Capítulo I
A personalidade, manifestação inferior da individualidade
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A ciência esotérica explica-nos que o homem é um ser muito complexo, muito rico, vasto e profundo e, sobretudo, que é muito mais do que aquilo que dele se vê.
E eis a grande diferença entre a ciência esotérica e a ciência oficial.
A ciência oficial diz: «Nós conhecemos muito bem o homem.
Ele é dividido em tantas partes, com tais órgãos, tais células, tais substâncias químicas que poderemos enumerar e às quais demos nomes.
É isto o homem, ei-lo inteirinho.»
Ao passo que a ciência esotérica, por seu lado, afirma a existência de outros corpos para além do corpo físico e dos quais eu já vos falei: os corpos astral, mental, causal, búdico e átmico.
E então, como a individualidade não pode manifestar-se completamente através dessas regiões tão densas, espessas e complicadas como são as da personalidade, é necessário muito tempo, muitas experiências, exercícios, estudos, durante séculos e até milénios, para que esses corpos se desenvolvam.
No dia em que eles estiverem desenvolvidos, o corpo mental ter-se-á tornado tão subtil e afinado que começará finalmente a compreender, a apreender, a captar toda essa sabedoria que a individualidade possui e que, no entanto, não pode ainda transmitir-lhe.
O corpo astral, por seu turno, será capaz de reflectir os sentimentos mais nobres e mais desinteressados.
E, finalmente, o corpo físico terá todas as possibilidades de agir, de resistir, de ser saudável.
Neste momento, a nossa personalidade, que é feita destes três corpos, age frequentemente de uma forma contrária às tendências da individualidade.
A individualidade é sempre atraída pelos melhores impulsos, mas a nossa personalidade, que quer ser independente e livre, só faz aquilo que lhe dá na cabeça, opõe-se e não obedece a nenhum dos estímulos que vêm de cima.
Apesar de ser animada, vivificada, alimentada e mantida pelo espírito, ela faz frequentemente o contrário daquilo que este deseja...
Até ao dia em que a individualidade conseguirá finalmente infiltrar-se, controlando e dominando a personalidade.
Nessa altura, a personalidade torna-se tão submissa e obediente que passa a ser una com a individualidade; é a verdadeira fusão, o verdadeiro casamento, o verdadeiro amor.
Eis precisamente aquilo a que se chama, em ciência esotérica, conseguir «juntar as pontas».
Uma dessas pontas é a personalidade, que é tripla, tal como Cérbero, o cão que tinha três cabeças e que guardava a entrada dos Infernos; a outra ponta é a nossa indivualidade (que é igualmente uma trindade), ou seja, o nosso espírito, o nosso lado divino.
Esta fusão, esta união, este casamento tão desejável tem que acontecer um dia...
Mas não se sabe quando; será diferente para cada pessoa.
E o trabalho do discípulo consiste precisamente nisso; no meio das peripécias, das variações e das tribulações da vida, ele deve conseguir submeter-se, obedecer e unir-se à individualidade, essa vontade divina que existe dentro dele, para finalmente se transformar num instrumento dócil à disposição dessa entidade suprema que é o próprio Deus.
Tudo está contido neste aspecto.
Eis aquele que foi, desde sempre, o objectivo das práticas e dos exercícios que se têm ensinado nas escolas iniciáticas.
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