulmões diz-se «bel drob», pulmão branco.
Reparai que há uma aproximação extraordinária.
Em dois domínios diferentes, ambos estão encarregues da purificação.
Se bem que a astrologia atribua vulgarmente o fígado a Júpiter, eu atribuo-o antes a Saturno.
Aqui é a mitologia que pode ajudar a compreender as suas relações.
Na origem, Júpiter encontrava-se no fígado e Saturno nos pulmões, mas quando Júpiter destronou o seu pai, apoderou-se do governo dos pulmões e precipitou Saturno para o fígado.
Desde então, Saturno leva uma vida subterrânea, nas minas, tal como o fígado, que trabalha abaixo do diafragma, na escuridão e nos venenos.
Mas deixemos tudo isso e voltemos ao Sol.
A luz que sai do Sol é, pois, o seu sangue.
Estes raios, depois de terem sido utilizados pelos planetas, pelos inúmeros seres do Universo - visto que o espaço é habitado por biliões de creaturas que recebem estes raios e deles se alimentam - escurecem, perdem a sua luz, o seu calor; dirigem-se então para Júpiter, que os purifica - a Lua e Saturno participam também nesta purificação - e, finalmente, voltam ao Sol.
Em seguida, depois de ela ter sido recarregada de amor, de sabedoria e de verdade, o Sol envia de novo esta força para o espaço.
No sistema solar há, pois, toda uma circulação.
Ele é um organismo vivo que funciona graças ao Sol, o coração que bate e o alimenta sem cessar.
Eis porque o coração foi tomado como símbolo da impessoalidade, do desinteresse, do amor: porque ocupa no homem o lugar do Sol.
É o seu desejo de dar que torna o Sol tão luminoso e ardente.
Tirai a alguém o amor, a bondade, o desejo de ajudar os humanos, e o seu aspecto tornar-se-á mortiço, tenebroso.
Reparai num homem que se prepara para ir ver um amigo que está doente ou infeliz para levar-lhe presentes, dizer-lhe palavras de consolação: o seu rosto é belo, radioso.
E reparai, pelo contrário, no aspecto de um criminoso que prepara um mau golpe: ele tem um ar tenebroso, crispado, inquieto, nele já não há luz.
É preciso que compreendais esta linguagem.
Quanto mais tiverdes o desejo de esclarecer, de instruir os seres e de os ajudar, mais a luz aumenta em vós e se alarga até formar à vossa volta uma aura extraordinária, radiosa, luminosa.
É o Sol que possui os verdadeiros critérios, as medidas, as leis absolutas.
Por isso, eu não procuro instruir-me noutros livros, para mim o Sol é o verdadeiro livro.

E agora, não achais espantoso que o Sol, que dá, dá e irradia há biliões de anos, não se tenha esgotado?...
O que vós não sabeis é que no amor divino existe uma lei segundo a qual quanto mais dais, mais vos encheis.
No Universo não há vazio.
Logo que se produz um vazio, algo vem imediatamente preenchê-lo.
Esta lei aplica-se em todos os planos.
Se aquilo que dais for luminoso, resplandecente, benéfico, recebeis, do outro lado, elementos da mesma qualidade, da mesma quinta-essência luminosa e brilhante.
Mas se emanardes sujidades, imediatamente o vosso reservatório se enche de sujidades.
O Sol é inesgotável porque, no seu desejo de dar, ele enche-se.
Envia-nos os seus raios mas, ao mesmo tempo, recebe incessantemente novas energias do infinito, da imensidão do Absoluto.
Foi o que ele me explicou um dia: «Eu estou continuamente ligado ao infinito, à Divindade e, como tenho os mais puros desejos e pensamentos, atraio também as mais puras e luminosas energias.
Aprendei comigo a tornar-vos perfeitos, inesgotáveis, infatigáveis.
Tende o mesmo objectivo que eu, tende por ideal ser semelhantes a mim, trabalhar como eu e, constatareis que, quando dispendeis algumas energias para o bem dos outros, muito pouco tempo depois, de súbito, sentis-vos recarregados com novas energias.»
Como acontece isso?
É misterioso, mas tão verdadeiro!
Ao passo que se dispenderdes energias num propósito demasiado pessoal, levareis muito tempo a recuperar, a descansar, a restabeler-vos, e se, por infelicidade, ficardes doentes, talvez sejam necessários meses e anos para vos curardes.
as creaturas inspiradas pelos melhores pensamentos e pelo melhor ideal restabelecem-se sempre mais rapidamente.
Dir-me-eis, é claro, que é difícil realizar esta grandeza, esta superioridade do Sol...
Sei-o bem; mas se, de geração em geração, os homens se aperfeiçoarem, se purificarem, se espiritualizarem, obterão pouco a pouco as mesmas qualidades que o Sol: serão infatigáveis, invulneráveis, inesgotáveis e sempre radiosos.


Continua

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