O que é o fogo?
Água, água divina que regressa à sua nascente, no Alto.
Ao passo que a água terrestre não regressa à nascente; desce direita ao mar.
Também ela acaba por regressar um dia, mas através de todo um ciclo ao longo do qual tem de mudar de estado e transformar-se em vapor.
O fogo, que é à imagem do espírito, não necessita de sofrer essas transformações porque é puro, regressa directamente ao seu local de origem.
A nascente fica situada no alto da montanha e a água corre perpetuamente para baixo, para o mar.
Para poder remontar à nascente, ela tem de ser purificada, subtilizada, e é por isso que se transforma em vapor... até chegar o momento de descer novamente.
Como devemos interpretar esses dois itinerários diferentes?
Quando a água brota na montanha, é pura e cristalina; mas, à medida que vai descendo, recebe as sujidades das regiões que atravessa, porque todos os depósitos e detritos provenientes das actividades dos humanos acabam por ir parar à água das ribeiras e dos rios, e quando, após todo o tipo de peregrinações, a água chega ao mar, já está saturada de impurezas.
Mas, em breve, aquecida pelos raios do sol, ela transforma-se em vapor e retoma o caminho do céu... até que um dia, voltando a cair sob a forma de chuva ou de neve, ela se tornará de novo nascente, ribeiro, rio, e o ciclo recomeçará.
Esta viagem da água é simbólica.
O destino humano é como estas perpétuas viagens da água entre a terra e o céu.
Como gotas de água, as almas descem à terra, cada uma num lugar determinado; a partir daí, elas têm de percorrer todo um caminho até que, fatigadas, esgotadas por todos os trabalhos da vida, voltarão à região de onde vieram... para um dia, descerem de novo, num outro lugar.
A isso chama-se "reencarnação".
O ciclo das reencarnações é comparável ao ciclo da água.
Sim, e isto vai mesmo muito mais longe.
Reparai: a neve caiu no cimo da montanha, nos Pirinéus, nos Alpes... ela funde e forma-se uma torrente que desce pelas encostas até chegar ao vale, onde as águas se misturam com as de um rio e acabam por se lançar no oceano ou no mar.
O que é que se sabe acerca da viagem desta água depois de ela ter sido transformada em vapor?
Conforme o vento e as correntes, ela virá a cair um dia, como chuva, neve ou granizo, em qualquer parte do mundo, por vezes muito longe das regiões que atravessara anteriormente.
E o ciclo prossegue, interminável...
Da mesma maneira, as almas que descem à terra não reencarnam nos mesmos países nem nas mesmas condições.
Pode dizer-se, portanto, que cada país é semelhante a um rio: o leito desse rio é sempre o mesmo, mas a água que corre entre as suas margens, e que é sempre nova, vem de todos os cantos do mundo. E à medida que ela passa e prossegue a sua viagem até ao mar, outra água lhe sucede e também esta será brevemente substituída.
Sim, um país é um rio onde se encontram, durante um certo tempo, almas de uma grande diversidade que, por um decreto do destino, desceram ali: umas já vêm desse país, mas a maioria vem de outros lugares.
E há que tirar disto uma lição muito importante.
Quando alguns, em nome do amor pelo seu país, encontram justificação para desprezar ou até odiar outros países, não suspeitam sequer, pobres ignorantes!, de que numa outra reencarnação foram cidadãos desses países e tinham os mesmos raciocínios estúpidos e limitados a respeito da pátria que agora pretendem defender!...
Um país só é a nossa pátria nesta encarnação!
Quantos franceses não detestaram a Alemanha ou a Inglaterra sem pensarem que, numa encarnação anterior, foram alemães ou ingleses e que, nessa altura, tinham detestado a França!
A Bulgária, a Turquia e a Grécia lutaram entre si durante séculos, mas quantos gregos não eram reencarnações de turcos ou de búlgaros e quantos búlgaros não eram reencarnações anteriores de gregos ou de turcos!
Então?...
Esta lei é a mesma para os países do mundo inteiro e é válida também para as religiões.
Quantos católicos não odiaram e perseguiram os protestantes sem imaginar por um segundo que, numa outra encarnação, eles próprios haviam sido protestantes.
E reciprocamente...
Todos estes factos levam-nos a compreender que pertencer a certo país ou certa religião não é essencial.
A alma viaja.
Pode-se mudar de país, pode-se mudar de religião, e há seres magníficos e seres criminosos em todos eles. O essencial é aprender e aperfeiçoar-se onde quer que se esteja.
Ora, justamente para aprenderem e se aperfeiçoarem, os humanos precisam de mudar de condições, e é por isso que, em cada encarnação, a Inteligência Cósmica os coloca numa situação nova.
Mas compreenderão eles que há algo a aprender?...
A maioria nem quer ouvir falar da reencarnação.
Pois bem, tanto pior para eles!
Quanto a vós, meditai nesta lição formidável que o ciclo da água nos dá.
de OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV
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