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Mas o que significa "objectivo" e porque se desconfia tanto da subjectividade?
Ao opor-se a objectividade à subjectividade, opõe-se o mundo exterior ao mundo interior, como se, automaticamente, um devesse excluir o outro.
Mas consideremos uma imagem, para que fique mais claro.
Imaginai uma grande esfera; no seu interior, encontra-se um homem e, no seu exterior, outro.
Se interrogarmos cada um deles acerca da forma da esfera, o que está fora afirma que ela é convexa, e o que está dentro insiste em que ela é côncava.
Interpretemos: o que está no exterior é o intelecto, que se prende com o estudo do mundo objectivo, o que se encontra no interior é o coração, que dá a preponderância ao mundo subjectivo.
Quem tem a verdade?
Ambos a têm, 50% cada um; mas, como nenhum se esforça por compreender o ponto de vista do outro, sucedem-se discussões e brigas intermináveis, até que um terceiro princípio intervenha e lhes explique: «Atenção! Cada um de vós colocou-se numa situação em que só pode conhecer metade da verdade. Para a conhecerdes por inteiro, devereis colocar-vos simultâneamente no exterior e no interior.»
Perguntareis vós: «Mas qual é esse princípio capaz de lidar com tal situação? É impossível estar fora e dentro ao mesmo tempo.»
É muito difícil, sim, mas não é impossível.
Essa faculdade é dada à intuição, porque ela é simultâneamente compreensão e sensação, penetra a realidade nem relance.
Ela é capaz de reunir o intelecto e o coração, o pensamento e o sentimento, a sabedoria e o amor, a fim de conhecer a verdade.
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Quando eu falo na importância a dar ao mundo subjectivo não quero dizer, que devemos abandonar a realidade objectiva para nos deixarmos persuadir por tudo o que nos passa pela cabeça.
Não, é precisamente o contrário.
Eu sei, como vós, que, para as pessoas, a subjectividade é geralmente sinónimo de opiniões pessoais baseadas em preconceitos, em ilusões, e que podem acontecer as piores aberrações.
Para um ser que não fez qualquer trabalho sobre si próprio a fim de orientar correctamente os seus pensamentos e os seus sentimentos, o mundo subjectivo é uma floresta inextricável onde ele se perde. Mas, para quem, por um trabalho assíduo, soube ultrapassar aquela zona no seu interior, o mundo subjectivo é, pelo contrário, o da clareza, o da certeza.
Por isso, há que estar muito vigilante e adquirir o hábito de examinar os seus pensamentos e os seus sentimentos, a fim de não se entrar em descaminhos.
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Se não houver um feixe luminoso oriundo de vós, o mundo objectivo permanecerá indecifrável aos vossos olhos.
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Só podemos conhecer a verdade se nos despojarmos de todos os elementos que agem em nós como prismas deformadores.
São, pois, os nossos progressos interiores que nos permitem descobrir pouco a pouco a verdade.
Só quem chegou à perfeição pode conhecer realmente a verdade absoluta.
Até lá, vai-se patinhando nos erros e nas aproximações.
Mas todo o conhecimento passa necessariamente pela subjectividade do homem: é a sua subjectividade que ilumina ou obscurece a realidade.
OMRAAM MIKHAËL AÏVANHOV