sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O SEGUNDO NASCIMENTO

V Capítulo  (parte)
O  AMOR  OCULTO  NA  BOCA

«Em verdade, em verdade vos digo: aquele que acredita em mim tem a vida eterna.
Eu sou o pão da vida.
Os vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
Mas este é o pão que desce do Céu, para que aquele que dele comer não morra.
Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu hei-de dar é a minha carne, que darei pela vida do mundo.»
Discutiam então, os Judeus acerca disto, dizendo: «Como é que ele pode dar-nos a sua carne a comer?»
Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes da carne do Filho do homem e se não beberdes do seu sangue, não tereis a vida em vós.
Aquele que come da minha carne e bebe do meu sangue tem a vida eterna e eu ressuscitá-lo-ei no último dia.
Porque a minha carne é, em verdade, uma comida, e o meu sangue é, em verdade, uma bebida.
Aquele que come da minha carne e bebe do meu sangue permanece em mim e eu nele.
Assim como o Pai que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me come viverá por mim.»
S. João, 6: 47-58

«Aquele que come da minha carne e bebe do meu sangue tem a vida eterna.»
Comer a carne do Cristo, beber o seu sangue são, evidentemente, expressões simbólicas, e é preciso interpretá-las.
A carne e o sangue do Cristo são o pão e o vinho: o pão, que é feito com trigo, e o vinho, que é feito com uvas.
O pão é a carne e o vinho é o sangue.
O pão e o vinho são símbolos que se encontram em todas as Iniciações.
Certamente lestes no Génesis, a narrativa do encontro que Abraão teve com o sacerdote do Deus vivo, Melkhitsédek, rei de Salém: «Quando Abraão regressava, vencedor, de Kedorlaomer e dos reis seus aliados, o rei de Sodoma saiu-lhes ao encontro no vale de Chavé, que é o vale do rei.
Melkhitsédek, rei de Salém mandou trazer o pão e o vinho, pois era sacerdote do Altíssimo.
Ele abençoou Abraão e disse: "Bendito seja Abraão pelo Deus Altíssimo, Senhor do Céu e da terra!
Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos."
E Abraao deu-lhe o dízimo de tudo.»
O nome de Melkhitsédek, que significa "rei de justiça", provém do hebreu mélek, rei,
 e de tsédek, justiça.
Quanto ao nome da cidade de que ele era rei, Salém, tem a mesma raíz que a palavra
schalom, paz.
Melkhitsédek é o rei de justiça e de paz; é um personagem muito misterioso, acerca do qual se conhecem muito poucas coisas.
Só os grandes Iniciados têm alguns conhecimentos a seu respeito.
Na Bíblia, só existe uma passagem onde Melkhitsédek é mencionado, a epístola de S paulo aos Hebreus.
S. Paulo escreve o seguinte: «Foi este Melkhitsédek, rei de Salém e sacerdote de Deus soberano, que foi ao encontro de Abraão quando este regressava da derrota infligida aos reis, que o abençoou, e a quem Abraão deu o dízimo de tudo; e é, conforme o seu nome indica, primeiramente, rei de justiça e, depois, rei de Salém, isto é, rei de paz.
Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, ele assemelha-se assim ao filho de Deus e permanece sacerdote eternamente.
Considerai quão grande é aquele a quem o patriarca Abraão deu o dízimo dos despojos.»
Falar-vos-ei de Melkhitsédek numa outra ocasião.
A Santa Ceia, instituída por Jesus, repetia a entrega do pão e do vinho que Melkhitsédek fizera a Abraão.
Aliás, S. Paulo diz também que Jesus era sacerdote segundo a ordem de Melkhitsédek.
A lenda do Santo Graal está igualmente ligada aos símbolos do pão e do vinho...
Mas, neste momento, não posso alongar-me acerca destas questões, apesar de elas serem muito interessantes.
O trigo, que cresce nos campos e a uva que se desenvolve na videira, são os símbolos dos dois princípios - masculino e feminino - que se encontram em todas as Iniciações, isto é, os símbolos da sabedoria e do amor.
A vinha é o coração e o vinho é o sangue, isto é, os sentimentos.
Ao passo que o campo é a cabeça, o intelecto, e o trigo são os pensamentos.
Portanto, se comermos a sabedoria que vem do espírito e de bebermos o amor que corre do coração, teremos a vida eterna.
Só através do amor e da sabedoria se pode obter a vida eterna.
Nós comemos e bebemos, e isso faz-se através da boca.
Toda a gente tem uma boca.
Com que sabedoria a Natureza a construiu!
Quantas coisas nela estão escondidas!
Nas conferências anteriores, eu disse-vos que cada homem representa um triângulo, cujos lados são o intelecto, o coração e a vontade.
Disse-vos também que o ideal do nosso intelecto é a sabedoria divina, que o do nosso coração é o amor divino e que o da vontade é a liberdade divina; tivemos ocasião de descobrir este triângulo em toda a parte, em todos os domínios.
Expliquei-vos que os olhos representam a verdade e que os ouvidos representam a sabedoria; hoje vou falar-vos da boca, que representa o amor.
Gostaríeis de saber também o que representa o nariz?...
Contentai-vos em saber que é um resumo de todo o homem.
É um indicador comparável a um manómetro que indica a pressão de um fluido.
Permite conhecer a intensidade da luz interior no homem, a distribuição das energias...
Ele divide-se em três partes, mas eu falar-vos-ei acerca deste assunto numa outra ocasião.

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